Tal como aqui tínhamos prometido antes das suas partidas para a Maratona das Areias, eis a entrevista com os bravos portugueses que tanto honraram a nossa bandeira e tantas alegrias nos deram. Parte das perguntas foram colocadas pelos nossos leitores, aos quais agradecemos a amabilidade.
Marco Silva
O pior e o melhor momento da MDS?
Susana Simões
Os piores momentos foram vividos à noite, com as constantes insónias motivadas pelo pavor dos animais venenosos e a tempestade no dia de descanso, que incluiu de tudo, desde o vento ciclónico que arrastava areia e pó de forma indiscritível, até ao frio, chuva e granizo! É difícil eleger o melhor momento pois as emoções vividas foram imensas, mas no topo da lista está sem dúvida a alegria que senti (o coração parecia explodir) a meio da etapa de 82 km (4ºetapa) quando atravessei um sistema dunar sem ver ninguém no horizonte, aí a beleza envolvente era tal que não contive as lágrimas e pensei quão felizarda era por estar ali. Outro dos melhores momentos foi a receção do Telmo na meta, radiante e orgulhoso, quando na 5ª etapa (42km) cheguei em 3º lugar geral feminino depois de uma prova muito disputada com as melhores atletas presentes, exigindo o recurso a energia que não sabia existir. Não posso deixar de incluir nesta lista dos melhores momentos, a chegada das mensagens dos amigos que nos seguiam em Portugal, ao entardecer, trazidas por elementos da organização. A força psicológica que transmitiam era mesmo importante para enfrentar todas as dificuldades.
Carlos Sá
O pior foi no final da etapa de 82km, vomitos e diareia deixaram-me de rastos.
O Melhor foi no final da 5ª etapa (42km) saber que mais uma vez superei os meus limites.
Telmo Veloso
O pior momento foi a noite e a manhã que se seguiram à etapa dos 82 kms. O vento muito forte deitou as tendas abaixo e não nos deixou dormir. Numa situação normal já é complicado mas quando se está cansado após 82kms é desgastante e desanimador.
O melhor momento foi a etapa 5 (42kms) em que, apesar de recear o cansaço acumulado dos 200kms já decorridos, arrisquei acompanhar os 1ºs para tentar ajudar o Carlos Sá. Correu muito bem e fiquei em 9º nessa etapa e fui recebido com um abraço do Carlos. No final dessa etapa, Portugal foi comentado pela interajuda demonstrada e ter colocado 2 atletas no top 10 e a Susana em 3º entre as mulheres.
Fernando Ramos
Em que altura apetece desistir?
Susana Simões
Nunca me ocorreu desistir. Era tão importante realizar este sonho que só mesmo uma lesão grave me impediria de terminar o desafio, a correr ou a caminhar.
Carlos Sá
Nunca.
Telmo Veloso
Nesta prova nunca pensei em desistir.
Como é que se consegue suportar temperaturas negativas durante a noite com o pouco equipamento que se leva para a prova?
Susana Simões
O saco-cama que levamos nunca nos deixou sentir frio, pelo contrário. Como este ano as noites estavam mais amenas do que o habitual até tivemos calor.
Carlos Sá
Este ano as temperaturas estavam mais amenas durante o dia e noite, mas um bom saco cama é a solução.
Telmo Veloso
Felizmente as noites não estiveram tão frias, mas a qualidade do saco cama pode fazer toda a diferença. O nosso tem uma temperatura de conforto para -5 graus (este ano até foi quente demais).
Que tipo de problemas aparecem depois de correr mais de 8 horas seguidas na areia?
Susana Simões
Felizmente, não tive problemas significativos, apenas o cansaço normal nas partes mais difíceis e alguma tentação de caminhar nas dunas mais altas. Mas a passagem pelo “equador” da etapa (a partir do abastecimento aos 49km) despoletou um aporte energético inesperado, resultante de uma força psicológica que inibiu a sensação de cansaço!
Carlos Sá
Já estamos hà 3 dias a correr no limite fazer mais 82 leva-nos perto da exaustão.
