Ao contrário do que é habitual, naquela sexta-feira de manhã encontrava-me em casa, pelo que pude receber directamente das mãos do transportador a encomenda recém-chegada da Suíça.
Batida a porta, pouso cerimoniosamente o pacote em cima da mesa e abro-o com o idêntico cuidado e excitação com que em criança procedia a semelhante tarefa na madrugada de 25 de Dezembro.
Saem primeiro as Cloudsurfer e logo em seguida as Cloudrunner. Lindas! São lindas! Agarro e pouso alternadamente ambos os modelos numa sequência infindável. Apalpo, cheiro, observo-as de todos os ângulos; apalpo bem as “nuvens” e espreito pelo meio das mesmas. Agarro a máquina e fotografo. Calço primeiro as Cloudrunner e em seguida as Cloudsurfer. Agora calço um modelo em cada pé. Fotografo.
Sempre que um amigo, que começou ou que quer começar a dar os primeiros passos na corrida, me aborda no sentido de indagar qual o melhor modelo ou marca de calçado para correr, começo invariavelmente por responder: “esquece a parte estética”. Algo está, provavelmente, errado quando as empresas que idealizam fabricam e comercializam um produto cujos parâmetros técnicos estão no centro da sua concepção, apoiam o seu sucesso comercial em departamentos de marketing que se centram essencialmente, nos aspectos estéticos e de moda.
A marca ON-RUNNING deve o seu nascimento a uma aposta em contrariar essa lógica puramente mercantilista. A história da ON começa com o triatleta suíço, e três vezes campeão mundo, Olivier Bernhard, o qual procurava uma forma de ultrapassar uma serie de lesões que regularmente o atormentavam, especialmente a nível dos joelhos, e que ele atribuía à falta de amortecimento e apoio no calçado de corrida disponível no mercado.
Em vez de se resignar, Bernhard, juntamente com dois amigos, lançou-se no ambicioso desafio de conceber um novo tipo de calçado de corrida. Após o desenvolvimento e teste de um sem número de protótipos, apoiados numa pesquisa de âmbito mundial, chegaram àquilo a que baptizaram de “amortecimento inteligente”.
As ON-RUNNING são leves funcionais e elegantes; mas a sua genialidade assenta nas pequenas “nuvens” de borracha distribuídas ao longo da sola, formando uma sola externa composta por uma cama de pequenos favos de borracha moldados e alinhados ao longo da sola. Cada “nuvem” é concebida por forma a colapsar sob pressão, absorvendo as forças verticais e horizontais de modo a proporcionar um impacto perfeitamente suave.
Após o impacto as “nuvens” bloqueiam firmemente, providenciando ao corredor, no instante seguinte, uma base sólida pronta a ser empurrada e a fornecer a melhor tracção e o mais eficiente uso da energia de impulsão.
Este sistema, patenteado com o nome CloudTec, apresenta-se como enormemente vantajoso perante os principais concorrentes pois combina aquilo que o calçado convencional de corrida tem sido incapaz de unir: um perfeito amortecimento no momento do impacto e uma base sólida no instante da impulsão.
Ao correr na estrada com as minhas Cloudsurfer experimento a sensação até hoje inimaginável de aterrar num piso de terra húmida seguida de uma impulsão em piso duro. Recebi-as pouco antes da Maratona de Sevilha pelo que fiz apenas 3 treinos, num total de 50km, após o que me atrevi a experimentá-las na distância rainha. Não poderia ter feito melhor aposta. Corri com as palmilhas de origem, o que no meu caso é novidade, pois desde há alguns anos que utilizo sempre palmilhas de amortecimento, quer em treino quer em prova, na estrada ou na montanha.
Ontem, após ter registado o meu melhor tempo dos últimos 4 anos na maratona, conduzi 700km de regresso a casa. Hoje já corri 1h30min, para não deixar o ácido láctico fazer das suas, e o que vos posso dizer é que após alguns milhares de quilómetros corridos nos últimos anos, com calçado topo de gama com reforço de pronação sempre equipadas com as tais palmilhas de amortecimento de uma sobejamente conhecida marca, nunca me senti tão bem quer durante quer após uma maratona de estrada. Sensação que é extensível ao dia seguinte. Estou literalmente como novo.
Afinal sempre é possível ter o melhor de dois mundos.
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