Deito-me e ainda vejo a lama. Nos ouvidos o zumbido do vento da caldeira. O aconchego da cama contrasta com o frio da casa do Flaminio.
Acho que me lembro de cada passo que dei e de cada palavra que troquei com quem tem histórias de vida para contar numa longa corrida contra os tempos limites de passagem.
“Vassourar” uma prova é mesmo assim. Tanto estás com um atleta que fala a tua língua e que mora na tua rua, como estás com outro que fala outra língua e que vem do outro lado do mundo. O Azores Trail Run tornou-se uma das provas mais cosmopolitas do país e isso “me encanta”.
Mesmo quando tens que correr sozinho por teres deixado os atletas que hipotecaram os seus objectivos deixando-se ficar num posto de controlo, a corrida em montanha dá-me um prazer enorme.
Ser primeiro é ter o mérito de ser melhor, de subir ao mais alto lugar do pódio e de trazer o troféu pelo qual lutou. O vassoura não trás prémio mas trás muitas histórias e experiências de vida que não mais vai esquecer.
Mas será a corrida e a montanha o que mais me dá prazer? Não. Não é.
Fazer marcações com quem não conheces e te tornas amigo ao fim de poucos minutos, almoçar num restaurante no outro lado da ilha onde o proprietário, a sua esposa e o cozinheiro se sentam na tua mesa, não te perguntam o que queres comer, trazem os seus pratos e comem contigo o que vão trazendo da cozinha e que levam a mal quando pedes a conta no final, não tem preço. Ficas com sentimentos para o resto da vida por saberes que há pessoas assim. Que são felizes com o que têm e que não precisam de muito para serem felizes.
O que me dá prazer e enche a alma no Azores Trail Run não são apenas as mais belas paisagens que o mundo tem. São as Anas, os Mários e os Joões, as Marlas e as Isas, as Linas e as Floras, os Antónios e os Pires, os Fredericos e os Pedros, os Otávios e os Andrés, os Hélder’s e as Rosanas, as Auroras e as Sandras, os Matthew’s e os Judas, as Amys e as Lindas, os Orlandos e as Lucindas, os Nunos e as Carlas, os Migueis e os Albinos, as Vanessas e as Bárbaras, os Franciscos e os Ruis, os Leonardos e os Manueis, os Vitor’s e os Césares, os Arsénios e as Sónias, os Jorges e as Carlas e todos os Faialenses e Picarotos que se têm cruzado comigo.
Obrigado a todos pelos momentos de felicidade que me têm proporcionado.
Com chuva, sem chuva, com lama ou sem lama as pessoas irão continuar lá e por essa razão o Azores Trail Run é a única prova em que sou totalista e que espero continuar a ser.
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 67 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal.
Site Oficial: www.vitordias.pt
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Prepara-te que em 2017 estou ai 🙂
Olá Carmen
E garanto-te que nunca mais deixarás de ir.