Entrevista a Paulo Costa – Director da Meia Maratona do Douro Vinhateiro

Autor: Vitor Dias  /   Junho 07, 2010  /   Publicado em Entrevistas
Tags: 21 km, douro vinhateiro, meia maratona

Entrevista a Paulo Costa - Director da Meia Maratona do Douro VinhateiroComo todos sabem, realizou-se há precisamente 15 dias atrás uma das mais belas provas de atletismo realizadas em Portugal mas que viria a ser também a mais badalada, por terem ocorrido falhas inexplicáveis por parte da Organização. Falamos como é óbvio da 5ª. Meia Maratona do Douro Vinhateiro. A comunicação social, que antes da prova tanto divulgou a mesma, não teve um papel significativo no que respeita à explicação do tormento apresentado por dezenas de atletas que comentaram no nosso site o que se tinha passado in loco. Assim, resolvemos assumir o papel desses órgãos e convidamos Paulo Costa, o director da prova, que prontamente nos concedeu uma entrevista em exclusivo que agora publicamos.

Esperamos ter esclarecido um pouco mais o que se lá passou, restando apenas dizer que a entrevista foi realizada por email e as respostas publicadas na íntegra.

Entrevista a Paulo Costa – Director da Meia Maratona do Douro Vinhateiro

Paulo Costa: (PC) Li atentamente no seu blog, pelo qual desde já o felicito pois é um excelente blog que há muito venho acompanhando, tal como li os comentários sobre a nossa prova e permita-me dizer-lhe de imediato que entendemos perfeitamente a insatisfação e a maioria das palavras sobre o que se passou.

CorrerPorPrazer.Com (CP): Dada a unanimidade de opiniões quando à falha nos abastecimentos, porque não veio a público de imediato assumir o erro, tendo-o feito apenas 24 horas depois no site oficial da prova e de uma forma quase que superficial.

PC: Após a situação passada no passado Domingo com a falha na gestão de abastecimentos, de imediato encarei a situação com a máxima frontalidade, pedindo desculpa a quem a mim se dirigiu no local, tal como pedi igualmente desculpas públicas no palco, desenvolvendo o máximo esforço para que os atletas que se sentiam mal fossem socorridos a tempo.

A minha principal preocupação, naquele dia e após detectar o que se estava a passar, como todos naturalmente entenderam, foi dar assistência às pessoas que se sentiram desidratadas e com anomalias no seu estado de saúde e acompanhar o processo.

CP: Nem no final havia água no saco. Aqui não foi o efeito do calor. Já não estava previsto pois os sacos estariam feitos de véspera. Mais uma vez negligenciaram o mais básico…

PC: No final da prova, tal como o temos vindo a efectuar desde a primeira edição, o nosso patrocinador de bebidas coloca à disposição de todos os atletas, junto ao local de chegada, milhares de garrafas de água, não colocando as mesmas nos sacos-oferta. Aqui será um ponto a rever, tal como estamos a rever todo o sistema de abastecimentos, que obrigatoriamente será totalmente examinado. A Global Sport irá em breve apresentar novidades, expondo uma inovação que irá certamente satisfazer todos os verdadeiros amantes da corrida.

CP: Mas numa prova com tantos apoios, vocês falharam no mais básico e porventura o mais barato. Como é possível uma coisa destas numa organização profissional?

PC: O problema da água existiu e nós estamos a assumi-lo totalmente. Foi uma falha no controlo dos postos adicionado de uma anomalia nos processos de comunicação com o patrocinador de bebidas. Quanto aos apoios, permita-me discordar, pois não somos uma prova “rica”, salientando o facto que a Meia Maratona do Douro Vinhateiro se realiza numa das regiões mais pobres do país, não tendo obtido até hoje qualquer tipo de Apoios Comunitários, do Turismo de Portugal, do Instituto do Desporto de Portugal ou outros do género. Tem sim um prestigiado conjunto de patrocinadores que acreditam neste projecto, que nasceu apenas em 2006, e com o enorme esforço e dedicação de uma equipa jovem e altamente empenhada conseguimos demonstrar que o Douro, apesar de estar localizado no interior do país, é uma Região com enormes potencialidades.

CP: Há vozes que dizem que o nº. de hospitalizados terá sido maior e que a comunicação social “abafou” o caso…

PC: Hospitalizadas foram duas pessoas e assistidas no Centro de Saúde quatro. Felizmente todos recuperaram rapidamente e isso é o que nos apraz registar.

O que os dados demonstram, como facilmente será possível verificar junto das entidades competentes (Centro de Saúde, Hospital e Bombeiros), é que efectivamente as pessoas que foram assistidas no Centro de Saúde do Peso da Régua foram seis, tendo duas destas sido assistidas posteriormente no Centro Hospitalar de Vila Real. Todos tiveram Alta Médica no mesmo dia, à excepção de uma pessoa que apenas foi normalizada no dia seguinte.

