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A simpatia surpreende

antónio pinheiroNos últimos tempos tenho sido freguês assíduo do Hospital de Gaia. Nada comigo, apenas a acompanhar o meu pai nas suas consultas, exames e tratamentos de rotina.

O ritual é quase sempre o mesmo: check-in na maquineta das senhas, sala de espera e… esperar, de olhos no ecrã e ouvido atento. Cinco, dez, quinze minutos. Às vezes, para cima de uma hora. 

Com um bocado de azar, à saída ainda temos que tirar outra senha, para a marcação de mais um exame, mais umas análises.

Nunca é bom ir a um hospital. A minha mãe dizia que costumava vir de lá mais doente do que entrara. E eu concordo. Todo este ritual, ao qual se junta uma miríade de rostos cinzentos como as paredes, deixa uma pessoa às portas do Nono Círculo do Inferno.

Mas, no meio desse ambiente pesado surgem, por vezes, centelhas de esperança, rostos brilhantes, mãos amigas, alguém que nos faz sentir bem.

E foi o que nos aconteceu desta última vez.

Um médico? Um enfermeiro? Um administrativo?

Um Segurança!

Horas e horas de pé, a um canto, a explicar milhares de vezes como funciona a maquineta das senhas, a indicar as salas de espera, a responder a todas as questões. Educado, prestável, com um sorriso contagiante, bem disposto, com sentido de humor. Benfiquista, meteu-se com o meu pai por estar a usar um gorro do FCP.

Incrível. 

Ele, talvez mais do que ninguém, teria todos os motivos para estar mal disposto e carrancudo. Mas não. Ostentava, eu diria, irradiava, uma genuína simpatia que contrastava com todo aquele ambiente de dor e principalmente com a funcionária administrativa que me atendeu no fim. 

Essa, carrancuda, não respondeu ao meu “boa tarde”, nem ao “é para marcar estas análises, por favor.”

Nem uma palavra. Arrancou-me o papel das mãos e atirou-me com ele de volta no fim. Mesmo assim, disse-lhe “obrigado e continuação de uma boa tarde”. Silêncio.

Ela, sentada confortavelmente atrás do balcão.

Ao sair, eu e o meu pai fizemos questão de trocar mais umas palavras com o segurança.

O meu pai, portista ferrenho, até desejou boa sorte para o jogo europeu do Benfica, clube do coração do segurança.

“Muita saúde!” desejou ele no fim.

Sim, meu caro. É de saúde que precisamos e mais gente assim, principalmente em locais de atendimento, em sítios de onde não queremos sair mais doentes do que entramos.

Obrigado!

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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