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Correr em trails vai arruinar a sua vida!

Se é um devoto corredor de montanha de certeza que sorriu quando leu este título.  Se prefere antes correr no asfalto e pensa que finalmente os trail runners admitem a derrota, fique por perto e leia o resto do artigo. Vou partilhar consigo algumas formas de o trail running arruinar a sua, e a minha, vida e de como adoramos isso!

O trail running vai arruinar os seus recordes pessoais

Mede o sucesso nas corridas de estrada pelo record pessoal que atinge nos 10 km ou na meia maratona que acabou de fazer? “Claro, em cada prova tento sempre bater o meu melhor tempo para me superar”. Pois, se esta é a sua resposta, o trail running vai rapidamente mudar a sua perspetiva e conceito de record. No trail running o que importa é a altitude máxima a que se correu, e não o tempo final de prova. Não há duas provas iguais por isso não há comparação de tempos. Os trail runners que não lutam pelo pódio ficam contentes em apenas terminar a prova disfrutando da paisagem e de tudo que os rodeia.  Assim, um record pessoal pode também ser o número de rios que atravessou, as poças de lama que enfrentou ou número de quedas que sofreu. É por isso que para um trail runner uma medalha no fim tem um significado maior, 8 horas a correr monte acima e monte abaixo, merece mais que uma cerveja. E sabe que mais? Essas 8 horas são a recompensa maior, fator de orgulho e a melhor forma de se gabar aos seus amigos à segunda-feira. E isto é viciante…..

O trail running vai arruinar o seu orçamento pessoal

O explorador que há em si vai acordar quando começar a correr nos trails. Longe vão ficar os tempos em que ficava contente apenas por correr atrás de outro corredor por entre a selva de cimento da sua cidade. Quando der o primeiro passo e terminar o seu primeiro trail não vai parar mais e procurar o próximo desafio. “Ah e tal, isso não é para mim.” Eu também pensava assim até ao dia em que calcei as sapatilhas de trail e pus os pés na terra. Mais longe, mais técnicos, mais longos, duros e altos, é isto que vai começar a desejar cada vez mais, pois explorar pedaços do globo ainda por explorar vai ser mais desafiante do que galgar o asfalto em busca de um record pessoal. E quando der por si, está a poupar para bilhetes de avião, inscrições em trails no estrangeiro, estadias, equipamento. E não era um trail runner quando tudo isto começou….

O trail running vai arruinar a sua imagem pessoal

Achava que era um corredor fantástico porque terminava uma prova de 10000 pessoas entre as 5000 primeiras? “Claro, eu esforço-me ao máximo e tenho que terminar no top 10 da minha categoria!”. O trail running vai fazê-lo mudar de ideias. Aqui, é muito mais realização pessoal do que comparação da sua prestação com os restantes atletas, por isso numa prova com 250 atletas fica-se realmente contente em terminar em 249, pois é sinal de superação. Estar presente na linha de partida é 90% do desafio. Depois disso, é pura diversão e alegria à medida que se testa o corpo e mente perante os obstáculos do caminho. Passa-se bastante tempo sozinho num trail. Não existem pessoas ao longo do caminho a apoiar, por isso aprende-se a depender apenas de nós e a conhecer a nossa capacidade de uma forma nunca antes feita.

O trail running vai arruinar a sua organização familiar

Achava que lidar com o suor do seu equipamento de corrida era uma chatice? Pense em lama, suor e sangue na roupa interior e nas sapatilhas, com manchas que por vezes podem não sair mais. Quanto às sapatilhas nem vale a pena lavar pois vai precisar delas no próximo fim-de-semana para a próxima prova! “Ai não, só fiz uma prova para experimentar”! É o que diz, mas na verdade vai ficar orgulhoso com as manchas na roupa e as bolhas nos pés.

Em conclusão, existem vários benefícios e vantagens em fazer trail running. Na maioria das vezes as pessoas fogem dos trails por medo, mas acabam por experimentar e voltam a repetir. Por isso, se é um corredor regular e ainda não experimentou por que não tentar? Costumam dizer, “Aquele que corre fá-lo bem, mas aquele que corre nos trilhos faz melhor!”

Artigo de Andreia Ribeiro, autora do blog Sapatilhas Pensadoras

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Andreia Ribeiro
Andreia Ribeiro
Social media manager. Autora do Projeto Sapatilhas Pensadoras. Corredora desde 2010 e ex obesa desde 2004. Lema de vida “É impossível, diz o orgulho. É arriscado, diz a experiência. É inútil, diz a razão. Tenta, sussurra o coração.

