A conferência de imprensa em que Ronaldo desviou duas garrafas do refrigerante mais conhecido (e ingerido) em todo o mundo fez correr muita tinta nos media e tem vindo a gerar alguma discussão sobre se é saudável ou não beber este tipo de bebida, mesmo que na sua versão zero açúcar.
Inclusivé, alguns grupos de facebook chegaram a questionar se não seria até melhor que muitos leites achocolatados. Uma coisa é certa, esta bebida é uma presença comum nos abastecimentos e muito desejada entre corredores sobretudo em distâncias ultra. Porquê?
Coca-cola há só uma mas encontramos uma grande variedade de refrigerantes de extratos vegetais no mercado com noz de cola, uma castanha oriunda de África, fonte de cafeína e que era muito utilizada como estimulante e pelo seu efeito digestivo. A bebida refrigerante em si, nas suas mais variadas marcas, tem na sua composição:
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Água gaseificada (98%)
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Dióxido de carbono
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Corante de caramelo
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Um edulcorante: com valor energético (açúcar) ou não (aspartame, acessulfame, sucralose)
O valor energético da variante regular ronda as 40kcal/100ml, provenientes de hidratos de carbono e concretamente de açúcar (7-8g/100ml). A preocupação constante com a ingestão de açúcar levou à criação das variantes “zero” e como tal encontramos as versões sem valor energético porque o açúcar é substituído por “adoçantes” sem valor energético como o aspartame ou a sucralose. A marca mais poderosa deu-se ao luxo de ter no mercado, durante alguns anos, duas variantes de “cola” sem açúcar com dois adoçantes diferentes para agradar ao paladar de diferentes consumidores: a light e a zero. Atualmente apenas encontramos uma versão.
Mas então se retirarmos o açúcar, porque querem os atletas beber cola?
Em primeiro lugar, poderíamos sugerir que era pela cafeína (8mg/100ml) sabendo que é um poderoso estimulante que reduz a percepção de esforço e atrasa a fadiga1.
Mas seriam necessários 2,5l de refrigerante para ter uma dose considerada ergogénica para um atleta de 70kg2.
Sobre o teor de hidratos de carbono, é mais uma opção uma vez que o teor é muito similar ao das bebidas desportivas ainda que a sua tolerância seja questionável pela combinação da frutose e os seus possíveis efeitos adversos no intestino.
Na verdade, a resposta parece estar no sódio e talvez por isso a versão “zero” possa até ser mais vantajosa uma vez que tem pelo menos 40mg/350ml enquanto a versão original tem 18mg/350ml.
Pode salvar uma prova?
Sim, pode evitar a hiponatrémia pode afetar até 60% dos atletas de provas ultra em esforço3. Já falamos antes aqui dos riscos de beber água em excesso e das consequências que pode ter este défice de sais minerais.
Mas não faz mal?
A grande questão de fundo que devemos debater é se é necessário. Não é um alimento/bebida que seja necessário ingerir só pelo sódio. Não tem valor nutritivo que justifique a sua inclusão na alimentação do corredor mas pode ser um “aditivo” nos abastecimentos de uma prova em que esteja a falhar a energia e o estômago. E, à semelhança de outros truques, não recomendamos que teste em prova o que nunca provou em treino, embora possa fazer 1 ou 2 provas em que teste este elixir.
Muitos abastecimentos incluem outras fontes de sódio como bolachas de água e sal, batatas fritas, snacks tipo pretzels, presunto, etc. Tudo alimentos que na sua quantidade certa, bem encaixados no seu planeamento podem fazer a diferença quando corre mais de 42 km em condições climatéricas adversas.
Mas numa coisa, o melhor do mundo tem toda a razão: não devemos aconselhar a inclusão de qualquer tipo de refrigerante no dia a dia, mas sim encorajar a ingestão de água como bebida de eleição.
Referências relevantes
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Sports Med 2018; 48(8): 1913-1928
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Sports Med.2014; 44(Suppl 2): 175–184
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Nutrients 2018, 10(12), 1995;