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O Lado Negro da Corrida

O Lado Negro da CorridaÉ verdade que Corremos Por Prazer. E cada Corredor retira um Prazer diferente da corrida. Correr dá-nos Gozo e aqui não há hipótese de simular, porque sempre que o tentamos fazer, é bem visível a simulação, naquela cara de “eu estou bem, eu estou bem… não estou nada bem…”

Mas, como noutras situações da nossa vida, o Prazer também traz dor. Ou obtém-se Prazer pela dor. O Gozo traz sofrimento. Ou o sofrimento dá mais intensidade ao Gozo. E, no final do Prazer e do Gozo, as coisas podem ficar ridiculamente doridas, assadas, sujas, meladas, pegajosas, molhadas.

A Corrida tem um Lado Negro, um lado dorido, ridículo e sujo. 

Já nem falo das dores nos membros inferiores. Falo nas dores lombares, nas dores nos braços e no sistema gastrointestinal… e nas assaduras, as temíveis assaduras.

Sim, correr faz doer as costas, quem nunca se agarrou ao lombo naquelas subidas mais íngremes, que só parecem acabar às portas do Céu?

Sim, correr faz doer os braços. Quem nunca acabou uma prova com mais cãibras nos braços do que nas pernas?

Sim, correr faz doer as entranhas e até nos obriga a “paragens técnicas”. Quem nunca teve que se desviar para o meio do mato, para ficar “um pouco mais leve”?  

Sim, correr deixa-nos assadinhos. Quem nunca roubou o Halibut dos filhos para aplicar nas próprias virilhas e/ou sovacos?

Sim, correr faz-nos fazer figurinhas ridículas. Quem nunca foi gozado pelos colegas de trabalho no dia seguinte a uma prova? Quem nunca olhou para uma moeda no chão e pensou “nah… deixa estar…”? Quem nunca desceu escadas ao contrário no fim de uma maratona?

Sim, correr é sujo. Quem nunca olhou para um equipamento cheio de lama e pensou “como é que vou lavar isto”? Quem nunca ouviu um ralhete do cônjuge “por onde é que tu andaste a correr?”

E os infiéis não-corredores perguntam: “E apesar disso tudo, continuas a correr?”

E eu respondo a cantar: “Gritos de dor, gritos de prazer, que um homem também chora quando assim tem de ser…”

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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