CP: Não deveriam ter mais voluntários ou pessoal contratado? No único abastecimento que os atletas dizem que tiveram, haviam 2 escuteiros e os atletas tiveram que eles próprios abrir as paletes da água…

PC: A Organização tinha pontos de abastecimentos de cinco em cinco quilómetros. O que falhou foi efectivamente o controlo destes postos, sendo verdade que os jovens que, como habitualmente, controlam estes postos não tiveram a “força” necessária para esta acção. Aqui, erramos.

CP: Havia um abastecimento com laranjas inteiras. Isto não é um procedimento de uma organização experiente na área…

PC: As indicações fornecidas aos elementos que estavam nos postos, eram para cortarem as laranjas mais perto da hora do evento, pois estava muito calor (se fossem cortadas no dia anterior certamente iriam secar) o que efectivamente não se passou. Mas como referi atrás, a gestão dos abastecimentos não foi bem orientada, pelo que não decorreu de acordo com a restante gestão do evento.

CP: Sei que estão a devolver o valor da inscrição a quem o solicita. Não o deveriam fazer a todos os atletas, sem que os mesmos o tivessem que solicitar?

PC: O caso foi grave, nós assumimos isso perante todos, estamos a enviar já neste momento cartas e emails a todos os participantes que nos fazem chegar a sua reclamação, com um sincero e humilde pedido de desculpas e devolução do valor de inscrição ou a oferta da mesma na próxima edição.

Dos quase dois mil inscritos na Meia Maratona, são poucos aqueles que efectivamente nos estão a solicitar a devolução da inscrição. Fazem-nos sentir a insatisfação relativamente à falha nos abastecimentos, mas também nos fazem igualmente sentir que estamos a construir um evento fabuloso, no interior do país, com a duração de quatro dias e com oferta de concertos, exposições, feiras, entradas em museus, guias para grupos e uma organização que tenta, ano após ano, melhorar em todos os aspectos.

PC: Há muita gente a dizer que não volta mais a esta prova. O que pensam fazer para os demover dessa atitude?

CP: Sonhei este evento enquanto criança e construi-o enquanto adulto, com imenso esforço e dedicação. Acredito que em 2011 iremos bater o recorde de participação, anunciando antecipadamente um conjunto de acções que permitirão reconquistar a confiança de todos aqueles que acreditaram neste projecto e que muito agradecemos.

Foram imensas as pessoas que depois de nos fazer sentir com veemência a sua insatisfação, receberam a nossa carta com pedido de desculpas e falaram comigo telefonicamente. Após esta nossa atitude a maioria afirmou o apoio ao evento e transmitiu que na próxima edição voltarão a depositar confiança em nós, sendo que da nossa parte todos podem ter a certeza que tudo será feito para que nada falhe.

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Nós conseguimos construir um evento com a duração de quatro dias, que decorreu nas mais perfeitas condições de Organização, sem falhas e com total atenção a todos os pormenores, a saber:

– Transporte limpo (não poluente), entre a cidade do Peso da Régua e a Barragem de Bagaúste, através de comboio;

– Onde existia um enorme aterro, construímos em parceria com a REFER, uma plataforma gigante para que todos os participantes pudessem descer do comboio num local mágico;

– Após aluimento de terras, a Estrada Nacional 222 encontrava-se fechada desde Fevereiro. Tudo fizemos para reabrir a Estrada e num esforço notável as EP conseguiram realizar uma obra fabulosa que permitiu a passagem de dez mil pessoas;

– Numa intensa parceria com a Associação Empresarial de Vila Real (NERVIR), apresentamos na ExpoVillage do evento uma fabulosa Festa do Vinho e dos Produtos Regionais que recebeu milhares de visitantes, promovendo os produtos da Região, com entrada gratuita;

– Esgotamos praticamente todo o alojamento da Região do Douro, enchemos restaurantes e dinamizamos o comércio;

– Oferecemos de forma gratuita a todos os visitantes dois magníficos concertos. Rita Redshoes na sexta-feira à noite. Giovanni & Friends (André Sarder, Nuno Barroso, Mafalda Arnauth, Tozé (perfume), Berg, João Portugal). Este concerto, com mais de cem pessoas em palco ficará certamente perpetuado na memória de todos e foi grátis.

– Aumentamos o número de efectivos no policiamento, de bombeiros, de voluntários (escuteiros, jovens estagiários de escolas profissionais, amigos da organização), conseguindo envolver mais de quatrocentas pessoas que colaboraram em todo o processo;

– Criamos um processo logístico na Entrega de Dorsais, com vinte computadores e quarenta pessoas;

– Sorteamos um automóvel entre todos os participantes no final do evento;

– Utilizamos os chips de controlo de tempos da Championship (considerada a melhor marca na especialidade);

– Disponibilizamos guias para grupos organizados, que assim puderam visitar a Região com melhor envolvimento;

– Mais de quatro horas de televisão, que promovem uma Região altamente assimétrica e todos os nossos parceiros.