Telmo Veloso
O único problema que senti ao longo das etapas foram algumas quebras de energia (parece que deixava de sentir as pernas e os braços), nesses momentos comia de imediato 1 gel e uma barra e seguia em frente. Aconteceu no final da 2ª etapa e por 3 vezes nos 82kms. A última ocorreu aos 70kms e como já só tinha 2 géis que se destinavam à etapa seguinte tive de aguentar até à meta sem ingerir nada (é a gestão necessária numa prova de etapas). Foi estranho porque parecia que as pilhas estavam a acabar e cada vez ia mais devagar sem conseguir reagir.
Paulo Rodrigues
Como é a recuperação de uns dias para os outros? Como se sentiam de manhã, em termos físicos, antes da partida para as várias etapas?
Susana Simões
De manhã sentia muito sono pois raramente conseguia dormir. O cansaço esteve presente antes da partida e nos primeiros kms, mas depois de aquecer e de encontrar o ritmo certo, adaptado ao peso da mochila, o organismo acabou sempre por me surpreender.
Carlos Sá
Uma boa gestão de esforço é o segredo mas este ano comecei e acabei de prego a fundo, foi duro mas valeu a pena, aqui a cabeça corre mais que o resto do corpo.
Telmo Veloso
Quando acordava naturalmente sentia as pernas pesadas e doridas, não só pelo esforço das etapas anteriores mas também por dormir em cima de pedras (o tapete no chão da tenda e o pequeno colchão que levamos não nos protegem das irregularidades do terreno), mas quando começava a correr tudo passava e só sentia a adrenalina da competição.
António Pinheiro
Depois de correr mais de 80km, de onde veio aquela energia para começar a dançar?
Susana Simões
Desde o primeiro dia de prova que rezava para não ficar nos 50 primeiros da geral para não partir às 12h na etapa longa, por causa do medo de me perder sozinha à noite nas dunas. Parti nessa etapa às 8h45 e o pensamento de passar todas as dunas ainda com luz foi constante, o que me ajudou a não ceder à tentação de caminhar. Nem queria acreditar quando passei no último abastecimento ainda sem a noite chegar! Tinha conseguido passar a parte mais difícil ainda de dia e isso encheu-me de alegria. Antes de começar a etapa pensava fazer entre 14 a 16h e quando percebi que estava quase no fim, com energia e prestes a completar a prova com um tempo muito inferior ao previsto a emoção foi imensa! Qualquer um teria dançado nestas condições!
Dançar à chegada também era uma forma de transmitir à minha mãe que tudo estava bem comigo e por isso conseguia correr com alegria e prazer! Isso foi efetivamente uma constante, pois doseei o esforço a pensar nas 6 etapas, como um todo, com o objetivo de chegar bem fisicamente ao fim!!!
José Manuel Cunha
E a resiliência uma das melhores amigas neste tipo de provas?
Susana Simões
De facto é necessário ser forte psicologicamente para enfrentar todas as dificuldades que nos vão surgindo, pois são muitos dias e tudo pode acontecer. Não é simplesmente uma corrida de mochila às costas. Há diversos fatores, alheios à nossa vontade, que poderão condicionar o desenrolar da prova.
Telmo Veloso
É efetivamente a nossa companheira em todas as etapas. Temos de ter a capacidade de nos adaptar a todas as adversidades (e são muitas) sempre com uma mentalidade positiva. O corpo humano é fantástico e nesta prova conheci limites que desconhecia. Por exemplo, para fazer toda a prova sempre a correr (eu, a Susana e o Carlos conseguimos) é necessário evitar cair na tentação de começar a andar e acredita que a vontade é muita, especialmente na etapa dos 82kms.
Fernando Costa
O facto do Carlos Sá ter participado na edição de 2011 teve um peso muito importante na classificação deste ano?
