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Isto é (um bocadinho da) Freita

29 km, 290 ideias para uma crónica. Sem exagero. Na Freita, os nossos pensamentos sucedem-se ao ritmo de cada obstáculo. Um após outro, “de mente aberta”, como aconselha José Moutinho, grande alquimista por trás da Prova.

Sim, com maiúscula, porque a Freita é Sagrada, Sublime, Transcendente. Achar que a Freita é apenas mais uma prova, é o maior erro dos novatos. Na Freita, até aqueles que não acreditam em nada, passam a acreditar em tudo. Em Deus, no Diabo e, acima de tudo, neles próprios.

Fazer uma Freita é mesmo isso: saber quem somos. No melhor e no pior.

À minha sexta Freita (17km: 2013 e 2014; 65km: 2015, 2016 e 2018), encontrei um António afoito, mas cauteloso; divertido, mas consciente; apaixonado, mas contido. E foi a minha melhor Freita. Porque respeitei-a e respeitei-me.

A dureza?

Meus amigos, isto é a Freita… 

…e já sabemos que vamos levar no pelo, por isso, é curtir.

Correr quando dá para correr, saltar quando é para saltar, chafurdar nas poças, mergulhar nos cursos de água, desviar das árvores. Pôr as mãos no chão, trepar, escalar, gatinhar.

Nas famosas “Goelas”, lembrei-me muitas vezes dos meus filhos que adoram andar empoleirados. “Eles iam adorar isto”, pensei… e fiz como eles. Já que não podia vencer as “Goelas”, embrenhei-me nelas a fundo, a mesma tática que usei em tempos na Besta. E assim não custou nada e muito menos custou quando chegou aquele telefonema. Entre o Inferno e o Céu, uma voz de anjo, deu-me uma energia que não se encontra nas poderosas eólicas que patrulham a paisagem, ou nos géis, nas barras e isotónicos que ingerimos para enganar o corpo. Até deu para correr um bocadinho. Sorri, sorri e sorri. Só não voei, porque tinha bastões em vez de asas.

Os outros insultavam a organização. “Quem? Esse Moutinho devia vir aqui agora falar comigo!”

Muitos terão sido aqueles que se deixaram enganar pela distância, mas estes 29 km eram tão ou mais duros que muitas ultras por aí. 

Surpresos?

Meus amigos, isto é a Freita…

…um pé atrás do outro. Um obstáculo atrás do outro. E descer até à meta. Mais uma vez como uma criança solta, livre, temerária. “Se tropeço, estou f…, mas agora não abrando.”

No fim, atravessar o centro de Arouca como se fôssemos os maiores. A entrada apoteótica no pavilhão e a Glória.

Meus amigos, isto é (um bocadinho da) Freita.

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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