Apresentamos hoje uma nova iniciativa dedicada a recolher, na primeira, pessoa a opinião e experiência pessoal de triatletas.
Sendo este um espaço especialmente destinado a atletas amadores que se esforçam por encontrar tempo para treinar nos intervalos dos compromissos pessoais e profissionais, nada melhor do que encontrar alguns que se destacam neste meio.
Para começar escolhemos uma dupla que representa a dedicação a esta apaixonante modalidade: Telmo Veloso e Susana Simões, atletas do Porto Runners Triatlo.
Embora não se dediquem apenas ao Triatlo, a quantidade e qualidade de eventos em que já participaram aliado ao espírito com que encaram cada novo desafio (já foram e serão muitos mais ainda) reflectem na perfeição alguém que Nada, Pedala e Corre por Prazer.
Podemos considerá-los privilegiados, dado que podem treinar sem dispensar a companhia um do outro! Quantas vezes já não sentimos um peso na consciência por sacrificarmos tempo com a família para poder fazer aquele treino essencial para o nosso objectivo?
No caso deles será que isso é um pouco mais fácil…
Correr por Prazer (CP): O que achas Susana? Concordas que facilita o facto de teres sempre o Telmo ao teu lado naqueles dias em que dá vontade de furar o treino?
Susana Simões: Sempre que é possível treinamos juntos, é uma força adicional. Muitas vezes um está com preguiça mas o outro incentiva e lá saímos para treinar. É uma grande ajuda.
(CP): Qual a tua opinião Telmo? Achas que treinavas tão regularmente se tivesses uma namorada menos desportista e mais sedentária?
Telmo Veloso: Era difícil. Na maioria dos treinos aproveitamos para colocar a conversa em dia, é como se estivéssemos no sofá. Eu sei que a intensidade do treino acaba por diminuir mas, para o tipo de provas que gostamos de fazer (longas distâncias), é suficiente. Eu rio-me quando ouço outros atletas a dizer que a mulher reclama “vais ter outra prova?” ou “são horas de chegar para almoçar/jantar?”. Eu nunca tive esse problema. (risos)
(Nota da redacção): Telmo, nem sabes a sorte que tens. Mesmo!
(CP): Voltando um pouco ao princípio. Como se dá a vossa entrada no Triatlo?
Susana Simões: Foi um acaso. Nós corríamos no Porto Runners e o nosso amigo e colega de equipa Pedro Lopes experimentou um triatlo em S. Maria da Feira. Com o entusiasmo com que nos contou a experiência deu-se um click que nos fez também querer experimentar. Foi uma decisão repentina.
Telmo Veloso: Como em 2006 não existia qualquer clube de triatlo na Cidade do Porto, aliás não existia nenhum clube acima do Rio Douro, decidimos inscrever o Porto Runners na Federação de Triatlo.
(CP): Lembram-se da vossa primeira prova concerteza? Qual foi? Correu bem?
Telmo Veloso: O nosso 1º triatlo foi na Quarteira e foi muito especial. Fomos completamente à aventura, nem as regras sabíamos. Fiz a prova numa bicicleta de BTT do meu pai (eu nem bicicleta tinha) e lembro-me da alegria que senti durante toda a prova. Nadei sempre ao lado da Susana porque ela ainda estava a aprender a nadar e nunca tinha nadado no mar. Lembro-me perfeitamente dos festejos da Susana quando saiu da água, apesar de sermos os últimos.
Susana Simões: Em 2006 havia poucos atletas nas provas, o que tornava o ambiente muito familiar. Lembro-me que no final desse triatlo, durante o almoço, muitos vieram-nos cumprimentar e questionar se éramos mesmo do Porto, era uma novidade. Foi um ano fantástico. Eu, o Telmo e o Pedro não faltámos a nenhuma prova nessa época e fizemos muitos amigos.