Carlos Sá
Sim claro. Deu-me confiança para superar esse mesmo resultado, embora seja difícil fazer comparações com tempos e classificações de uns anos para os outros. Há muitos factores que influenciam: a nossa forma actual e dos outros atletas, clima, problemas físicos, etc…
Jorge Romba
Para o Carlos Sá: Tem consciência do impacto que os seus resultados desportivos estão a ter no nosso país?
Carlos Sá
Não, mas se as pessoas aproveitarem o meu exemplo e acreditarem que com trabalho tudo é possível e em qualquer idade, fico muito satisfeito por dar esse contributo às pessoas.
Para o Telmo e Susana
Era a classificação que estavam à espera?
Susana Simões
Depois do que me aconteceu na Transalpine em setembro de 2011 (uma entorse de grau II que me impediu de continuar em prova e consequentemente também ao Telmo, pois a mesma realizava-se por equipas) encaro com muito mais respeito todos os desafios, sobretudo aqueles que se realizam por etapas. O nosso sonho era concluir mais este desafio a dois, sem lesões e com muitas histórias para contar. Não parti a pensar em qualquer outro objetivo competitivo, até porque, depois de estar sem correr dois meses após a entorse, o início da fase de preparação para esta prova foi deveras conturbado, tive vários sustos e parei de correr várias vezes por outras lesões colaterais, felizmente pontuais, mas o suficiente para incutir a humildade que me fez encarar o desafio com muita cautela. Conseguir o 6º lugar geral feminino, e 52º lugar na classificação geral, para mim, foi fantástico e motivo de alegria! Acompanhar a progressão brilhante do Telmo até ao 13ºlugar foi uma felicidade e orgulho em duplicado.
Telmo Veloso
O nosso principal objetivo era concluir a prova e, se possível, conseguir fazer os 250kms sempre a correr. Se o fizéssemos sabíamos que ficaríamos nos 100 primeiros. O meu 13º lugar era inimaginável no início, tinha uma remota esperança de concluir no top 20 e julgava que já era excelente concluir no top 30. O 13º foi uma grande surpresa.
Rui Manuel Cunha Campos
Atendendo à dureza não só física como psicológica desta prova, como se prepararam psicologicamente para ela e como ultrapassaram os momentos mais difíceis?
Susana Simões
A preparação psicológica para esta prova é algo que se constrói com as experiências vividas em desafios anteriores. Vamos conhecendo o nosso corpo e sabendo quais os seus limites e fraquezas. Por exemplo, no meu caso, sei que no início de cada prova tenho sempre uma dor na perna direita e só deixo de a sentir depois de aquecer bem. Há dias em que demora mais tempo a desaparecer mas tento ser paciente e vencer o desânimo de ver toda a gente a passar por mim, pois sei que quando conseguir correr normalmente a energia e força de vontade redobram, e a situação acaba naturalmente por se inverter. Neste tipo de provas temos de confiar no nosso próprio ritmo e não tentar seguir ninguém. Encarar os abastecimentos como submetas é algo que também ajuda bastante.
Carlos Sá
Não me preparo psicológicamente, tenho sempre presente que tenho que dar o máximo em cada etapa e chegar ao fim. Como conseguimos ultrapassar essas dificuldades não consigo explicar.
Nelson Barreiros
O que levam na mochila a nível de alimentação?
Susana Simões
Levamos comida desidratada, gel, barras energéticas, frutos secos, cereais, cerelac, café instantâneo.
Carlos Sá
Muesli, frutos secos e massa liofilizada.
Telmo Veloso
A minha mochila levava 4,7kgs de comida. Comida desidratada, vários géis e barras, cerelac, muesli e muitos frutos secos.
Victor Carvalho
O que comiam no final das etapas?
Susana Simões
Comíamos refeições desidratadas e frutos secos.
Telmo Veloso
Comida desidratada, frutos secos e muesli.
Alguma vez tiveram que racionar a água?
Susana Simões
Não havia água para desperdiçar. Tínhamos o suficiente para beber, lavar a cara, os dentes, as mãos e pouco mais.
Carlos Sá
Não, é suficiente a que nos dão ainda por cima este ano as temperaturas nem pareciam ser as de um deserto.
