Autor:
Vitor Dias / Fevereiro 18, 2010 / Publicado em
Crónicas
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Encarei esta maratona de uma forma totalmente diferente das anteriores. Nas outras 3 provas em que fiz esta distância (Porto, Paris e Berlim), preparei tudo ao pormenor deste o plano de treinos até à logística da viagem. Para esta prova tudo foi diferente. Toda a logística foi tratada pelos amigos Carlos Rocha, Jorge Gonçalves e Conceição Grare da equipa Porto Runners, a quem quero desde já agradecer publicamente todo o empenho e dedicação colocado ao serviço das quase 50 pessoas que se fizeram deslocar a esta cidade da Andaluzia. Quanto ao plano de treinos, foi parecido com os anteriores, excepção feita ao número de semanas que reduzi das 14 para 11, devido a compromissos profissionais e familiares. A preparação não correu nada bem. Devido a várias razões, vários treinos não foram cumpridos e a 6 semanas do evento uma lesão levou-me a uma paragem de 15 dias. Foram 15 dias onde não percorri um único quilómetro. Pus desde logo em causa a minha participação, nunca tendo perdido a esperança de participar nesta maratona. A 3 semanas da prova decidi participar na mesma, tendo pondo o meu objectivo inicial de parte que seria bater o meu recorde pessoal. Iria para a prova com o intuito de usufruir da mesma e juntar a possibilidade de conviver com os meus colegas de equipa e de principalmente dar apoio aos estreantes nesta distância, acto que me dá particular prazer.
A PROVA
Acordamos antes do próprio dia. Este resolveu brindar-nos com frio e geada e uma humidade bastante considerável. Lá fomos nós a caminho do estádio olímpico uns a tremer de frio e outros a tremer de nervosismo.
Após um ligeiro aquecimento em zona apropriada do estádio lá fomos para a pista e minutos depois o tiro de partida no pôs a rolar durante 300 metros no interior do estádio e depois pelas ruas de Sevilha onde 42 Kms nos esperavam.
Seguimos inicialmente eu o Alexandre Caramez e a Elisabete Gonçalves juntando-se pouco depois o Thierry, o Francisco Lobo e o António Mesquita, todos da equipa Porto Runners. A Elisabete e o Francisco eram estreantes e por isso tentamos manter um ritmo lento e constante o que agradaria a todos. Mesmo assim a Elisabete cedo percebeu que o ritmo não era o dela e mandou-nos avançar, consciente de que seria melhor abrandar para dali não vir males maiores.
Seguimos os 4 sempre confortáveis a 4m45/km durante os primeiros 10 Km. A partir daí o Mesquita e o Thierry abrandaram ligeiramente mas a rolarem sempre nas nossas costas. Ao Km 15 encontramos o Fernando Andrade, a quem cumprimentei mas por momentos apenas pois ele resolveu não nos acompanhar. Minutos depois e por volta do Km 18 encontramos o nosso amigo Luís Pires, experiente maratonista que ia a um ritmo lento para as suas capacidades mas rápido para aquilo a que se tinha proposto para esta prova. Segui connosco o Luís. Fomos sempre juntos onde eu “liderava” o grupo, não por ser mais rápido ou mais experiente mas porque ia controlando o ritmo pelo meu relógio, não deixando que ninguém alargasse a passada mais do que o pretendido por todos. Nesta altura já se tinham juntado a nós o Faísca (de Faro) e o David Ferreira (de Santarém) que ali conhecemos e fomos conversando. Os nossos objectivos voltaram-se para estes dois novos amigos, um porque poderia ir ao podium (Faísca) e para o David que poderia fazer ali o seu recorde pessoal.
Lá fomos seguindo até à meia maratona, onde passamos com 1h43m, uma boa marca para o intuito destes novos amigos. Eu sentia-me muito confortável e o Luís também. O David e o Faísca começavam a dar ar de cansaço mas mantínhamos a média a que nos propusemos.
Por volta dos 30 Km o Luís diz-me que se sentia bem e que já que estávamos frescos poderia fazer um tempo muito próximo das 3h23m que tinha feito no ano anterior. Eu sentia-me bem mas não sabia muito bem como iria ser a partir daí pois sabia perfeitamente que a minha preparação tinha sido anormal e que era daí para a frente que iria sofrer caso aumentássemos o ritmo. Mas o facto de ir com o Luís era algo que me dava muito alento. Arrisquei e pusemos pernas ao caminho. 4m10s/km era agora a nossa média e as minhas pernas começavam a dar sinais de fraqueza. Ao faltar 8 km o Luís disse que iria arriscar, mesmo que terminasse a passo. Ele estava em grande forma, o que nada me admirou. Mandei-o seguir que eu não teria pernas para aquele ritmo. Avançou sem eu nunca o perder de vista, tendo ganho uns 100 metros de avanço os quais recuperei à passagem da ponte de acesso à Ilha da Cartuja. Ultrapassávamos atletas a cada passo que dávamos, muitos deles em grandes dificuldades. Nesta altura acelerei ou o Luis abrandou. Mantive-me só por alguns minutos à frente do Luís. Nessa altura ele passou por mim sem eu sequer esboçar um esforço para o acompanhar, isto já com o estádio olímpico à vista. Entramos num parque bastante bonito onde já tínhamos passado no início com o Luís a uns 30 metros à minha frente. Fomos ambos aumentando ainda mais o ritmo fruto de alguma ansiedade e do facto de sabermos que poucos minutos depois estaríamos a descansar.
O túnel do estádio já ali estava com muita gente a aplaudir e na rampa desnivelada de acesso ao mesmo apanhei o Luís e entramos na pista que me deixou quase em êxtase. As pistas de dentro estavam ocupadas e nem o facto de ter que ir na pista de fora e portanto com mais distância a percorrer, nos impediu de andar a 3m5s/km uma verdadeira loucura para o meu andamento normal. Desde que entrei no estádio, não me lembro de estar cansado ou de me doer algo. De facto a cabeça é que manda. Terminamos eu e o Luís no minuto 23 conforme tinha idealizado uns quilómetros atrás.
Sem que tenha sido a minha maratona mais rápida, foi a que mais prazer me deu, já que pouco sofri, ao contrário do que eu esperava, dada a fraca preparação que fiz. Ao que parece “o chip” começa a ficar programado e se a preparação é importante a experiência que ganhei nas edições anteriores terá pesado nesta minha prestação que considero muito boa para as minhas aspirações.
Quero agradecer a todos os quanto me acompanharam tanto antes como durante a prova, em especial para os colegas da Porto Runners e os novos amigos Faísca e David Ferreira que cada qual à sua maneira acabaram por cumprir os seus próprios objectivos.
Uma palavra especial para os estreantes na distância pois todos eles conseguiram terminar a mesma (Elisabete Gonçalves, Francisco Lobo, Vítor Cardoso e Natalino Pereira).
Um obrigado ao meu amigo José Carlos Mimoso que nos acompanhou e nos brindou com as suas belas fotos que nos farão recordar para sempre este dia.
Adiós Sevilla.
Próximo destino: Madrid
CURIOSIDADES DA PREPARAÇÃO
Duração: 11 semanas
Quilómetros percorridos: 530
Nº. de treinos previstos: 54
Nº. de treinos cumpridos: 39 (72,2%)
Nº. de horas: 50
Locais: Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia
Equipamento: Sapatilhas Asics GT 2140, relógio Garmin Forerunner 305.
Sobre Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 61 maratonas em 17 países. Cronista em
Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em
Porto Canal.
Site Oficial:
www.vitordias.pt
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