(CP): Susana, em 2007 foste Campeã Nacional absoluta de Duatlo. Qual foi a sensação de ser Campeã Nacional?
Susana Simões: Foi uma autêntica surpresa. Fui para a prova no Cartaxo sem qualquer expectativa, sei que nos duatlos sou mais competitiva porque não tenho de nadar, mas nunca sonhei que ganharia o Campeonato Nacional. O Telmo ajudou-me bastante porque fez toda a prova ao meu lado a incentivar-me. Foi um momento único e especial.
(CP): Já subiste algumas vezes ao pódio. Qual a prova que guardas no coração?
Susana Simões: Subir ao pódio é sempre especial e fica sempre no coração. Para além do CN Duatlo de que já falámos, também destaco o Campeonato da Europa de Triatlo Longo que se realizou em Espanha em 2010. Fiquei em 3º lugar no escalão dos 35 aos 39 anos e subir ao pódio, em representação de Portugal, foi muito emocionante.
(CP): Treinar para as 3 disciplinas é muito exigente. Concordam?
Susana Simões: Concordo que é exigente mas não é complicado. As diferentes disciplinas complementam-se entre si e por isso não temos de treinar tanto para cada uma delas. Por exemplo treinámos menos a corrida desde que passamos a praticar triatlo mas, mesmo assim, melhorámos os nossos tempos.
Telmo Veloso: Tem uma grande vantagem, não entramos em monotonia. Mesmo fazendo treinos bi-diários, como são disciplinas diferentes não é tão agressivo para o corpo nem para a mente.
(CP): Qual é para vocês a disciplina mais difícil? Porquê?
Telmo Veloso: A modalidade mais difícil é claramente a natação. Não só porque é onde sou mais fraco mas, acima de tudo, porque obriga-me a treinar num espaço fechado “a contar azulejos”. Nós adoramos o contacto com a natureza e a natação em piscina é claramente o oposto.
Susana Simões: Para mim também é a natação. Aprendi a nadar por causa do triatlo mas continuo com muitas dificuldades. Continuo a evoluir e para isso muito tem ajudado a equipa dos Masters do Leixões e o seu treinador Domingos, mas quando se aprende a nadar em adulto não há milagres.
(CP): Sei que já completaram um Ironman? Que tal foi a experiência? É para voltar a repetir?
Telmo Veloso: Foi o concretizar de um objectivo que tínhamos traçado quando entramos para o triatlo. A minha estreia (e única até agora) foi em 2009, em Frankfurt, numa prova que contou com cerca de 2.500 atletas. Foi uma experiência fantástica apesar do “empeno” brutal que levei no segmento da corrida. Para quem gosta de provas de endurance é um desafio aliciante e que está ao alcance de qualquer um. Claro que é para repetir, talvez em 2012.
Susana Simões: Quando em 2006 comecei a praticar triatlo fiquei delirante por ter terminado um triatlo sprint, depois o objectivo passou para a distância Olímpica, depois para o Meio Ironman, depois para o Duplo Olimpico e por fim o Ironman. Foram degraus que fui subindo e cada um representou um novo desafio. Aconselho todos os atletas que pensam fazer um Ironman a fazerem o mesmo, aprendemos a apreciar o triatlo de outra forma.
Em relação ao Ironman não foi difícil, apesar de ter demorado pouco mais de 12 horas. Numa prova com 2.500 atletas em competição nunca estamos sozinhos e em Frankfurt o imenso público foi sensacional, não parando de incentivar. O treino é longo e duro mas a prova passa muito rapidamente.
(CP): Eras capaz de te dedicar apenas ao Triatlo se isso fosse possível em Portugal? Refiro-me a existência de patrocinadores para viabilizassem um projecto destes para um atleta amador.
