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Sobrevivi a um telefonema que poderia ter sido uma mensagem

Sobrevivi a um telefonema que poderia ter sido uma mensagemHá duas expressões que eu temo sempre que estou a comunicar com alguém por SMS, WhatsApp ou afins.

“Espera aí que já te ligo!” ou “Liga-me para falarmos melhor!”

Pior ainda: ligarem-me a meio da conversa sem aviso prévio.

Não… não me façam isso…

Há dias, vi uma divertida t-shirt com o texto “sobrevivi a uma reunião que poderia ter sido um email”.

Já eu, todos os dias, sobrevivo a telefonemas que poderiam ter sido uma mensagem. Que deveriam ter sido uma mensagem!

Para quem, como eu, não gosta de falar ao telefone, principalmente com estranhos e desconhecidos, as SMS e demais formas de comunicação escrita instantânea foram a melhor invenção da História. 

Nada contra aquelas pessoas que, por tudo e por nada, levam o telefone à orelha. “Tou, olha uma coisa…” 

Nada contra, mas respeitem a minha liberdade de não querer atender, muito menos quando encetei convosco uma conversa que eu pretendia escrita.

Na dúvida, usem este algoritmo:

Conversar? Telefonema.

Fazer perguntas? Mensagem, WhatsApp, Messenger, telegramas, sinais de fumo e pombos correio. 

Como diria alguém com quem trabalhei há uns anos: respeitem os canais de comunicação.

Ao ligarem-me, interrompem-me, incomodam-me. Já as mensagens, respondo ao meu ritmo.

“Ah! E se for urgente?”

Se for urgente e eu não estiver disponível para te responder por escrito, também não estarei disponível para atender. Vai dar ao mesmo.

Nada contra os telefonistas compulsivos, mas sou muito fundamentalista na escrita. Já me aconteceu estar a tentar comprar algo online, fazer uma pergunta simples na janela de chat sobre o produto ou serviço e do outro lado responderem “por favor, dê-nos o seu número para lhe ligarmos”. Apavorado, fechei a janela e assim perderam um cliente.

Juro que facilito a vida aos meus interlocutores, faço perguntas fechadas de resposta “sim, não”, “quanto custa?”, “a que horas?”, “confirma-se?”. E é tão fácil responder a isto sem me aborrecerem com um telefonema.

Nada contra, mas vocês que passam a vida a ligar são uns verdadeiros psicopatas das telecomunicações.

E não me atirem com o “isto não são conversas para se ter por mensagem”. São, são. Houvesse mais diálogos escritos e o Mundo era mais pacífico.

A comunicação escrita dá-nos tempo para pensar, refletir, estruturar argumentos e elaborar uma resposta coerente. Os meus telefonemas estão cheios de silêncios constrangedores, de palavras mal articuladas e gaguejos (eu que nem sou gago) porque tenho que pensar no que vou dizer.

É verdade que muitas vezes “teclamos” a quente, mas temos sempre hipótese de apagar, reescrever, voltar atrás ou culpar o corrector automático.

Já a palavra dita é eterna. Mesmo que digamos “desculpa, falei sem pensar”, já está.

E mesmo que escrevamos em maiúsculas, não há, de facto, gritos, não há o interromper, o falar mais alto para abafar o outro.

Pensem bem, quantos conflitos não teriam sido evitados se as pessoas escrevessem mais e falassem menos?

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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