...

Não escutes atrás de portas de vidro!

O SMS morreu. Viva o Whatsapp. Ou o Messenger. No século XXI, passamos a vida a comunicar por escrito, sem sabermos fazê-lo. Depois surge o “não foi isso que quis dizer”. Porque também não sabemos ler. Nem interpretar. 

Ainda bem que podemos mandar mensagens de voz. Será que sim? Não há mal-entendidos orais?

(sim, quando uma das partes usa os dentes)

Na escola desvalorizamos o Português. “Eu já sei falar a minha própria língua.”

Não, não sabes. E muito menos sabes ler, porque a ironia, o sarcasmo, não se ensinam nas escolas. Muito menos se ensina o humor. O humor devia ser uma disciplina. As pessoas levam-se demasiado a sério. Levam tudo a sério.

“Smile!”, já dizia o Chaplin.

Sim, sim, aprendemos o que são figuras de estilo. É verdade. Marramos, decoramos, respondemos certo no teste, temos 20 no exame, mas não sabemos, na realidade, usar ou interpretar o raio das figuras de estilo.

É como aprender o que é um carro e depois ir tentar conduzir. É fácil? Para alguns.

Perdemos muito tempo com Camões, Pessoa, Camilo e depois não conseguimos interpretar uma simples piada. Uma piada? As pessoas nem entendem o que leem nas notícias.

E os anúncios na net?

“Vendo bicicleta, usada. 100 €. Entrega no Porto.”

Respostas: “é nova?”, “qual o preço?”, “entregam em Lisboa?”

É muito importante conhecermos os grandes mestres da nossa Língua, mas é também importante saber usá-la.

Hoje de manhã, coloquei uma piada no meu facebook. Era mordaz, com crítica socio-política, mas fogo… era uma pi-a-da!

Pois (quase) toda a gente foi comentar de forma muito séria, muito solene, como se estivesse a fazer um discurso ao país.

Costuma-se dizer que uma piada boa não precisa ser explicada. Não me lixem. A minha piada era boa, mas tive que a explicar.

Também há quem interprete de mais: “Isso foi uma indirecta?”

Dass… (Uso uma onomatopeia, para não usar calão).

Achamos que não é importante aprender Português e depois apanhamos pessoal a escutar atrás de portas de vidro.

Não percebeste? Estudasses.

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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