Caro Jorge:
Parabéns pelo sucesso de mais um UTNLO! Pena tanta lama e o título, atribuído pelo Luís Pires e por mim, da “Prova de Trail mais nojenta do ano”!
Como sabes é com carinho, um carinho semelhante àquele com que nos recebes a todos e com que nos cuidas, que após várias horas de esforço e ao cruzar a meta, de imediato, na realidade apenas depois de te darmos um forte abraço, brindamos a prova com este epíteto. Enlameados, sujos, mal-cheirosos, nojentos!
É óbvia a tua preocupação com que todo o teu “rebanho” regresse ao redil (muralhas da tua Óbidos) em segurança! Assim foi, penso eu. Pelo caminho estou certo de que todos praguejamos um tanto, pouco pudemos apreciar das belezas naturais, pouco tiramos os olhos do chão, sentimos mais a areia nas sapatilhas ou a lama malcheirosa a subir pelas pernas e pelos braços do que os encantos dos locais atravessados, maldissemos a forte nortada, insultamos o frio que se pode sentir numa noite de Agosto, contamos um quilometro e tal a mais do que os oficiais cinquenta… E perdemo-nos, pelo menos três vezes, e numas centenas de metros…
A mente, o coração e as pernas hesitaram entre se não teria sido melhor um sábado no cinema seguido de um jantar em família ou com amigos e de uma bela manhã de domingo com um treino longo, se a aventura do TNLO a prolongar-se pela noite adentro e a massacrar os nossos joelhos quase sexagenários.
Mas ao mesmo tempo construímos grupos fortes, conhecemos novos runners jovens com quem fizemos amizade, reencontramos os jovens do clã Serrazina (Natalina e André) fortes e sempre bem dispostos, vivemos numerosas situações de grande e exemplar companheirismo, agradecemos devidamente a amabilidade e dedicação dos voluntários nos abastecimentos e na meta, e, quando chegamos àquele túnel de água mal cheirosa, sabe-se lá de que proveniência, todos, mas mesmo todos, executamos uma vénia ao Jorge Serrazina.
Podem as más línguas afirmar que a vénia foi forçada pela baixa altura do tecto do túnel, mas eu penso que na realidade foi, antes da demolidora subida final ao castelo, a homenagem sentida que todos os finishers quiseram prestar ao organizador. Respeitosamente todos nos curvamos em vénia ao mestre, antes de nos ser proporciaonda a subida ao seu castelo, onde, verdadeiro rei do trail e da montanha, nos esperava sorridente e… condescendente… Como só os nobres e bons sabem ser!
Sabendo o Jorge da existência daquele túnel e das águas castanhas que nos subiriam bem acima do joelho, como poderia justificar um traçado da prova que não nos permitisse desfrutar de experiência tão radical? Assume-se hoje em dia entre nós que é isso que os runners buscam no Trail Running em Portugal. Admito que a maioria se tenha extasiado com essa e outras experiencias radicais durante a prova. No meu caso, agora já em casa e pouco depois das 7 da manhã, bem lavadinho e bem cheiroso, preparado para duas horas de sono, a minha opinião sobre esses momentos é que na realidade já não me lembro muito bem! Está feito o TNLO, já passou, deixou umas pequenas feridas e uns ténis e roupa imundos que nem sei se valerá a pena tentar lavar, mas agora o que apetece é descansar e recuperar para a próxima. Fica uma memória vaga de tudo o que representou esforço, dor e sofrimento (quedas aparatosas); as memórias mais fortes são as dos amigos e amigas com quem partilhamos aqueles duros momentos!
Pelas 10 horas da manhã já estarei a trabalhar, de urgência no hospital, e trabalharei de noite (tal como trabalhei esta noite!) Nada que se compare ao trabalho de há dias com o Carlos Sá e a sua “crew” de apoio na Badwater! Andamos nisto porque gostamos. Protestamos e maldizemos, mas voltamos. Não somos capazes de ficar em casa se aqui perto nos é oferecido uma ultra…
Estão de parabéns o clã Serrrazina (especialmente o Jorge) e tb Óbidos!
De parabéns também o nosso companheiro de treinos e vizinho João Oliveira, pelo fantástico segundo lugar!!! (e boa sorte para o Sparthatlon e o deserto das arábias em Janeiro…)
E ainda um voto especial de parabéns ao nosso (Porto Runners) Zé Ferreira, que há meses pesava cento e quarenta quilos, que correu pela primeira vez 42km em Maio e que em Óbidos correu que se fartou!
Ao Tiago Dionísio, ao Peter Cooper, ao Cumbre, à Margarida Pinto, ao Pedro Vieira, ao Mário, ao Fernando Andrade, ao Romãozinho, á Célia Azenha, à Flor Madureira, à Paula Santos, ao Rui Pinho, ao JP Meixedo, à Natalina, ao André Serrazina, à Glória Serrazina, à Analice, ao António de Cucujães, ao Capela, ao Isaac, ao Quelhas, ao Tadeia Mendes, ao Natividade, ao Sanguino, e a tantos tantos outros que com o sono a fechar-me os olhos e a turvar a memória já não consigo nomear, mas especialmente ao Luis Pires, muito obrigado pelo privilégio da vossa companhia, apoio e amizade e por tantas vezes me ajudarem, literalmente, a levantar do chão!
Abraço e toda a amizade do
Pedro Amorim