Entrevista com Tiago Dionisio

Autor: Vitor Dias  /   Julho 15, 2010  /   Publicado em Entrevistas
Tags: entrevista, tiago dionisio

Entrevista com Tiago DionisioCom apenas 36 anos de idade, Tiago Dionisio será com quase toda a certeza o maior maratonista português de todos os tempos. Até à presente data e tendo começado a realizar provas de longa distância há apenas 16 anos, participou e terminou 132 maratonas e ultra-maratonas, em 13 países. Corre entre 550 e 600 Kms por mês. Desde que começou a correr, terá percorrido qualquer coisa como 2 voltas e meia ao planeta terra, ou seja 100.000 Kms. Tal como tínhamos anunciado há uns tempos atrás, o Tiago concedeu-nos uma entrevista em exclusivo que agora o convidamos a ler.

Treinas sozinho ou acompanhado?

Habitualmente corro sozinho durante a semana e acompanhado ao fim de semana.

Quando e como começaste a correr?

Comecei a fazer provas de longa distância pouco tempo depois de ter regressado dos Estados Unidos, onde vivi durante 5 anos. O presidente do Clube do Stress, Prof. João Paço, convidou o meu irmão e eu a treinarmos com o grupo. Nessa altura o Stress tinha uns 5 ou 6 atletas. Hoje em dia somos mais de 100, com boa parte deles a participarem regularmente nas principais provas de atletismo nacionais e internacionais.

Sei que trabalhas num Banco e sei também o quanto abrangente é essa actividade. Como é que consegues trabalhar e preparar-se para tantas corridas. E as provas no estrangeiro? Gastas as férias todas para ires correr?

A preparação para uma maratona bem como a prova em si têm claras semelhanças e benefícios para quem profissionalmente tem funções de grande responsabilidade e stress. Uma excelente condição física é inequivocamente uma garantia para uma maior capacidade de trabalho e de lidar com temas complexos. Por esta razão nos EUA o “pedigree atlético sério” é muito popular como critério de eleição para CEOs e inclusive valorizado na selecção de candidatos para senior management. Há inúmeros exemplos na área onde trabalho: o CEO do BBVA (sr. Angel Cano) e altos quadros de alguns dos maiores bancos de investimento do mundo correram todos a maratona de Nova Iorque do ano passado. Um maratonista integra a corrida no seu dia-a-dia como algo tão natural como tomar banho. Investe-se tempo na condição física com resultados em maior capacidade de trabalho e resistência a situações complicadas para além de quase se acabar com despesas médicas!

Praticas algum desporto alternativo à corrida? Se sim, é porque vês alguma vantagem em termos de performance ou serve apenas para “desenjoar”?

Há cerca de dois anos comecei a ir ao ginásio para fazer algum cross-training. Aproveito para fazer cycling, remo, elíptica e outros exercícios que me ajudam a fortalecer alguns dos músculos mais usados na corrida. É importante fazer este tipo de exercícios como complemento.

Costumas seguir programas de treino muito à risca ou limita-se a treinar sem grandes programas?

Não sou um atleta profissional e como tal o plano de treinos que faço tem de resultar de um equilíbrio profissional e pessoal. As provas em que participo exigem uma constante preparação física e é para isso que treino. Sou bastante exigente comigo mesmo e se posso treinar não há “desculpas”, faça chuva ou granizo.

São tantas as provas em que participas que isso faz alguma confusão como consegues estruturar a tua vida nesse sentido. Fazes um plano anual ou decides em fazer provas quase que em cima da hora?

O meu calendário de provas está centrado na Comrades, que se realiza todos os anos no último fim de semana de Maio. Isso significa fazer algumas maratonas nos primeiros meses do ano como parte da preparação para a Comrades. Habitualmente faço pelo menos Badajoz, Sevilha, Paris, Londres e Madrid. Também gosto de participar nalgumas provas de montanha durante os meses do Verão. É uma boa altura para relaxar e apreciar alguns dos lugares mais bonitos do nosso país. Gosto particularmente das ultras da Serra da Freita e da Trans-Estrela. As provas de Outono/Inverno variam sempre um pouco, mas faço sempre a maratona de Lisboa em Dezembro. É uma prova especial porque foi a minha primeira nesta distância.

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Fazer tantas e difíceis provas em tão curto espaço de tempo, é considerado por muitos como um grave erro. Consideras isso verdade?

Se fizermos algumas provas a ritmo de treino, não vejo problema nenhum em participar em várias corridas difíceis por ano. Agora, não se pode esperar dar o máximo em todas elas porque isso aumenta as probabilidades de lesão, etc. Na minha opinião há que pensar que há provas que servem como teste/treino para outras provas mais importantes. É importante ter esta mentalidade quando alinhamos na partida de cada prova.

Qual o maior erro que já cometes-te em corridas?

Fazer duas das ultra-maratonas mais difíceis do mundo no espaço de uma semana e em dois continentes diferentes (África e América do Norte).

Nem o facto de teres sido hospitalizado e o teres estado gravemente doente te fez parar. O vício ou o prazer de correr justifica este facto?

Acho que é um pouco de ambos: o vício e o prazer de correr. Felizmente consegui recuperar bem do “acidente” que tive em 2006 e consegui regressar às provas de longa distância. Foi graças aos médicos que me trataram, à minha família e aos meus amigos. Todos me deram um apoio espectacular e é neles que penso quando corto a meta de cada prova em que participo.

Qual a melhor recordação que tens de provas?

Lembro-me bem dos momentos antes de cortar a meta da cada Comrades em que já participei e do barulho ensurdecedor das pessoas em certas zonas do percurso. A Comrades é mesmo uma prova muito especial que guardo sempre no meu coração. Também me lembro bem das maratonas em que participei ao lado de pessoas amigas. Temos o dobro da felicidade quando partilhamos o esforço de uma prova com alguém mais próximo.

Seguramente que ainda te falta participar em muitas provas por esse mundo fora mas qual a corrida que ainda te falta participar?

Gostava de poder influenciar mais pessoas a correr e a terem hábitos de vida mais saudáveis. Gostava muito de participar na Marathon des Sables e na Jungle Marathon pelo desafio que representam.

Quais as provas em que já participaste que aches que nenhum corredor deveria perder?

As maratonas de Londres, Nova Iorque e Boston. Para quem gosta de provas mais longas, recomendo vivamente a Comrades e a Western States.

Nunca te saturaste de correr?

A corrida faz parte do meu dia a dia há alguns anos. Claro que há dias em que a vontade e a motivação para correr são menores que outros. Todavia, não é por isso que deixo de calçar os ténis e correr alguns quilómetros. Como diz o ditado, “quem corre por gosto não se cansa”….

Agradecimento: Miguel Magalhães

Sobre Vitor Dias

Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007 tendo completado 62 maratonas em 17 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt
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