Bursite trocantérica

Autor: Joao Carlos Maia  /   Setembro 15, 2011  /   Publicado em Lesões e Doenças
Tags: Analgésicos, anca, anti-inflamatórios, bursite, fisioinforma, gelo, glúteo

Bursite trocantéricaO termo bursite designa a inflamação de uma bursa: um fino saco formado por duas camadas de tecido sinovial, preenchido com líquido sinovial, que se localiza em regiões onde há fricção entre tendão e osso, ou entre pele e osso. Embora uma bursa geralmente contenha muito pouco líquido, no caso de se lesionar pode inflamar, aumentando a quantidade de líquido no seu interior.

No entanto, neste caso específico, tem-se vindo a descobrir que não é tanto a bursa trocantérica (localizada na face lateral da anca, sobre a proeminência óssea do grande trocanter e sob o médio nadegueiro e tensor da fascia lata) mas sobretudo outros tecidos desta região, como músculos, tendões e fáscias, que poderão estar na origem dos sintomas. Assim tem-se introduzido o termo mais genérico Síndrome de dor trocantérica em vez de apenas bursite trocantérica.

Esta lesão pode resultar de um traumatismo agudo ou de micro-traumatismos provocados por esforços repetitivos:

  • Os traumatismos agudos incluem contusões por quedas, em desportos de contacto e outras fontes de impacto.
  • Os micro-traumatismos provocados por esforços repetitivos incluem a irritação da bolsa trocantérica devido ao atrito provocado pela banda ílio-tibial, que é uma extensão do músculo tensor da fáscia lata, com consequente lesão desta estrutura muscular. Essa irritação, repetitiva e cumulativa, ocorre muitas vezes em corredores e outros desportistas, mas também pode ser vista em indivíduos menos activos.
  • Outros factores predisponentes incluem uma discrepância no comprimento dos membros, fraqueza muscular do abdutor da anca, e cirurgia com abordagem lateral da anca. Cerca de 80% dos casos de síndrome de dor trocantérica ocorrem em mulheres.

Esteja alerta para os seguintes sintomas:

  • Dor aguda na região lateral da anca, agravada pela pressão sobre a extremidade óssea do grande trocanter.
  • A dor pode irradiar para baixo pela face lateral da coxa, geralmente não passando para baixo do joelho.
  • Nos casos de traumatismos agudos, o paciente pode lembrar-se do impacto que causou a lesão.
  • A dor piora quando está deitado de lado, sobre a anca afectada.
  • Poderá acordar de noite por causa da dor.

Diagnóstico

Uma boa avaliação, incluindo uma história clínica e exame atento à anca são geralmente suficientes para diagnosticar a síndrome de dor trocantérica. Uma ecografia ou RM poderão ser pedidas para diferenciar quais as estruturas afectadas e adequar o plano terapêutico.

Tratamento

A maioria dos pacientes com síndrome de dor trocantérica reage bem ao tratamento com fisioterapia. O tratamento, no caso de ser uma lesão aguda, tem como objectivo inicial controlar os sinais inflamatórios, através de:

  • Descanso: Evite caminhar e estar muito tempo de pé na mesma posição. Caminhar por períodos mais longos pode significar um agravamento da sua lesão. Se necessário, numa fase inicial, use canadianas.
  • Gelo: Aplique uma compressa de gelo na área lesada, colocando uma toalha fina entre o gelo e a pele. Use o gelo por 20 minutos e depois espere pelo menos 40 minutos antes de aplicar gelo novamente. Repita 2 a 3 vezes por dia.
  • Analgésicos e anti-inflamatórios não-esteróides poderão ser receitados pelo médico para controlar o processo inflamatório e aliviar as dores.
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Assim que os sintomas diminuírem, deve ser iniciado um programa de fisioterapia. As técnicas que revelam maior eficácia nesta condição:

  • Exercícios de alongamento progressivo, principalmente do tensor da fáscia lata.
  • Aplicação de ultra-sons e TENS poderá ser benéfica no alívio da dor.
  • Exercícios de fortalecimento dos abdutores da coxa, sobretudo o glúteo médio, serão necessários para o retorno à actividade e para diminuir o risco de recidivas.
  • A aplicação de gelo no final dos exercícios para prevenir sinais inflamatórios.

Caso nenhuma destas intervenções seja eficaz, injecções de uma mistura de corticosteróides e anestésicos locais aplicadas na zona inflamada por um ortopedista poderão aliviar a dor e a inflamação, no entanto a sua acção é apenas temporária.

 

Exercícios terapêuticos para a síndrome de dor trocantérica

Os seguintes exercícios são geralmente prescritos durante a reabilitação de uma síndrome de dor trocantérica. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição de não causarem ou aumentarem os sintomas.

 

 

 

 

Auto massagem dos glúteos Deitado de lado, com uma bola na região glútea. Com a ajuda de braços e pernas pressione a bola em pequenos movimentos circulares. Repita o movimento durante 30 a 90 segundos, desde que não desperte nenhum sintoma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alongamento activo do tensor da fascia lata Em pé, com a perna a alongar cruzada atrás da outra. Empurre a anca no sentido da perna a alongar. Mantenha a posição durante 20 segundos. Repita entre 5 a 10 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fortalecimento dos Abdutores da coxa Sentado, com um elástico à volta dos joelhos e os pés bem apoiados. Faça força para afastar os joelhos. Mantenha a posição durante 8 segundos. Retorne lentamente à posição inicial. Repita entre 8 a 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.

 

Antes de iniciar estes exercícios deve sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.

Referências

Strauss EJ, Nho SJ, Kelly BT. Greater trochanteric pain syndrome. Sports Med Arthrosc. 2010 Jun;18(2):113-9.

Williams BS, Cohen SP. Greater trochanteric pain syndrome: a review of anatomy, diagnosis and treatment. Anesth Analg. 2009 May;108(5):1662-70.

Shbeeb MI, Matteson EL. Trochanteric bursitis (greater trochanter pain syndrome). Mayo Clin Proc. 1996 Jun;71(6):565-9.

 

Autor: João Carlos Maia – Fisioterapeuta

Fonte: www.fisioinforma.com

 

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