Maratona de Cracóvia – Crónica

Posted by Vitor Dias  /   May 20, 2014  /   Posted in Crónicas
Tags: Aushwits, Birkenau, cracóvia, maratona, polónia

Maratona de Cracóvia - CrónicaRealizou-se no passado domingo a 13ª Edição da maratona de Cracóvia onde participaram 3 portugueses. Estivemos lá e contamos-lhe as incidências e dicas acerca de uma prova que tem muito mais do que uma simples maratona para correr.

Alterações de última hora anunciadas pela organização alegando obras na cidade, fez com o trajecto da prova se realizasse num circuito de 21 km, o que obrigaria os atletas a percorrer o mesmo duas vezes. Não existe neste evento outras distâncias alternativas, só mesmo a maratona. O percurso pelo centro histórico é bonito e com muito público a apoiar, o mesmo não acontecendo na maioria do trajecto, que embora não sendo feio, pois passa em parques verdejantes mas com muitas rectas a fugir de vista, com a agravante do atleta saber que terá que ainda voltar lá novamente. Para quem gosta de conhecer uma cidade a correr, esta prova perde desde logo o seu encanto.

Cracóvia é uma cidade muito bonita, cidade onde nasceu e viveu o Papa João Paulo II e onde o seu nome consta por todo o lado, incluíndo o nome do aeroporto. Tem um centro histórico encantador, com ruas sem tráfego, uma catedral absolutamente extraordinária e um castelo que vale a pena visitar. Não é por acaso que esta cidade foi a primeira do mundo a ser considerada património mundial da humanidade pela UNESCO.

Voltando à prova, é exemplarmente bem organizada. Sem confusão no início apesar dos mais de 8.000 atletas inscritos, embora terminassem a mesma “apenas” 5.400 corredores.

Os km durante o percurso estão rigorosamente bem marcados. Os abastecimentos eram os que estavam anunciados mas não estavam nos locais anunciados. Estavam sempre antes dos km múltiplos de 5, o que a determinado ponto se torna confuso a quem leva tudo muito bem estipulado. Não são maus os abastecimentos e decorrem de ambos os lados da estrada e durante uma extensão muito considerável. A água e isotónicos servidos ao copo são entregues em mão por cerca de 30 ou mais jovens, muito simpáticos e com palavras de incentivo aos atletas, embora a única coisa que se consiga perceber sejam as palavras bravo e super 🙂

António Castro – um português que dignifica o seu país natal

Fomos a Cracóvia, eu e o Luis Sousa Pires que completou naquela cidade a sua 104ª maratona, a primeira em território polaco. Fomos a convite do comendador António Castro, radicado em Cracóvia há 16 anos. Fomos recebidos de forma principesca pela sua simpática família, verdadeira embaixadora da cultura polaca mas rendida à cultura e gastronomia portuguesa, com a qual fomos surpreendidos a cada hora de estadia.

Maratona de CracóviaAuschwitz-Birkenau

Vale a pena vir a Cracóvia nem que seja exclusivamente para vir a este local. Todo o ser humano deveria de visitar Aushwits e Bikernau. “O trabalho liberta”, talvez seja a placa de entrada mais célebre do mundo, pena ser pela pior razão. O semblante dos visitantes diz tudo. Já vi funerais mais alegres. O silêncio é sepulcral. Há gente a chorar e não se admire que lhe possa acontecer o mesmo. Tudo aquilo que aprendemos na escola, lemos em livros ou vimos em filmes é muito pouco ao que ali se vê e sente. Colocar a mão num beliche onde estiveram milhares de seres humanos condenados à morte sem que nada tenham feito para o merecer, entrar numa câmara de gás, ter os pés assentes nos carris onde milhares de famílias foram separadas à chegada, despojados de todos os seus bens, sujeitos a trabalhos forçados até que a sua hora de seguir para as câmaras de gás chegasse. Alguns foram os (se calhar felizardos) que finaram no dia da chegada. Tudo o que se possa escrever sobre o holocausto é pouco para explicar o que ali se vê. Importa apenas dizer que a visita à Polónia se justifica nem que seja exclusivamente para a visitar este local. Há autocarros com viagens directas e exclusivas para Auschwitz e kybernau a preços acessíveis. São cerca de 70 km de distância do centro de Cracóvia. A Polónia faz parte da únião europeia mas não aderiu ao euro. A moeda é o zlot mas aceitam euros em muitas lojas. O salário mínimo ronda os 350€ e um Menu Big Mac custa 16 zlots (+- 3,80€).

Voltando à maratona, o percurso é plano, quase sempre em alcatrão, salvo na passagem das pontes do rio Vistula e no centro histórico que é empedrado. A feira da maratona decorre no estádio do Wisla Cracóvia. Não é uma expo grande. Há uns 30 stands de marcas e provas, sem grandes novidades. É possível a inscrição até à véspera da prova, perdendo neste caso o direito a dorsal personalizado com o seu nome. A camisola da prova e a medalha são muito bonitas.

Existe a possibilidade de entrega dos pertences no local da chegada em saco cedido pela organização. Este serviço é muito bem organizado e sem confusão. Existe ao lado uma grande tenda para descanso dos atletas e serviço de massagens.

O atleta é bem tratado, tanto durante a prova como após a mesma. Há uma espécie de heroísmo a quem termina a mítica distância. Passear pela cidade de medalha ao peito é usual e acolhe a simpatia de lojistas e população local.

Em resumo, a maratona de Cracóvia peca pela repetição do percurso. É uma prova bem organizada, numa cidade histórica que vale a pena visitar, com passagem obrigatória por Auschwitz.

About Vitor Dias

Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 61 maratonas em 17 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt
Corrida Popular da Costa Nova do Prado

Comments are closed.

X