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Se fores simpático, faço na mesma

Houve um tempo em que o mundo era simples: os filmes tinham cowboys, os cowboys tinham cavalos, e toda a gente sabia que a entrada no Saloon era coisa séria. 

A porta balançava, o herói (ou o vilão — para o caso, era igual) entrava a passos lentos, batia o tacão, tilintava as esporas e pousava a mão no coldre, não fosse o bartender servir-lhe água por engano. Depois vinha a ordem, seca como o deserto: “Whiskey!”

Hoje, não há Saloons, mas há cafés, restaurantes, lojas, hospitais e repartições de Finanças. E os cowboys… ah, esses multiplicaram-se. Entram de rompante, miram com o olhar e disparam com a língua: exigem o café curto, o formulário carimbado, ou o atendimento prioritário — mesmo que sejam os únicos na fila. 

O “por favor”? Às vezes não vem. Outras vezes vem, mas em tom de ameaça: “Por favor…” (tradução: move-te rápido, ou há bala).

No outro dia, dizia ao meu filho mais novo:
— A mim, não precisas de dizer “por favor”, basta pedires com simpatia.
Para o comum dos mortais, pode parecer estranho, mas ele entendeu. Porque a simpatia não é gramática — é tom, é olhar, é rosto.

A Tyra Banks, num programa qualquer, chamava-lhe “smize”smile with your eyes. Um conceito simples: sorrir com os olhos. Talvez fosse útil incluir isso no currículo escolar, logo a seguir à tabuada e antes da gramática.

Mas há quem insista na escola do faroeste: peito feito, sobrancelha arqueada e voz de quem está prestes a ordenar um duelo. Será baixa auto-estima? Insegurança? Ou apenas uma profunda devoção ao Clint Eastwood?

Seja como for, é curioso: a maioria das pessoas que fala com arrogância acha que ser desagradável acelera o resultado. Spoiler: não acelera. Só torna o ambiente pior e o café, misteriosamente, mais frio.

No fim, eu faço o que me pedem de qualquer maneira.

Mas se me pedires com simpatia, faço com gosto. 

Se me pedires com arrogância, faço a pensar que preferia estar a preencher impressos no Saloon com o xerife.

Ser simpático não custa nada — mas há quem prefira gastar energia em ser insuportável. A ironia? O resultado é o mesmo: o pedido é atendido. 

Só que, se fores simpático… eu faço na mesma. E ainda smizo.

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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