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Autogolo entre dois penalties

António PinheiroÀs vezes, gosto de imaginar que o nosso cérebro funciona como naqueles desenhos animados “Era uma vez o Corpo Humano.” Uma futurista sala de comando, cheia de computadores, monitores e um velhote de barbas compridas a dar ordens.

E imagino que, quando nos embebedamos, o velhote no nosso cérebro também se embebeda. E todos nós sabemos como é um velhote bêbado. Mas, não só o velhote. Todo o staff cerebral encharca as velas, ficando o nosso sistema nervoso central transformado numa romaria minhota, com cabeçudos a dançar ao som do pífaro e da concertina, do bombo e do acordeão.

O velhinho balbucia ordens desconexas ou imperceptíveis, os funcionários digitam comandos que não entenderam, ou nem sequer receberam e pronto: lá começamos nós a cambalear pela rua, a dizer que amamos todos os nossos amigos, a ver o Big Brother e a votar no Chega.

Os exemplos de cenas estranhas que fazemos quando estamos bêbados são muitos. Eu próprio tenho algumas histórias para contar. Mas não falemos de mim, apesar de ter presenciado a história que se segue.

Aqui há uns anos, estava sentado tranquilamente no café onde costumava ir ver a bola. Um ambiente tranquilo, quase silencioso. Talvez uma dúzia de adeptos de olhos no ecrã, ou entretidos nos habituais comentários “à la Freitas Lobo” e, ao fundo, um deles (vamos chamar-lhe Adalberto para proteger a sua identidade) dormia. Notoriamente, o velhinho naquele cérebro tinha enfardado demasiadas taças de verde branco e tirava uma soneca, desinteressando-se da partida.

Nisto, totalmente do nada, o Adalberto acorda, como se não estivesse a dormir, e pergunta com a voz enrolada:

(do diálogo seguinte foi omitido o vernáculo)

  • Quem são os jogadores do Porto que vão à selecção?

Uma dúzia de olhares volta-se para Adalberto, com aquela expressão “Ah?”

Alguém teve a cortesia de responder:

  • O João Moutinho e acho que mais ninguém…

  • Mais ninguém??? Ora vamos lá ver… Quem é o guarda-redes?

  • O Helton…

  • O Helton não vai porquê?

  • É brasileiro

  • Hmmm… e o Álvaro Pereira?

  • É uruguaio.

  • Uru… Mas tem nome português!

  • Mas é uruguaio…

  • E tem aquele… o… Fernando! Esse é português!

  • É brasileiro!

E o velhinho naquele cérebro em curto circuito voltou a adormecer, assim como os seus assistentes. A romaria minhota chegou ao fim e o jogo continuou.

António Pinheiro

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António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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