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Azores Trail Run por dentro e por fora – crónica de um ansiado regresso ao triângulo

Autor: Joao Meixedo  /   Junho 06, 2015  /   Publicado em Crónicas, Slider

capelinhosSentado em busca de concentração sinto a mente vaguear e com ela aparentemente também o corpo. Sinto-o balançar. Sinto-me balançar. Olho as pernas e confirmo a imobilidade.

Desisto. Entrego o comando. Estou na Caldeira a marcar o trilho debaixo de um cerrado nevoeiro. Levanto os olhos e não vejo a bandeirola seguinte. Volto a cabeça em direcção a um ruído de passos e adivinho o Delcio num vulto que a pouco mais de três metros se aproxima, carregando um molho de canas.

Volto a sentir o balanço das pernas e estou agora em alto mar na companhia de inestimáveis companheiros capitaneados pelo comandante Hélder Bacalhau e contramestre Dulce: a melhor, e seguramente a mais acolhedora, dupla de pescadores do Faial. Sinto a maresia enquanto perscruto o horizonte em busca de um bando de cagarros ou de um grupo de delfins, seguros indicadores da presença de pescado. Descanso as pernas sentando-me agora na proa e quase tocando os golfinhos que nos acompanham. Os salpicos passam a chuveiro, mas eu recebo-o como poção mágica destinada a contrariar o sono de uma noite dormida à pressa entre as 2 e as 6 da manhã. Estendo-me cerimoniosamente no convés tentando distender os músculos e aquecer as carnes aos primeiros raios de sol da manhã.

Fecho os olhos e passo o dia anterior à pescaria em revista, recordando a beleza e a dureza dos primeiros quilómetros, percorridos a ritmo controlado, contrastando com a impaciência de atletas mais jovens que atacavam as subidas com se o mundo estivesse a fugir-lhes debaixo dos pés, para logo em seguida se lançarem furiosamente ladeira abaixo.

Lembro-me de alargar a vista até ao horizonte e de ficar inebriado com o verde das ímpares encostas do Faial. O farol da Ribeirinha lá ao longe e o Pico no horizonte, do outro lado do Canal, sempre envolto numa misteriosa e irrequieta bruma que no seu jeito provocador ora destapa um flanco para nos revelar mais uma porção do contorno desta magnífica montanha adormecida, ora cobre um outro fragmento que ainda há pouco estava perfeitamente a descoberto.

Revivo rostos e conversas, com o Vitor e os Migueis como denominador comum, donos de impagáveis humor e boa disposição com que tive o privilégio de uma vez mais partilhar uma aventura do primeiro ao último metro.

Atacamos agora a subida à Caldeira mais parecendo um grupo multicultural de excursionistas que vai rindo e trocando experiências à medida que se vai debatendo com estes longos e íngremes “esses” que nos despejarão na bordadura do vulcão. Mais do que demonstrador de boa disposição, o riso é sinónimo de uma felicidade sem igual.

Revivo a chegada ao abastecimento que antecede a bordadura da Caldeira, onde somos saudados como heróis, como se a prova estivesse já concluída. Gente boa, muito boa, ao longo de toda a prova. Uma organização inexcedível, composta por voluntários de todas as idades. Rostos que jamais esquecerei. Despedimo-nos deste como de todos os pontos de abastecimento, com a habitual exclamação do Miguel: “vamos embora, se não há cerveja não estamos aqui a fazer nada”

Cerveja não faltaria à chegada. Nem cerveja nem uns magníficos carapaus de escabeche, com que eram presenteados todos os atletas assim que cruzavam a linha de meta, após mais uma épica chegada aos Capelinhos, para onde o meu pensamento me transporta de imediato, e onde me vejo a cortar a meta na companhia dos três companheiros com quem partilhei a aventura. Do lado de lá da linha estão os incansáveis Mário Leal e João Melo, os grandes obreiros deste evento de excelência a quem manifesto a minha gratidão por me concederem o privilégio de uma vez mais fazer parte desta tão especial família, recebendo os atletas um a um. Recordo o mergulho nas frias águas do Atlântico poucos minutos após a chegada, mas apenas após ter aviado uns quantos carapaus regados com cerveja.

A noite, terminada no Peter’s, foi destinada a celebrar a façanha desse dia: quarenta e oito quilómetros de permanente celebração do privilégio de estar vivo, ao longo da mais bela prova em qua alguma vez participei. Oito horas para percorrer 800 mil anos desde a parte mais antiga do Faial até à mais recente da Europa.