Telmo Veloso: Não. Eu faço desporto por prazer e sem o stress dos resultados. Claro que tento sempre dar o meu melhor e gosto de evoluir mas julgo que não gostava que o meu salário dependesse da performance nas provas. O profissionalismo implica a uma dedicação absoluta e na maior parte das vezes o atleta perde o prazer porque passa a ser uma obrigação. Sabe bem, por vezes, fazer gazeta aos treinos e comer o que nos apetece…
(CP): Achas que a modalidade está a crescer ou assiste-se apenas a um entusiamo temporário?
Telmo Veloso: O triatlo está claramente a crescer, tanto em Portugal como em todo o Mundo. Nestes 5 anos que faço triatlo noto que o nº de atletas deverá ter triplicado. A prática desportiva está na moda, cada vez há mais pessoas a correr, a andar de bicicleta, a frequentar ginásios e são essas mesmas pessoas que sonham experimentar o triatlo. Mesmo assim ainda estamos a muitos anos de luz de países como Austrália ou Inglaterra onde o triatlo é praticado por dezenas de milhares de atletas e onde existem clubes, muito bem organizados, em todas as vilas e cidades. Há triatlos com milhares de atletas!
(CP): Susana, achas difícil para uma mulher praticar Triatlo?
Susana Simões: Felizmente as mentalidades estão a mudar e cada vez se vê mais mulheres nas provas. No triatlo, por exemplo nota-se claramente um crescimento na participação feminina, mesmo assim estamos longe da Austrália onde metade dos atletas em prova são mulheres. O triatlo é uma modalidade espectacular, independentemente de se ser homem ou mulher.
(CP): O que acham da Vanessa Fernandes ter suspendido temporariamente a sua carreira? É possível ter resultados sem prescindir da vida pessoal e familiar?
Susana Simões: São opções que se têm de tomar em alguns momentos da vida. Ela, melhor do que ninguém, sabe o que quer e todos nós só temos de entender e apoiar. Ela, apesar de nova, já deu muito para o desporto português.
Telmo Veloso: É o problema da alta competição e o triatlo é uma modalidade que obriga a uma carga de treinos brutal. Estar longe da família e dos amigos durante vários anos acarreta um enorme desgaste mental. Na minha opinião a Vanessa entrou claramente em saturação e neste momento só quer uma vida “normal”, coisa que até há 2 anos nunca tinha tido.
(CP): Para além do triatlo praticam mais alguma modalidade?
Telmo Veloso: A vantagem do triatlo é que nos permite estar fisicamente preparado para entrar noutro tipo de competições. Nos últimos 2 anos temos feito várias provas de Trail e Ultra-Trail. É uma forma diferente de ganharmos força e resistência. Correr no meio da natureza, em terrenos agrestes, com todo o tipo de obstáculo e sem nunca sabermos o que vamos encontrar à frente obriga a uma enorme concentração e liberta-nos completamente a mente. Neste tipo de provas somos nós contra nós próprios, o objectivo principal é superar os obstáculos e chegar ao fim.
Susana Simões: Por acaso no próximo Sábado, dia 5 de Março, vamos participar na Transgrancanária. Vão ser 123 kms a correr no meio dos montes para atravessarmos a ilha da Gran Canária. Vai ser a nossa maior prova de ultra-trail até hoje, em Julho 2010 fizemos 97kms na Vuelta ao Aneto. Não sabemos se conseguimos chegar ao fim, mas vamos tentar….
(CP): Um conselho para quem se está a iniciar?
Telmo Veloso: Aconselho a iniciarem-se em triatlos mais pequenos (sprint), independentemente do objectivo que tenham a longo prazo. A evolução nas distâncias é importante e só assim se consegue usufruir ao máximo do triatlo. O triatlo é fantástico e compensa todo o esforço dos treinos.
Susana Simões: No triatlo, como em qualquer outra modalidade, o mais importante é desfrutar, independentemente dos objectivos que traçamos. Disputem sempre as provas com um sorriso, mesmo quando está a doer (e por vezes dói…). Afinal é o nosso hobby e só estamos lá porque queremos.
