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Portugal no Hawaii: Ultraman, campeonatos do Mundo 2014 – Parte II

A prova do António foi justamente a conquista de algo que parecia impossível há dois anos atrás. Quando viajámos para Gales, o António apenas pensava terminar o Ultra, depois soube que seria automaticamente qualificado e de repente aqui estamos. Na finish line do dia 3 de um campeonato do mundo de triatlo na sua distância mais longa. Uma vez mais este evento foi um esforço inédito a nível individual, os membros da equipa só podem sentir-se privilegiados porque o atleta dá mesmo tudo em cada etapa.

Etapa 1

O dia 1 é o dia mais difícil dos três, mesmo considerando que tem de correr duas maratonas depois de tudo o resto. Os 10km de natação são apenas o preliminar de uma etapa duríssima.

Começou muito bem, com uma excelente natação e só as correntes ao km 8 impediram que chegasse a bater nas 4h.

A transição por si só já é um pesadelo para muitos triatletas mas ninguém merece aquele primeiro terço do ciclismo. Subidas atrás de subidas. O ponto a favor este ano foi a ausência quase completa de vento contra e ventos cruzados, o que não tinha facilitado o ano passado.

A bike marca o primeiro sector de percurso em que a equipa tem de alimentar, hidratar e orientar  o atleta. O percurso do Hawaii é significativamente mais fácil do que em Gales, sem as dezenas de rotundas e viragens nos cruzamentos. Ainda assim, o cuidado com os sinais de trânsito tem de ser redobrado e o atleta pedala na berma e nem sempre na estrada.

Chegámos na mais completa escuridão, com a voz do Steve King lá ao fundo da estrada, uma chuva irritante a cair e o tempo a arrefecer.

Dia 2 – ninguém merece!

O dia 2 foi… de chuva! E uma chuva sem igual. Aliás a história deste dia resume-se precisamente com o bonito arco íris depois de passar Waimea. A luz ao fundo do túnel, com uma subida de 10km e uma descida (nada inclinada) de 20km. Devido ao piso molhado e aos ventos fortíssimos, o António não quis arriscar e tendo mais do que tempo para terminar, fez o último terço “sem se deitar na bike” para a descida. Terminou com um excelente tempo de 11:14:18

Por esta altura, grande parte do Ultraman estava feito, faltava terminá-lo.

 Dia 3 – o corolário perfeito

A estratégia era bem simples e concreta: manter um ritmo conservador (6:00-6:30) e não parar de correr. Dig in! E não tinha um mas sim dois atletas com que me preocupar, o ironman Luís Graça acompanhou o António durante quase 83km marcando ritmo, adiantando-se nos abastecimentos para indicar “o menu do atleta” e dando um apoio sem fim.

O calor que começou a essa hora era o que esperávamos. No lugar de pararmos cada 2 milhas, tivemos de começar a parar de milha em milha. Substituir as garrafas e dar água para os atletas se refrescarem. Passar protetor solar e toalhas molhadas passou a ser também rotina habitual. Ou molhar as palas/boné na água gelada.

Não há muito que dizer da corrida, colocar um pé à frente do outro e não parar até à linha da meta. Fazê-lo numa paisagem com lava seca, o mar ao fundo, uma imensidão de terreno árido e um calor abrasador. Creio que só tivemos consciência do quando estávamos perto quando vimos a torre do aeroporto. Até lá parecia que os quilómetros não passavam.

Viragem na Makala Boulevard para a milha final, percorrida com as cores da bandeira portuguesa no jersey e depois a bandeira na mão para a chegada em equipa.

Abastecimentos

Para os que esperavam barrinhas e géis, o António tem 4 abastecimentos sólidos: sandes, pizza, noodles instanâneos e puré de batata (com beef jerky lá pelo meio e batata frita, que pitéu!) e 3 líquidos: BCAAs em pó e cola zero, além da água. Num dado ponto da prova, custou mais a entrar e foi necessário aligeirar um pouco e comer menos mas… depois de algumas goladas de cola zero, a fome voltou.

Somámos algo como:

  • 50l de água nos 3 dias
  • 2l de cola zero
  • 3 embalagens de noodles instantâneos
  • 1 pizza familiar
  • 5 sandes de fiambre aves e queijo
  • Uma embalagem de batatas fritas
  • 1 prato fundo de puré de batata com 2 embalagens de 150g de beef jerky
  • Uns 3 ou 4 chocolates

Não tentem isto em casa… definitivamente!

Agradecimentos

Sem estas pessoas e entidades nada disto seria possível

  • O atleta agradece à sua equipa de apoio onde se incluem também o seu treinador, Robson Oliveira e a Ana Guimarães que esteve em 2013
  • A todos os que acreditaram no projecto Ultraman desde o início, nomeadamente a BAR
  • À Orey Financial que apostou no projecto Ultraman Hawaii em 2013 e agora em 2014
  • À Rbikes pelo trabalho inesgotável na bicicleta, espetacular e em excelentes condições
  • A todos os atletas da H2H e muitas outras equipas de atletas, por serem uma fonte de inspiração e motivação para o atleta

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Filipa Vicente
Filipa Vicente
Nutricionista (CP1369N) e Professora universitária (IUEM). Escreve para o Correr Por Prazer desde a sua criação em 2008. É essencialmente uma facilitadora de escolhas na busca da melhor versão de nós mesmos. Site oficial: https://nutrium.io/p/filipavicente/blog

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