Foto: José Macedo

1º de Maio: todos à praça! … ou então ao parque

Autor: Joao Meixedo  /   Maio 02, 2015  /   Publicado em noticias, Slider

parque da cidade portoTudo começou quando, em 2010, Luís Sousa Pires, Pedro Amorim, João Mota Freitas, José Carlos Costa e António Conde, aquando da preparação para a sua participação na famosa Comrades decidiram que, nos fins-de-semana que antecedessem a partida para a África do Sul, correriam uma maratona, oficial ou através de treino longo com distância mínima de 42km. Ler Mais

Primeiro entranha-se, depois estranha-se

Autor: Joao Meixedo  /   Maio 01, 2015  /   Publicado em Slider, Testes (reviews)

puma igniteO presente artigo de análise e revisão técnica é fruto de uma parceria Correr Por Prazer / TSF Runners / Sport Zone. Pode ouvir mais aqui.

Abro a caixa e sigo o costumeiro ritual: miro, apalpo, cheiro, dobro, torço, pouso e observo-as de todos os ângulos. Volto a pegar, apalpo, volto a cheirar e finalmente calço-as. Ler Mais

Skechers Go Run 4

Autor: Joao Meixedo  /   Abril 02, 2015  /   Publicado em Slider, Testes (reviews)

skechers go run 4Pantufas

Se tivesse de escolher uma palavra recairia sobre este substantivo a minha escolha para classificar as SKECHERS GO RUN 4. Não obstante tratar-se já de uma imagem de marca transversal a outros modelos por nós testados, é sempre com renovada surpresa que ao retiramos da caixa estas sapatilhas nos apercebemos da sua leveza (desta vez não resistimos e fomos pesá-las: 230g). Uma vez calçadas, a sensação é a resumida pelo título deste artigo. Ler Mais

Será a corrida uma actividade contra-natura?

Autor: Joao Meixedo  /   Março 29, 2015  /   Publicado em noticias, Slider

bosquimanosSe por um lado é óbvio que a forma ancestral básica de deslocação do ser humano é caminhar – motivo pelo qual há vozes que defendem que a corrida é contra-natura – não é menos verdade que a partir do momento em que este se encontre com pressa, a caminhada de imediato se transforma em corrida. Atente-se ao tradicional exemplo da caça, quer no papel de caçador quer no de potencial presa. Ler Mais

7 da matina em Portugal continental e em Gondramaz …

Autor: Joao Meixedo  /   Janeiro 30, 2014  /   Publicado em Crónicas, Crónicas dos Leitores

7 da matina em Portugal continental e em Gondramaz ..... passeio-me em silêncio pelo meio da nuvem que ontem desceu para nos cumprimentar e que por aqui foi ficando. Desço a Rua da Picada, que ontem à tarde atravessei correndo por volta do km 38, e verifico que as fitas de balizagem ainda por aqui se mantêm, bailando indolentemente ao ritmo da ligeiríssima brisa que se faz sentir. Ler Mais

ON-RUNNING – A revolução está na rua

Autor: Joao Meixedo  /   Fevereiro 25, 2013  /   Publicado em Testes (reviews)

Ao contrário do que é habitual, naquela sexta-feira de manhã encontrava-me em casa, pelo que pude receber directamente das mãos do transportador a encomenda recém-chegada da Suíça.

Batida a porta, pouso cerimoniosamente o pacote em cima da mesa e abro-o com o idêntico cuidado e excitação com que em criança procedia a semelhante tarefa na madrugada de 25 de Dezembro. Ler Mais

III Trilho dos Abutres – que faço eu aqui?

Autor: Joao Meixedo  /   Janeiro 31, 2013  /   Publicado em Crónicas, Crónicas dos Leitores

III Trilho dos Abutres - que faço eu aqui?Ouço a lenha a crepitar e sinto o confortável calor emanado a curta distância, ainda assim baixo os olhos e confirmo que não tenho os pés mergulhados numa bacia com água. Levanto os olhos e concentro-me novamente no assunto em debate. De passagem deito um olhar ao chouriço que continua a assar demoradamente, indiferente ao que se passa à sua volta. Ler Mais

Correr para crer

Autor: Joao Meixedo  /   Novembro 14, 2012  /   Publicado em noticias

Correr para crerÉ notório o recente crescimento de popularidade da corrida entre todas as faixas da população, sendo a presença massiva de pessoas nas provas de estrada uma prova desse facto, o que não explica, no entanto, o seu aparecimento. Ler Mais

Ponta a Ponta

Autor: Joao Meixedo  /   Setembro 18, 2012  /   Publicado em Crónicas, Crónicas dos Leitores

Ponta a PontaCerimoniosamente curvo-me para me descalçar, após o que me sento num rochedo e mergulho os pés no Atlântico. Só então lanço um último olhar ao gps, antes de o desligar e o retirar do pulso, não sem antes confirmar uma vez mais a extensão da aventura: 67km solitariamente percorridos ao longo de todo o dia, desde a Ponta dos Rosais até ao Topo.

São agora cinco da tarde e um turbilhão de imagens assalta-me a memória recente e passa à frente dos meus olhos, mesmo quando mergulho totalmente no Atlântico e me deixo arrastar pela ondulação. Ler Mais

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