– Programa das Festas em Directo na RTP1, sábado, das 16.30 às 19.30h;

– Transmissão da EDP 5ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro na integra na RTP 2, no Domingo entre as 18 e as 19.30 horas;

– Oferta de um voucher com 50% de desconto nas visitas ao Museu do Douro para os participantes da MMDV;

– Oferta de uma garrafa de vinho do Douro (DOC 2002) aos atletas de Meia Maratona.

Estes factos não desculpam certamente a falha nos abastecimentos, mas compreenderá que a Organização foi dedicada e que o erro não foi, de forma alguma, premeditado ou facto de desleixo. Aí sim, seria certamente um acto criminoso.

Da nossa parte, sublinhamos o nosso pedido de desculpas e reafirmamos que estamos totalmente empenhados em preparar a próxima edição, que terá lugar no dia 22 de Maio de 2011, com uma atenção ainda mais intensa de forma que problema algum possa voltar a existir. Estamos a ouvir todos aqueles que nos fazem chegar reclamações e que desde já estão a sugerir alterações que iremos respeitar.

Permita-me só informar que desde a primeira edição que esta Organização tem colaborado com associações de jovens com deficiência, bombeiros e com causas ligadas à oncologia. Simplesmente fazemo-lo sem publicidade, pois ajudamos as instituições da nossa região sem querer com isso algum dividendo, sabendo que essa deverá ser uma missão de todos.

Resta-nos esperar a compreensão de todos e entender as palavras que nos dirigem.

CP: Falando do trajecto da prova (Meia Maratona), porque é que o ponto de retorno (pipa) não se faz mais à frente, evitando assim que a prova acabe a subir?

PC: É um ponto a rever. São vários os atletas que nos estão a colocar essa questão e o professor João Campos, Director Técnico do evento, está a avaliar todas as possibilidades. Aliás o professor está a reunir alguns dos melhores especialistas na matéria de forma a que em breve possamos apresentar um evento melhorado em todos os seus aspectos técnicos.

CP: Não acha que as partidas da caminhada e Meia Maratona deveriam ser em locais diferentes, por exemplo a MM em cima da barragem e a Caminhada mais à frente já em direcção à Régua? É que há sempre grande confusão na partida…

PC: De acordo com as primeiras análises da nossa equipa técnica, na próxima edição o evento irá sofrer profundas alterações, nomeadamente a separação das provas, com horários diferentes.

O que pretendemos é ter uma Meia Maratona de excelência, ao nível do melhor que se pratica no mundo, e uma Mini Maratona que represente uma festa gigantesca das gentes do Douro.

CP: Li numa entrevista sua que tem como objectivo colocar a Global Sport no topo das empresas nortenhas. Este evento não terá sido um passo atrás nesta sua pretensão?

PC: A Global Sport é uma empresa que está a percorrer o seu caminho, com uma fabulosa equipa de pessoas altamente qualificadas, jovens, que pretendem lutar contra as assimetrias nacionais e dessa forma lutarmos por desenvolver no interior do país um projecto ao nível das melhores práticas de gestão.

Acreditamos que este episódio não foi um passo atrás, mas sim uma aprendizagem inesquecível.

Para todos nós é um orgulho constatar que conseguimos apresentar um evento único em Portugal, pois nenhum evento de atletismo consegue reunir tão vasto conjunto de iniciativas em volta de uma prova desta natureza oferecendo tantas vantagens pela participação no evento.

Esperamos efectivamente continuar a percorrer o nosso caminho, sendo que a nossa equipa está já totalmente empenhada em preparar a próxima edição d´A MAIS BELA CORRIDA DO MUNDO, pelo que estamos certos que a 6ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro irá atingir um alto patamar de qualidade, quer ao nível da gestão do evento quer ao nível da envolvência criada com os atletas.

Neste preciso momento estamos a organizar o 43º Circuito Automóvel de Vila Real, que na edição anterior reuniu em Vila Real mais de cento e cinquenta mil pessoas e desejamos que tudo decorra como na edição anterior onde nada de anormal se passou. Neste evento teremos mais de mil pessoas a colaborar com o evento e a nossa pretensão é que Vila Real consiga afirmar-se novamente como a Capital do Desporto Automóvel em Portugal.

Depois deste teremos um evento na China, onde iremos realizar uma fabulosa acção de promoção externa com a marca DOURO. Iremos realizar três jogos em três das maiores cidades chinesas, sendo o último jogo no Estádio Ninho de Pássaro. Levaremos a acompanhar uma Selecção de Futebol do Douro (com jogadores de toda a Região Norte de Portugal) uma comitiva de cinquenta pessoas, com empresários, políticos e diversas figuras públicas, como o biógrafo oficial de José Mourinho, Luís Lourenço. Nesta acção iremos apresentar publicamente naquele país a 6ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro, afirmando perante um dos mais fortes países do mundo que Portugal, no DOURO, tem A MAIS BELA CORRIDA DO MUNDO.

Sobre Vitor Dias

Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 62 maratonas em 17 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt
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