Telmo Veloso
Não, a água chegou. Mas também nunca gastamos água a lavar roupa nem a tomar banho.
Lavavam os pés com quê?
Susana Simões
Nunca lavamos verdadeiramente os pés.
Carlos Sá
Nem as mão quanto mais os pés 🙂
Telmo Veloso
Nunca tive a necessidade de lavar os pés e graças a Deus não tive bolhas.
Há um trilho pré-definido e marcado? Se não, como faziam para não se perderem?
Susana Simões
O caminho esteve quase sempre marcado, à exceção das dunas. Tinha sempre muita gente à minha frente e por isso apenas tive dúvidas na etapa de 82km, pois logo no início, nas primeiras dunas, vi três opções de trajetória e escolhi a pior. A meio dessa etapa já não via quase ninguém, por isso tive de fazer um esforço grande para me orientar na segunda parte das dunas.
Carlos Sá
Parte dos trilhos estão marcados mas tem zonas em que necessitamos de orientar com bússola ou confiar nos outros.
Na etapa de 82 kms, qual a sensação de correrem no deserto de noite?
Susana Simões
Felizmente não corri muito à noite, penso que talvez tenha sido mais ou menos uma hora. Digo “felizmente” porque a sensação de insegurança era dominante. O medo de me perder não permitia apreciar os encantos da noite.
Carlos Sá
Muito boa. Pena estarmos já no limite e não desfrutarmos. O tempo também não ajudou, tivemos vento insuportável todos os dias.
Telmo Veloso
O percurso estava sempre marcado, à semelhança das corridas de trail. O único local que por vezes provocava dúvidas era nas dunas porque só indicavam a direção (através dos graus da bússola), mas mesmo ai nunca me perdi.
Luis Carvalho
Fizeram algum tipo de treino especial para a MDS?
Susana Simões
O treino que fizemos não fugiu muito do habitual. Nadámos, andámos de bicicleta (quando não podia correr devido às lesões que surgiram, apenas andava de bicicleta) e corremos. Fizemos alguns treinos de corrida na areia e outros na montanha.
Carlos Sá
Infelizmente arranjei uma lesão um mês antes e não fiz um único treino com mochila, só corri na última semana, de resto foi ginásio para proteger o pé.
Telmo Veloso
Corremos algumas vezes na areia (praias da Comporta e S. Jacinto) e também algumas vezes com a mochila às costas.
Correr Por Prazer
Nas questões de higiene pessoal. Como se desenrascaram?
Susana Simões
Melhor do que o esperado. Todos sabemos que no final de um treino ou prova o banho quente é fantástico e pensamos ser impossível deixar de o fazer, mas o nosso organismo tem uma capacidade de adaptação incrível! O recurso a toalhetes foi suficiente e para mim a falta de banho foi perfeitamente suportável.
Carlos Sá
Tomar um bom banho ao fim de 10 dias é a solução, simplesmente não existe qualquer possibilidade de higiene. Levo a pasta de dente e a escova e mais nada.
Telmo Veloso
Higiene pessoal foi à base de toalhetes. As necessidades fisiológicas eram feitas num compartimento especifico em sacos plásticos individuais que no final eram colocados nos contentores do lixo.
Houve cooperação com os restantes portugueses? Como se davam em grupo?
Susana Simões
Durante a prova nunca vimos os outros 2 portugueses, pois estavam em tendas diferentes. Como os horários de chegada ao acampamento eram tão desfasados e o constante vento não suscitava vontade de grandes passeios em redor, acabámos por não descobrir a sua presença, nem fomos contatados por eles, apesar de termos sempre identificado a nossa tenda com a bandeira portuguesa. Obviamente que eu, o Telmo e o Carlos estivemos juntos e houve oportunidade de desenvolver um forte espírito de grupo. Todos colaborávamos nas tarefas diárias, nomeadamente, na procura de paus para fazer a fogueira (com que aquecíamos a água para fazer a “comida”), no frequente arranjo da tenda que implicava tapar o pano com pedras e terra, etc.