Susana e Telmo, muito obrigado pelo tempo que nos dispensaram e por terem partilhado connosco tudo isto. Boa sorte para a Transgrancanária e para todos os vossos objectivos que esperamos que continuem a ter o mesmo sucesso que têm tido até à data. Bem hajam e 1 abraço.
Podem também acompanhar o Telmo e a Susana através do blog Desafios a Dois. Eles prometeram que iriam passar a actualizar o espaço com regularidade.
Parabéns à Susana e ao Telmo, pelo exemplo que são para todos nós. Conhecendo-os bem, como eu conheço, não tenho qualquer dúvida em afirmar que são dois verdadeiros campeões (…) pela dedicação, pelo nível que atingiram e pela boa disposição que sempre transmitem! Tenho pelo Triatlo uma enorme admiração, pois gosto dos três “segmentos” e apesar da minha pouca experiência, tenho como objectivo vir a realizar um Ironman. Boa sorte aos dois – e aos restantes portugueses – para a Transgrancanária. Ficamos na expectativa dos vossos relatos!
Estes dois são de facto do melhor que existe, não só como atletas, mas tambem como pessoas, amigas e companheiras e com uma dedicação e gosto imenso pela pratica desportiva.
Têm desafios futuros muito grandes mas a companhia de um do outro é o suficiente para superá-los.
Boa sorte para a transgancanaria e para os outros a seguir.
E sim, nem um nem outro sabe a sorte que tem, por terem o mesmo gosto pelo desporto e fazerem desse uma rotina diária, com prazer.
Abraços.
Realmente também concordo com a frase,” Que sorte tu tens Telmo!!”,apesar de haver esposas que dão todo o apoio ás nossas maluqueiras,tê-las a praticar ao nosso lado é completamente diferente.
Susana e Telmo, tem sido um prazer conviver convosco e partilhar alguns momentos por essas montanhas,continuem assim e que na Transgrancanaria consigam atingir os objectivos a que se propuseram!
Grande abraço
Paulo Rodrigues
Parabéns Mark
Por teres conseguido esta esperada entrevista. À Susana e ao Telmo, reitero a minha admiração e agradecimento pela mesma.
Boa Ultra
Joaquim Nogueira
Conheci esta “Dupla Maravilha” nos “Caminhos de Santiago” e desde então nunca mais deixei de os admirar. Vê-los chegar de mota a uma prova de montanha e montarem uma cama num balneário de uma piscina é uma imagem que recordo.
São ainda os pais adoptivos do Santiago, o cão que nos acompanhou muitos e muitos kms (como está esta estrela?)
Abraço e felicidades.
É um privilégio ter amigos assim…
Ricardo Bastos
Aplaudo e felicito reportagens como esta, na qual são protagonistas cidadãos-desportistas amadores, representando o verdadeiro espírito do puro prazer da prática desportiva.
Pedro Pinheiro
Grande reportagem.
Sem dúvida estão no coração de toda gente e um exemplo a seguir. Fico contente de fazer parte do vosso círculo como amigo. A entre-ajuda entre vocês os dois realmente é magnífica. Desejo-vos muita sorte ao longo de toda a vida e fica muito feliz e grato por vos conhecer!
Mark Macedo
Este fim de semana, mais um grande feito deste casal:
http://desnivel.com/carreras-y-raids/los-portugueses-susana-oliveira-y-telmo-coimbra-vencen-en-el-isostar-desert-marathon
Grande miuda como me orgulha vim explorar paginas no que nos permite a internet e dar com cara nisto , sô motivos para nos orgulhar ver um membro familiar brilhantear em marcha com a bandeira de nosso portugal , sô mostra o exforço de muitos atletas e muitas das vezes mal reconhecidas , muitas felicidades primota e que possas triunfar sempre e sumar vitorias so a tua determinaçâo te levarè bem longe !! Beijinhos