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O inimigo interior

O inimigo interiorAcordou cedo, como em qualquer Domingo em que vá correr. Gosta de correr cedo, para chegar a casa cedo. O sol espreitava pelas frinchas das janelas.

Cirandou pela casa a espantar o sono e a ganhar vontade para se equipar e sair. Tinha o relógio carregado, música no telemóvel, equipamento preparado de véspera. 

Primeiro ataque do inimigo. A esta hora da manhã é normal, Primeira luta. No fim, fica aquela sensação de que haverá uma segunda vaga. Ainda é cedo, é melhor aguardar por casa, para não haver surpresas na rua.

Segunda vaga.

Agora, a coisa parece ter acalmado.

Tudo pronto e o treino começa.

Objectivo: um circuito de 18km, com um D+ de 500 m.

Contudo, por volta do quilómetro 3, quando se inicia a primeira longa subida, o inimigo volta a atacar. Um primeiro aviso. Pode ter sido só isso mesmo… um aviso. Mas, já perto do fim da elevação, apercebe-se que foi um aviso de um ataque mais forte. E agora?

Olha em volta à procura de uma trincheira segura. Campo aberto, demasiado exposto. Há um bunker lá em cima, mesmo no topo. Estará aberto?

É obrigado a caminhar. Cada tentativa de corrida desperta a fúria do inimigo.

Caminha como pode, olhando em redor, à procura de um eventual esconderijo de recurso. O bunker! Está ali e está aberto.

É o ataque final. Ele aguenta a furiosa descarga. Agora sim… o inimigo parece ter ido embora de vez. Mesmo assim, aborta o plano de fazer 18km e volta a casa pelo mesmo caminho, completando apenas 13km. É melhor assim, jogar pelo seguro, não vá o inimigo voltar a aparecer de surpresa naqueles 5km extra e nos quais não haveria hipótese de refúgio.

António Pinheiro

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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