Há quem morda as medalhas, há quem morda a camisola, há quem morda terra quando vai ao chão, eu mordi uma das alfaces que recebi, como habitualmente, no final de mais uma edição do Trail da Póvoa de Varzim, prova em que todos os finishers recebem um saco com legumes locais, fresquinhos e deliciosos. A mim, calharam dois pés de alface e quatro vistosas cenouras.
Antes disso, já tinha recebido um abraço do meu amigo Mário Elson, figura de proa do trail nacional e do desporto poveiro, mentor e arquiteto da prova.
“Mas há trilhos na Póvoa?”, desdenham os mais puristas da modalidade.
Trilhos há onde um homem quiser e a Natureza deixar. E, na Póvoa, o Homem quer muito e a Natureza deixa-nos correr à vontade.
O desnível não é muito, mas o carrossel é constante. A lama é uma presença quase permanente e ainda temos direito a uns bons metros com água pelo joelho.
“Finalmente limpei as sapatilhas!”
Não. Há mais lama ali à frente.
E para que o incauto corredor não ache que a prova é toda “corrível”, nem sempre sobre lama fofinha, há uma subidinha ao Monte de S. Félix, incluindo o seu imponente escadório. Não é bem até lá cima, mas é o suficiente para soltar uns bons palavrões em tão sacro recinto.
Para quem vai pelo pic nic, há abastecimentos vistosamente recheados e almoço no final. O staff é atencioso e dedicado, presente em vários pontos da prova, sorridentes e bem dispostos.
Não será, certamente, das mais exigentes e espetaculares provas do calendário, mas o TPV completou a sua sétima edição e até já contou com ultra-distâncias em edições anteriores.
Cada corredor avalia as provas pelo critério que lhe é mais querido: há quem aprecie a dureza, a paisagem, a qualidade dos abastecimentos, a “brindalhada” que recebe. Há quem aprecie tudo isto e quem não aprecie nada.
Pessoalmente, gosto de uma organização centrada nos corredores e não em si mesma. E também valorizo provas cuja distância final percorrida não esteja, literalmente, a kilómetros da anunciada em cartaz.
O Trail da Póvoa de Varzim é daqueles que encaixa nos meus critérios e onde voltarei sempre que puder.