Numa altura em que a democracia também está em crise, lembrei-me de chamar assim a algumas notas às quais a corrida me tem chamado à atenção.
Não conheço nenhum desporto que seja tão popular, tão acessível e tão democrático como a prática da corrida. Novos, velhos ou crianças, mais devagar ou mais apressados, são milhares os que já conseguimos ver a percorrer as ruas da nossa cidade ou país, seja em treinos, passeios, caminhadas ou provas. Nunca se viu tal. Estamos ainda muito aquém do que se passa noutros países, mas estamos no bom caminho.
As provas são a preços acessíveis, os equipamentos já foram mais caros, as formas de inscrição nas provas são cada vez mais fáceis de fazer, as empresas organizadoras usam novas formas de cativar os atletas e os patrocinadores aderem a este “boom” a que todos assistimos com agrado.
Outro pormenor importante ligado à corrida, foi o facto da internet ter dado voz a quem quer comentar, ajudar e colaborar neste fenómeno desportivo. Já todos nós concerteza consultamos sites ou blogs acerca de determinada prova, sendo de extrema importância as conclusões apresentadas por quem já participou em provas que pretendemos participar no futuro.
Outro ponto que me agrada na corrida (falo de atletas de pelotão), é o facto de não haver vedetas e os que são rápidos não se acharem mais do que os mais lentos. Médicos, electricistas, engenheiros, cozinheiros ou polícias, todos se tratam por tu e não há as hierarquias que em Portugal se vê a cada passo que damos.
Na corrida, todos nos sentimos iguais. Se não houvesse tantas razões para nos fazer correr, talvez esta fosse uma razão mais que suficiente para nos sentirmos tão iguais a quem “na vida real” por vezes só sabe olhar para o seu umbigo.
Boas corridas.
Primeiro-Ministros, Professores Universitários, Ministros, Esposas de antigos Presidentes da República.
É uma grande verdade!
… e colectivo, ao contrário do que muita gente (nos quais eu me incluía) pode pensar. Durante anos joguei umas futeboladas, com vários grupos de pessoas, muitas das quais apenas sabia o nome ou a alcunha e algumas nem isso. Era chegar em cima da hora e sair logo a seguir à chuveirada, sendo que durante o jogo só soltávamos uns “passa” e uns “fosga-se”, e uns “gooolo”, quando a coisa corria bem. Ao contrário, na corrida – desporto supostamente solitário – vai sempre alguém a falar (alguns até demais, mas isso é outra conversa), sendo que por vezes acontece como naquelas viagens de carro em que no fim, e apesar de irmos a conduzir, não nos lembramos de ter passado na maior parte dos locais. Conheço os nomes e as vidas de mais colegas de treino ao fim de 1 anos de corridas do que ao fim de 10 anos de futeboladas.
Um abraço e até breve.
Concordo plenamente na tua ideia Vitor. Quem é que imaginou, a maior parte de nós que correm, hoje em dia correr ao lado e falar com alguns atletas famosos e de grande valor como o António Pinto, Rosa Mota, Aurora Cunha, Albertina Machado e outros…, e mesmo até com os actuais Rui Silva, Jessica Augusto, Vanessa Fernandes e tantos outros…
E não digo só estar e falar, mas tambem com alguns partilhar estórias e experiências.
O atletismo foi sempre um desporto muito democrático, por isso é que após o 25 de Abril de 1974, se deu o boom de provas, pois nessa altura quase todas as freguesias tinham uma prova.
Era a chamada a Democratização das Massas.
Bem hajam a todos que ajudam a proliferação do atletismo, e muitos com muita carolice.