Necessidades energéticas: há diferença?
Depende da forma como calculamos. Em contexto clínico, as necessidades energéticas são frequentemente calculadas por fórmulas que começam por estimar o valor gasto em repouso, apenas para funções vitais, e aqui fórmulas como a Harris Benedict têm uma versão feminina e uma masculina enquanto outras não distinguem o género mas foram validadas especificamente para um contexto como a Mifflin St Jeor, adequada para mulheres enquanto a Ten Haaf parece ser mais indicada para o sexo masculino1.
E no gasto energético?
Quando são utilizados os equivalentes metabólicos para calcular o dispêndio energético2 de uma qualquer atividade apenas são consideradas variáveis como o peso, o tempo de duração e a intensidade (ex:. velocidade na corrida). Por isso aqui, o género não tem impacto no cálculo do gasto energético.
E quando se soma o gasto energético ao metabolismo basal em repouso referido na fórmula anterior, os coeficientes também não têm em conta se é homem ou mulher, apenas a frequência e nível de treino (competição, lazer, amador).
Quer isto dizer na prática que o homem tende a gastar mais energia num treino se for mais pesado ou correr mais depressa.
Necessidades de hidratos de carbono
Tanto a contribuição adequada de macronutrientes (AMDR)3 como as recomendações de hidratos de carbono em gramas/kg são definidas para os dois géneros, o mesmo acontecendo com as necessidades durante o treino.
Por isso, em teoria não existem diferenças no planeamento global. Ainda assim por vezes é sugerido que as mulheres possam ser mais eficazes na oxidação de ácidos gordos como fonte de energia do que os homens4, ou seja, para a mesma intensidade elas podem poupar mais o glicogénio e com isso ter maior capacidade de manter o esforço mas a diferença parece ser insignificante. Afinal de contas, temos (à partida) o mesmo arsenal bioquímico e as diferenças podem estar nos níveis de oxigénio, ou seja, na intensidade. E ainda falta saber também qual o impacto real dessa diferença em performance.
Oxidar mais gordura não traz mais velocidade, poderia trazer mais resistência, ou seja, mais tempo até exaustão.
E a nível micro?
Aqui sim há diferenças nas necessidades, naturais devido às diferenças nas funções fisiológicas que caracterizam os dois géneros.
Na corrida, há uma diferença importante a destacar: a maior necessidade de ferro na mulher em idade fértil, sendo praticamente o dobro da necessidade do sexo masculino. O motivo é óbvio, tem a ver com as perdas pelo ciclo menstrual. A corrida não parece agravar exceto em situações de prejuízo na integridade e função intestinal, o que pode até acontecer independentemente da corrida.
A preocupação é maior num padrão alimentar vegetariano estrito pelo que é importante consultar um nutricionista para o aconselhamento correto das combinações alimentares e ter um devido acompanhamento médico para monitorizar os níveis de hemoglobina e ferritina. Tenha em conta que a anemia afeta cerca de um terço da população mundial e é responsável pelo aumento da mortalidade mas também diminuição da produtividade e qualidade de vida5, não é “apenas fraqueza”.
Para complementar esta comparação, brevemente vamos abordar novamente o assunto da alimentação no emagrecimento, uma preocupação constante no feminino. Não deixe de ler a nossa secção de Emagrecer a correr.
Referências
1 Int J Obes (Lond). 2013 Oct; 37(10): 1364–1370.
2 Med Sci Sports Exerc. 2011;43(8):1575–1581.
3 Institute of Medicine. 2005. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids.
4J Appl Physiol (1985). 2005 Jan;98(1):160-7.
5 Blood. 2014 Jan 30; 123(5):615-24