Sabia que cerca de 50% do nosso peso corporal é constituído por tecido muscular? E que este está dividido em 400 músculos diferentes, todos eles envolvidos e interligados pela fáscia muscular (uma fina camada de tecido conjuntivo)?
Portanto o surgimento de contraturas musculares (trigger points em inglês) é extremamente comum e acontecerá a todas as pessoas em alguma altura da sua vida. No entanto, a razão porque elas ocorrem ainda é pouco conhecida, mesmo no meio desportivo.
O que acontece é que, mesmo em repouso, cada músculo possui um tónus muscular de base, quase como se fosse um elástico que tem sempre uma ligeira tensão, como forma de estar preparado para actuar mais rapidamente, sempre que for solicitado. Este tónus é conseguido à custa da activação de um pequeno número de fibras musculares, com uma localização dentro de cada músculo relativamente comum a todas as pessoas.
As contraturas musculares (pontos específicos localizados no músculo, que se assemelham a um nódulo e que são extremamente sensíveis à palpação) consistem na contracção involuntária e permanente de algumas fibras de um feixe muscular, o que pode dar dor no próprio local ou dor referida noutra parte do músculo, devido à tensão excessiva aplicada sobre a fáscia muscular que recobre esse músculo.
A razão para o aparecimento das contraturas ainda não é totalmente conhecida, mas sabe-se que alguns factores aumentam a probabilidade de as desenvolver:
- Má postura e o mau gesto técnico
- Stress psicológico
- Falta de flexibilidade e a rigidez muscular
- Fadiga generalizada
Sabe-se também que os músculos mais ligados à manutenção de posturas, constituídos maioritariamente por fibras do tipo I, são mais propensos a desenvolver contraturas musculares. Assim, supõe-se que as contraturas musculares se devem muito mais a posturas incorrectas e maus gestos técnicos/desportivos do que propriamente ao excesso de esforço, origem mais frequente de micro-rupturas e rupturas musculares, assunto que abordaremos no próximo artigo.
Entre as zonas mais afectadas estão geralmente: a região da base do pescoço, entre as omoplatas, ao fundo das costas e na região do nadegueiro.
Esteja alerta para os seguintes sintomas
- Dor e tensão localizadas num ponto muito específico do músculo, que agravam à palpação.
- A presença de um nódulo muscular perceptível à palpação
- A dor pode irradiar, principalmente quando a contratura é pressionada
- Limitação da amplitude de movimento e força muscular por dor
Diagnóstico
Uma boa avaliação, incluindo uma história clínica e exame atento do tecido muscular são geralmente suficientes para identificar uma contratura muscular. No entanto, é importante notar que esta condição normalmente surge na sequência de outras patologias ou disfunções, pelo que a identificação e tratamento dessa causa subjacente é essencial para garantir uma reabilitação óptima, com risco reduzido de recidivas.
Tratamento
A maioria dos pacientes com esta condição reage bem ao tratamento com fisioterapia. O primeiro objectivo do tratamento será identificar e tratar a patologia que está a causar o aumento da tensão miofascial e consequente formação de contraturas musculares. Assim, poderão ser utilizadas:
- Técnicas de correcção de desequilíbrios musculares, de fortalecimento e alongamento (como PNF e RPG)
- Correcção de más posturas e reeducação postural activa, através de RPG.
- Avaliação do padrão de marcha e aconselhamento sobre palmilhas de compensação para correcção de dismetrias ou de alterações morfológicas do tornozelo e pé.
Muitas vezes estas alterações são suficientes e não chega a ser necessário o trabalho directo sobre o músculo, no entanto, quando o é, poderão ser utilizadas as seguintes técnicas:
- Ionização e aplicação de ultra-sons
- Aplicação de calor local (com panos húmidos, não mais de 20 minutos e desde que não hajam sinais inflamatórios evidentes)
- Massagem e mobilização dos tecidos afectados e a toda a extensão da fáscia
- Alongamentos localizados dos músculos afectados
- Estimulação eléctrica neuro-muscular, que terá melhores resultados se aplicada com um sistema de biofeedback.
- A acupunctura poderá ser benéfica no alívio da dor localizada
Exercícios terapêuticos para uma contratura muscular
Os seguintes exercícios são apenas exemplos e podem ser prescritos durante a reabilitação de uma contratura, dependendo do músculo/grupo muscular afectado. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição de não causarem ou aumentarem os sintomas.
Correcção postural da cervical e ombros
Em pé ou sentado, rode os ombros para trás e para baixo, enterre o queixo e imagine que tem uma linha a puxar-lhe o topo da cabeça. Mantenha esta posição durante 20 segundos. Repita entre 8 a 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Alongamento da cadeia posterior
Sentado, com a perna a alongar esticada. Tente chegar com as mãos o mais abaixo possível. Mantenha essa posição por 20 segundos. Repita entre 3 a 6 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Antes de iniciar estes exercícios deve sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.
Referências:
Majlesi J, Unalan H. Effect of treatment on trigger points. Curr Pain Headache Rep. 2010 Oct;14(5):353-60.
Lavelle ED, Lavelle W, Smith HS. Myofascial trigger points. Med Clin North Am. 2007 Mar;91(2):229-39.
Autor: João Maia – Fisioterapeuta
Fonte: www.fisioinforma.com