O Desafio da Maratona, 42 Kms depois

Autor: Vitor Dias  /   Junho 19, 2014  /   Publicado em noticias
Tags: 195, 42, maratona, porto

O Desafio da Maratona, 42 Kms depoisDesde que comecei a correr sempre me fascinou o desafio e a aventura de terminar a primeira maratona. Se o conseguisse passaria a estar no topo das pessoas mais treinadas do mundo, capazes de correr 42 quilómetros. Foi no Porto, a cidade invicta nesse dia memorável de Novembro de 2013, com um sol magnífico e condições ideais para correr.

Crónica de Vasco Medeiros

Partida Junto ao Palácio de Cristal – Pavilhão Rosa.

Percorri a Avenida da Boavista e fui até ao porto de Leixões em Matosinhos. Ao regressar ao Castelo do Queijo, Km 14, segui o percurso da maratona apesar da minha inscrição e dorsal da Family Race. Nunca tinha corrido um percurso diferente daquele em me tinha inscrito mas a vontade de correr os 42 kms foi mais forte! Passei pelo meu amigo Luís Madeira, também estreante quando ele já estava a subir a Avenida do Brasil. Como ele muitos dos atletas estão quase no fim, a 3 ou 4 kms de terminarem e ao cruzarem-se comigo disseram-me que eu estava enganado, perdido e que o percurso (da “corrida familiar”) não era aquele. Eu estou em sentido contrário à maioria dos corredores mas sei bem o que quero: Terminar a maratona! E fiquei ultra-motivado ao lembrar-me do Tim Cook, CEO da Apple, quando ele disse aos estudantes de MBA que: “raramente devem seguir as regras, devem escrever as vossas próprias regras”! Afinal não vim até ao Porto só para correr 16 kms, por isso continuei em contra mão.

Passagem à meia maratona e pouco depois estava sobre a ponte Luís I, com o rio Douro aos meus pés. Em Gaia comecei a sentir alguma fadiga mas mantive-me a correr. Tomei a dolorosa decisão de não caminhar em Gaia! Passei debaixo da ponte da Arrábida e continuei pela Afurada até que finalmente vi o retorno. Agora sim sinto que finalmente estou a regressar ao Porto, mas ao avistar do outro lado do rio os últimos carros da organização e as ambulâncias na Ribeira confirmei o que já pensava: Estou sozinho! Estou completamente por minha conta e não vou ter qualquer bebida ou abastecimento da organização. Continuei a correr em Gaia pelos passeios porque o transito automóvel já tinha sido reaberto há muito.

Quando regressei ao Porto, a partir do quilómetro 33 alternei entre caminhada e corrida, sentindo-me cada vez mais desidratado. Uma paragem de alguns minutos na zona da Foz do Douro, ao quilómetro 37 foi necessária e bebi um sumo de laranja gentilmente oferecido por uma barwoman ribeirinha. Agradeci esta amabilidade portuense e voltei à corrida solitária.

Surpreendentemente este descanso foi milagroso pois não mais parei! Ao longo da marginal e praias mantive-me sempre a correr e mal podia acreditar que 15 minutos antes estava tão fatigado, a caminhar, e agora estou a correr. E a correr sempre! Começo a acreditar que vou aguentar este ritmo de 6:00 min/km até ao fim, mesmo nesta ligeira subida pela Avenida do Brasil. Quando virei para a avenida da Boavista, junto ao parque da cidade apercebi-me que só faltavam 2 quilómetros para me tornar maratonista!

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Conclui a minha primeira maratona no Porto a 3 Novembro de 2013. Recebi a medalha diretamente das mãos do Diretor da prova, Jorge Teixeira, apesar de ter chegado quando já estavam desmontados os controlos e pórticos na Meta. Ele disse-me que, por ter concluído os 42 kms “tinha muito gosto em entregar-me a medalha” e pediu uma salva de palmas para mim aos voluntários da organização. A sensação de euforia e apoteose que senti foram indescritíveis. Foi apenas o meu melhor momento desportivo de sempre!

O GPS do telemóvel em “modo de voo” teve autonomia para registar toda a corrida de 42,195 km. Tempo – 4h40m Ritmo médio – 6:40 min/km

Perguntas e respostas na semana depois da prova:

Atleta:O teu objetivo era apenas terminar ou tinhas mais algum? Quais foram os treinos/preparação que fizeste para a maratona? Como é que te encontraste no “the day after” ?

Vasco Medeiros: O objetivo era apenas terminar apesar de muitas vezes ter sonhado com as 3 horas sabia que não estava preparado para isso pois não segui nenhum plano de treinos e o meu ritmo nos treinos longos estava longe dos 4:00 a 4:15 min/km. Durante a prova arrependi-me disso e paguei a fatura. Surpreendentemente no dia seguinte estava bem, apenas com algum desconforto nos joelhos. Agora estou totalmente recuperado e pronto para a próxima…

Atleta: Como te preparaste para a maratona? Antes de a fazer quantas vezes correste a mesma distância? E já agora reforço os parabéns!

Vasco Medeiros: A preparação foi muito empírica e até desleixada, por isso o tempo final da maratona não me agradou minimamente, mas mesmo assim fiquei eufórico por ter conseguido terminar pela primeira vez. Para a próxima inscrevo-me com pelo menos 3 meses de antecedência e sigo um plano de treinos elaborado por um treinador profissional. Há vários aí pela net e permitem-nos fazer testes de distâncias a diferentes velocidades, treino intervalado, rampas e muito mais variedade de corrida do que fazer sempre os mesmos 12 a 15 kms à mesma velocidade. Durante o treino corri apenas uma vez os 42 kms e nesse dia ainda tive de caminhar muito após o km 30: deu para perceber que ainda não estava preparado para tão grande distância e também que o meu GPS não tem autonomia para tantos Kms com o ecrã ligado. No Porto desliguei o ecrã, coloquei em modo de voo para “voar” até à meta e assim o GPS lá registou a maratona completa.

Crónica de Vasco Medeiros

Sobre Vitor Dias

Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 61 maratonas em 17 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt
Ultra Maratona Atlântica Melides Tróia

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