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Ultra Maratona Trilhos de Belém

Ultra Maratona Trilhos de BelémEstava nervoso antes da prova. Não é normal neste tipo de desafios, mas estava. Um ano de preparação, atribulado pelo confinamento. Não houve dificuldades em treinar, antes pelo contrário. O confinamento fez-me treinar em demasia.

Sabia que ia ter praticamente 48 horas de corrida pela frente. A noite iria ser longa e não me podia distrair com o descanso.

O meu filho acordou-me cedo, também ele estava entusiasmado. Depois de uma manhã tranquila, sem grandes sobressaltos, o tiro de partida foi dado pouco depois das 13 horas.

Depois de uns pedaços de broa e umas azeitonas temperadas, surge-me o primeiro grande desafio: um polvo à lagareiro, com batata a murro e legumes, regado com tinto da casa.

Entre conversas casuais e comentários às notícias que desfilavam no enorme LCD do restaurante, o polvo num instante foi ultrapassado. Ainda a recuperar deste primeiro embate, surge-me à frente um arroz doce. Íamos com hora e meia de prova e o meu corpo já pedia calma.

Calma essa que veio ao longo da tarde. Já era noite, quando a larica voltou e recebo indicações da minha equipa para pôr a mesa. Não hesitei: queijo, presunto e chouriço.

Da cozinha começou a chegar o cheiro a rabanadas e eu sabia que começava a fase mais dura, onde teria que gerir o esforço com a cabeça e não com o apetite.

O queijo e os enchidos prepararam-me da melhor forma para o que viria a seguir. Abre-se uma garrafa de “Muralhas” e há que enfrentar o bicho com a faca nos dentes. O bicho era um delicioso bacalhau tradicional, no ponto, não demasiado salgado, acompanhado de batata, bastante azeite, ovo cozido e feijão verde, porque cá em casa sou o único apreciador de grelo. 

As “Muralhas” chegam ao fim, mas na linha de horizonte já se viam, finalmente, as rabanadas, o pão-de-ló e o Bolo-Rei. Mas atenção: o bolo-rei estava lá só para enganar, iria aparecer, na verdade, mais tarde.

O dia ia longo e começava a perder o discernimento. Por isso, não vi bem as marcações na mesa e perdi-me, tendo voltado ao prato do queijo e enchidos. Tive que retomar o percurso, por atalhos e, finalmente, pude atacar as rabanadas e o pão-de-ló húmido.

O cansaço já era muito e aproveitei para descansar.

Por volta das 2h da madrugada, a fome atacou-me novamente. Mais rabanadas, mais queijo, o fim do presunto e uma mini para empurrar.

O resto da noite foi passada sem sobressaltos e sem recorrer a água com gás.

Às 8h da manhã, decidi atacar o novo dia, atirando-me ao que restava em cima da mesa, debicando aqui e ali, até o chouriço acabar, o que compensei abrindo o Bolo-Rei.

O almoço chegou mais tarde do que o previsto e uma garrafa de Lambrusco embalou um frango assado no forno. Nova passagem pelas sobremesas.

À tarde fraquejei e acompanhei o lanche com chá verde, que me abriu o apetite para atacar as sobras do bacalhau e do lambrusco. Entretanto, as rabanadas chegaram ao fim. 

Confesso que estou um pouco desiludido com a prova. Cortei a meta sem um gole de whiskey, ou Vinho do Porto e sobrou um pequeno naco de queijo, mas estou confiante para os desafios que se avizinham.

O meu aniversário está próximo, para a semana é a Passagem de Ano , porque não, festejar os Reis?

António Pinheiro

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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