Apesar de estarem inscritos por Portugal apenas mais dois portugueses, como já referi, havia um sem número de outros compatriotas a residir fora do país. Um deles, o Serafim, descobriu-nos pela bandeira, no meio das 100 tendas e a partir daí foi uma presença amiga, uma lufada de ar fresco com o seu espírito absolutamente descontraído, e um dos pontos altos da nossa convivência foi a partilha de pequenos, grandes petiscos: trouxe-nos mini salsichas, que entre todos os quatro deu, aproximadamente, 2cm a cada um- um verdadeiro manjar! E o que dizer da carne fumada preparada no espeto com que nos presenteou, numa fase em que pensar na papa desidratada que tínhamos para comer era um perfeito antídoto para o apetite?! Nem sei como consegui recusar! Todos comeram menos eu… pois apesar de estar enjoada da “papa” tinha medo que a carne estivesse estragada e o meu organismo respondesse com vómitos ou diarreias.
Carlos Sá
Com o Serafim subretudo, grande homem e também Nortenho, com um espirito de diversão sempre disponível para nos ajudar.
Telmo Veloso
Eu, a Susana e o Carlos só nos demos com outro português chamado Serafim que está emigrado na Suíça. Pessoalmente nunca cheguei a conhecer os outros 2 portugueses em prova.
Nas etapa de 42 Kms a seguir aos 81,5 kms, todos julgávamos que os italianos iriam “atacar” pois estavam muito perto do Carlos. No entanto deliramos deste lado com o facto de o Telmo e o Carlos se unirem e deixar os italianos ainda muito mais para trás. Como tudo aconteceu? Estudaram essa estratégia?
Carlos Sá
Por vezes não sei onde vou buscar força quando já estou morto e sem conseguir ingerir energia como aconteceu durante a etapa dos 42km. Tinha passado mesmo muito mal a noite e dia seguintes. Aos 82km só consegui ingerir uma massa liofilisada e um punhado de cereais em 24h depois de um esforço brutal, durante os 42km só levei dois geis e com muito esforço consegui ingerir, valeu-me a vontade de vencer e a ajuda do Telmo que numa atitude (sem estar combinada) saltou para a frente da corrida a marcar o andamento do Francês que era uma ameaça à minha classificação, sempre a olhar para trás como a me puxar com uma corda. Percebi logo a sua intenção mas o corpo estava fraco e não respondia, até que lá consegui alcançar-los e ter força para acabar os dez últimos km’s em autentico sprint ganhando 4 min aos primeiros. Foi lindo e talvez uma das provas mais bem conseguidas da minha vida. OBRIGADO Telmo. És grande. Dois Portugueses no top 10 nessa etapa deixou todos admirados.
Telmo Veloso
Aconteceu naturalmente. Eu, antes do tiro de partida da etapa, tinha-me preparado para tentar acompanhar um atleta japonês que já tinha demonstrado uma grande regularidade na etapa dos 82kms ao terminar em 3º. Quando comecei a correr e reparei no atleta francês a afastar-se e não vi o Carlos decidi ir atrás dele para ver até onde ia. Com o decorrer dos primeiros 10 kms fui reparando no esforço que o Carlos estava a fazer para nos apanhar, eu limitava-me a incentivá-lo a alcançar-nos. Quando nos juntámos aos 12 kms fizemos trabalho de equipa na perseguição do francês e de um marroquino até ao 2º abastecimento. Depois descolei e tentei manter a posição até ao final. O esforço compensou pois o Carlos ganhou tempo aos italianos e eu obtive a minha melhor classificação numa etapa, 9º lugar.
O que faziam nas horas vagas?