10 COMENTÁRIOS

  1. Caríssima, cumprimento-a pela apologia que fez das provas de trail running. Contudo, permito-me deixar-lhe o reparo de que tal apologia não deveria ter sido feita em contraposição com a corrida de estrada. No fundo, procurou, com o seu texto de opinião, contrariar aqueles que preferem correr em estrada (como, já agora e por questão de clarificação de interesses, é o meu caso ) destacando as “vantagens” do trail. Caiu, porém, no mesmo erro dos que fazem a apologistas inversa.
    O texto seria excelente se não fizesse comparações.
    Eu sou daqueles que prefere correr em estrada. É sim, já corri em montanha e sou daqueles que continua a afirmar que “o trail não é para mim” e digo-o porquê uma vez mais: Porque virou moda criar provas de trail em que os “trilhos” (de onde resulta o nome) são cada vez mais técnicos e se dá preferência aos trajectos onde nem as próprias cabras passam. Eu adoro correr ao ar livre. Nasci e vivo em meio rural e os trajectos de montanha agradam-me. O desnível não me assusta. Contudo, ainda tenho algum respeito pela minha integridade física e procuro avaliar os riscos que corro participando em alguns tipos de prova. Correr no meio de calhaus, passar em rios e riachos em que não possa sequer ver onde possa apoiar os pés ou em terrenos onde a probabilidade de partir um pé ou até (como já vi em algumas provas) por em risco a própria vida, não é, definitivamente, para mim. Ter que subir uma parede ou atravessar um rio ou um penhasco agarrado a uma corda, não é para mim. E perdoe-me se discorda, mas na minha modesta opinião nem sequer é “trail running”.
    Para terminar, só mais um reparo: Aplaudo o seu espírito de superação, a sua entrega e combatividade, o seu desejo em chegar mais alto e mais longe. Mas o que é que o desejo de me superar a mim mesmo, em cada prova, treino ou competição, só porque o faço em estrada, tem de menor valia?
    Cumprimentos

  2. Um belo texto e uma bela resposta.

    Eu sou de estrada, mas adoro montanha. Não faço maratonas e também não faço ultra – trails.

    Sou um privilegiado 🙂 🙂

  3. Caro Salomão, obrigada pelos comentários. Correr em estrada não tem nem mais nem menos importância, é só diferente. Eu própria comecei em asfalto e fiz e ainda faço meia maratonas. Decidi escrever este texto apenas como forma de ironizar com alguns aspectos do trail running. Espero que siga as sapatilhas pensadoras e as nossas aventuras. Obrigada 😊

  4. Gostei do texto. Gostei da resposta. Gosto de estrada (prefiro!) e gosto de trail.

    Continuo é sem perceber porque é que numa corrida o mais importante tem que ser a superação pessoal e não a componente competitiva.

    E passo a explicar o meu ponto de vista para não haver mal-entendidos.

    Eu não sou, nem de longe nem de perto, o mais rápido nas corridas onde entro mas estou, digamos, no grupo logo atrás dos “profissionais”, e, além da tal superação pessoal e o querer melhorar os meus recordes pessoais, a classificação também é importante para mim e devia ser para todos porque, afinal, é uma c-o-r-r-i-d-a.

    E sendo uma corrida, faz-me muita confusão ver atletas(?) a fazer maratonas, trails longos e ultras sem o mínimo de preparação (ou condição) física para tal somente pela tal “superação pessoal” e para exibir a medalha de finisher nas redes sociais, parecendo estar completamente alheios aos malefícios de tais esforços sem a devida e adequada preparação.

    E até considero que alguém que termine, por ex., uma maratona em mais de, vá, 5h (para ser simpático) não só comprova que não estava devidamente preparado como também demonstra algum desrespeito por quem andou meses a treinar e preparar-se adequadamente.

    Dito isto, é só uma (a minha) opinião, boas corridas, bons treinos e, preferencialmente, sem lesões.

    Cumpts

  5. Bom texto (porque sou uma adepta de Trail), mas também boas respostas.
    Uma caminhada, também pode ser também “uma superação pessoal”, depende da pessoa que a faça e das condições que tem para a fazer.
    Como referi gosto de fazer Trail, embora por vezes também corra em estrada e faça algumas provas. O Trail para mim é tudo o que o texto principal refere, mas cada um de nós tem as suas características, os seus gostos…. e acima de tudo devemos respeitar os outros com a sua personalidade e forma de estar na vida.
    Existem pessoas que gostam de se superar no Trail, outras na estrada, outras na caminhada, outras no futebol, etc, etc.. Acima de tudo o respeito pelo outro, para que possamos ser respeitados.

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