Autor:
Vitor Dias / Agosto 14, 2009 / Publicado em
Vivências
Tags:
como comecei a correr,
corrida,
dean karnazes,
estádio do dragão,
família,
maratona,
motivação,
paris,
porto,
vitor dias

Foto: José Mimoso
Embora os blogs normalmente retratem a vida, os hobbies e/ou as opiniões dos seus autores, sempre evitei essa espécie de “auto-promoção” a que os mesmos nos remetem, preferindo sempre escrever artigos que interessem muito mais a todos os que correm do que propriamente de me dedicar a um certo narcisismo inusitado. Mas hoje não resisti porque estou feliz e contente e por ter decidido começar a correr com regularidade há precisamente 2 anos.
Foi a 14 de Agosto de 2007 que considero ter começado a correr. Depois de ter passado pelo futebol e futebol de salão nos tempos em que a idade dá para quase tudo e de ter por diversas vezes tentado correr com regularidade, este foi o meu dia D. A regularidade que tinha conseguido até então era correr ao domingo durante pouco mais de meia hora e penso que o máximo que consegui foram 4 ou 5 domingos seguidos. Lá voltava novamente, mas a regularidade não era coisa que eu tivesse ainda conseguido alcançar.
Não vos vou contar uma bonita história que me aconteceu naquele dia de Agosto. Foi um dia completamente normal em que num final de tarde resolvi ir correr. Foram 34 minutos, 5 Kms percorridos desde casa até ao Estádio do Dragão, 3 voltas ao mesmo e regresso a casa, com a média de 6,18 min/Km e os “bofes” a saír pela boca fora. Este dia tem a particularidade de ser véspera de feriado, o que facilitou o facto de eu correr pela primeira vez em dois dias seguidos, que por acaso acabaram por ser três. As dores musculares não me impediram de prosseguir e embora não tenha prosseguido a regularidade daqueles 3 dias, corri naquele mês de Agosto 31 Kms, o que era muito para quem estava parado há muito tempo e pesava quase 80 Kgs. No mês seguinte corri quase o dobro e numa das vezes completei pela primeira vez 10 kms sem parar. Eu sabia que a evolução tinha que ser lenta e assim o fiz. Por vezes tinha vontade de correr mais depressa mas fui paciente. Correr sozinho, principalmente no início, pode não ser boa ideia e aqui assumiu papel principal o meu amigo José António. Obrigado Zé. Se não fosses tu, se calhar eu ainda pesava perto de 80 Kgs e provavelmente iria continuar a participar nas caminhadas e continuar a ficar espantado como é que conseguias fazer meias maratonas.
A partir daqui comecei a despender mais tempo a ler sobre corrida do que propriamente a correr. Livros, revistas e internet, valia de tudo. Nesta vertente foi essencial para mim ler o livro que o meu amigo Paulo Rodrigues me emprestou. Foi o livro o “Ultramaratonista” de Dean Karnazes, assinado pelo próprio e que o Paulo o guarda quase que religiosamente. Li este livro num só dia. Soube mais tarde que isso aconteceu com mais do que uma pessoa. Eu afinal era uma pessoa normal, ou então os outros também são malucos. Mal eu imaginava que um ano depois iria poder estar a falar com esse “monstro” das corridas.
Para além de ter tido essa bela ideia de ter começado a correr, tive outra que foi registar todos os meus treinos e provas. É um enorme aliado na motivação. Parece uma coisa complicada mas com a ajuda do SportTracks e do meu Garmin, tudo se torna simples.
5000 Kms de prazer
Foram mais precisamente 5080 quilómetros percorridos no decorrer destes 2 anos (324 Km em 2007, 2814 km em 2008 e 1942 no presente ano). Quilómetros de prazer, de suor, de conquistas, de lesões, de lugares que desconhecia, mas essencialmente de pessoas que foram surgindo no meu caminho. Amigos, colegas ou ilustres desconhecidos com quem meto conversa, são o melhor que a corrida nos proporciona.
A família
A minha família corre comigo. Não ao meu lado, mas está sempre presente. Se não fosse ela eu não corria. Todos os que correm sabem bem o esforço que as mesmas fazem com a nossa ausência. Faltamos horas a fio em treinos e provas, privando-os da nossa presença e não fazendo muitas vezes o que por vezes nos está incumbido devido “á maldita da corrida”. Mas se a “maldita” nos completa e faz felizes, a família mais tarde ou mais cedo compreenderá. A minha cedo compreendeu, ao ponto de não me faltar alguns miminhos como as “pasta party’s at home” ou a aletria que tanto gosto na véspera de provas ou treinos longos. Quando fiz um ano de corrida, até bolo de aniversário surpresa houve. Se calhar hoje também vai haver…
Pontos altos
Apesar de ter sido apenas há dois anos, cada dia e cada prova, sendo elas corridas com prazer, tornam-se elas mesmas em pontos altos, quanto mais não seja depois de terminadas e quando as endorfinas tratam de percorrer o nosso corpo cansado e nos dão a sensação de prazer que nem quem corre consegue realmente explicar. Nunca ninguém esquece o momento em que cortou a meta na sua primeira maratona. Eu não sou excepção e o concretizar da minha primeira maratona e a viagem e estadia para Paris a propósito da minha participação na maratona daquela cidade são boas recordações de quem nunca lhe passou pela cabeça alguma vez alcançar.
Resta-me agradecer a todos que me têm acompanhado, sem referir nomes para não me esquecer de ninguém, pois são tantos os amigos e colegas de pelotão, aos quais eu espero retribuir da forma que sei e posso.
Por fim termino com a adaptação de uma frase de Almada Negreiros (ele referia-se a livros): Corram por prazer porque a vida é muito curta para as corridas todas que queremos correr.
Sobre Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 62 maratonas em 17 países. Cronista em
Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em
Porto Canal.
Site Oficial:
www.vitordias.pt
21 Comentários