Susana Simões
No final de cada etapa fazia exercícios de flexibilidade, preparava logo a mochila para o dia seguinte, colocando as barras e gel na bolsa mais acessível, para ingerir durante a prova. Seguia-se a procura de paus para fazer a fogueira e a preparação do “almoço”. Às vezes ainda havia paciência para fazer um café. Nos primeiros dias em que o vento ainda era tímido passeávamos pelas dunas e tirávamos fotografias. Quando era mesmo impossível suportar o vento procurávamos refúgio na tenda dos médicos (com a desculpa de ter uma pequena bolha para tratar) ou na tenda da net, onde se podia enviar apenas um email diário. Pelo menos aí conseguíamos estar mais protegidos da areia e pó levantados pelo vento infernal. De regresso “a casa” consultávamos o Road book, “estudando a lição” para o dia seguinte, designadamente, a identificação das dificuldades da etapa e memorização da localização dos abastecimentos, fundamental para gerir a água necessária. Entretanto, como anoitecia por volta das 18h30, era novamente altura de preparar a “papa”. E depois só restava esperar a chegada do “João Pestana”.
Para quem era impossível adormecer antes das 10h, como foi o meu caso, era uma alegria, quando nos vinham entregar as mensagens. Já tinha algo para fazer nesses momentos de insónia, enquanto já todos ressonavam!
Carlos Sá
Descansar, descansar,…
Telmo Veloso
Andávamos a apanhar paus para a fogueira, comíamos, descansávamos, conversávamos, íamos ao posto médico se fosse necessário e dormíamos. Nada de especial.
Receberam as nossas mensagens?
Susana Simões
Penso que falharam algumas, mas a maioria recebemos.
Carlos Sá
Sim e foram demasiado importantes mas creio que a organização não entregava todas ou aconteciam alguns erros.
Telmo Veloso
Era o melhor momento do dia no acampamento. Só estando lá é que consegue imaginar a importância que aquelas palavras têm. Quando ouvíamos as voluntárias a falar nas tendas ao lado ficávamos logo ansiosos porque íamos receber as mensagens do dia. Foi fantástico receber tantos incentivos. Recebi diariamente 6/7 páginas (com uma letra muito pequena) e soube que muitas mensagens não nos foram entregues. Os espanhois que estavam na nossa tenda ficavam admirados com quantidade de folhas que nos davam. Eles recebiam 1 folha por dia…
Obrigado
Pela excelente entrevista. Foi um prazer seguir e incentivar a vossa excelente participação. Continuem a ter o prazer de correr por prazer.
Abraço
J. Nogueira
Obrigado aos três pelos esclarecimentos e parabéns pela vossa simplicidade e humildade!
Obrigado Vitor por incluires as minhas perguntas!
Grande abraço
Paulo Rodrigues
Epa … é um orgulho tão grande, os 2 Reis e uma Rainha do Deserto 🙂 PARABENS AOS 3 🙂
MUITO obrigado aos três HEROIS do deserto.
Obrigado pelo vosso exemplo, obrigado pela força que transmitiram, obrigado pela vossa perseverança e humildade.
É disto que o meu Portugal precisa.
Um GRANDE BEM HAJA para os três !!!!
Do que li. “só” posso ficar orgulhoso pelas façanhas e superações dos heróis do deserto. Obrigado pelas lições que nos deram. Parabéns!
(Agradecimentos também ao Vítor pela coordenação da entrevista).
É destes exemplos que o atletismo precisa!
Gostei do que li, mas provavelmente durante a prova surgiram momentos terríveis, e que vocês nunca o narraram, porque o desejo de cumprir com o objectivo, ultrapassa todos os sofrimentos e desânimos. Admiro-os, fiquei fascinado com a entrevista.
A todos um grande abraço
João Lopes
Apenas uma palavra encontro para vos definir:
ENORMES!
PARABÉNS pela vossa prestação!
ler e “viver” um bocadinho do que estes super-atletas fizeram é um motivo de grande orgulho a que ninguém dá valor (parece que o futebol é o único desporto neste país). A todos eles eu desejo grandes vitórias! A Susana eu digo mais uma vez: é uma referência para nós mulheres! Ao Carlos, que continue a ser a pessoa humilde que é e ao Telmo, que continue o parceiro espectacular que tem sido!