A melhoria da performance desportiva é um objectivo honesto e plausível da suplementação. No entanto, dos vários suplementos disponíveis no mercado poucos têm efeitos comprovados nos principais marcadores do desempenho físico: resistência, força, velocidade e ganho de massa muscular. A creatina foi o primeiro suplemento alimentar a ser reconhecido como ergogénico e ainda hoje é dos mais utilizados, no entanto será que pode fazer algo na melhoria dos índices de corrida?
O que é?
A creatina é uma proteína naturalmente existente no corpo humano que constitui uma fonte de energia alternativa instantânea, sobretudo em esforços de curta duração e explosivos.
Procurando explicar de forma muito simples o metabolismo energético, os nutrientes presentes nos alimentos sofrem várias reacções e produzem numa etapa final adenosina tri-fosfato (ATP), a fonte elementar de energia química. Quando essa energia é libertada (ou consumida para um esforço) o ATP transforma-se em adenosina di-fosfato, ou seja, perde um fosfato.
A creatina, presente no músculo sob a forma de fosfocreatina, doa um fosfato ao ADP permitindo a (re)síntese de ATP e uma nova reserva energética para o esforço seguinte.
Esta “ajuda” é especialmente útil para esforços de curta duração e explosivos, uma vez que a reserva de fosfocreatina é limitada e esta reacção não é muito eficaz. Talvez por isso, este suplemento se tenha vulgarizado junto dos desportos de força como o halterofilismo.
Nesse sentido, a creatina permite ao atleta um “último fôlego” o que pode trazer benefícios sobretudo em força, potência e massa muscular.
Posologia e fórmulas
A creatina é mais frequentemente tomada sob a forma de monohidrato de creatina, a dosagem recomendada é de 0,3g/kg de peso/dia durante 3 dias seguidos de 3-5g/dia durante o mesmo período de tempo.
Devido a algumas queixas de retenção de líquidos subcutânea e ao risco de dano renal pela rápida degradação da creatina em creatinina, foram desenvolvidos novos produtos de creatina com dosagens inferiores e uma absorção distinta. Um dos melhores exemplos é a conhecida creatina alcalina (kre-alkalyn) que teoricamente não provoca retenção de líquidos e é mais apropriada em esforços de longa duração devido à sua capacidade de diminuir a produção de ácido láctico.
A utilização na corrida
Devido às características do tipo de esforço, predominantemente aeróbio dada a sua longa duração, a creatina é pouco útil na corrida de meio-fundo e fundo.
No entanto, alguns atletas que pretendam melhorar a sua força e velocidade poderão beneficiar da suplementação com creatina na preparação para provas mais curtas (5,10km) devendo para isso ter o cuidado de programar os treinos em função dessa especialização.
Vários têm sido os atletas que se queixam de complicações gastrointestinais com a toma de creatina, tendo isso em consideração comece sempre com uma dosagem baixa e preferencialmente depois dos treinos (para repor as reservas) para testar a sua tolerância. Dadas as características dos produtos, a creatina alcalina seria uma hipótese mais plausível mas uma dosagem baixa (até 2g) de creatina monohidrato pode ser igualmente uma opção viável.
Referência
Sobre Filipa Vicente
Nutricionista (CP1369N) e Professora universitária (IUEM). Escreve para o Correr Por Prazer desde a sua criação em 2008. É essencialmente uma facilitadora de escolhas na busca da melhor versão de nós mesmos. Site oficial:
https://nutrium.io/p/filipavicente/blog
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