Sou defensor, apologista e arauto de toda e qualquer APP, maquineta ou automatismo que me afaste do contacto não desejado com estranhos, imbecis e estranhos imbecis. E, se forem de uma determinada faixa etária, melhor ainda.
“Ah…mas, ó António, essas apps, maquinetas e automatismos roubam empregos!”
Roubam empregos, mas dão-me sanidade mental e anos de vida. Além disso, trabalho numa empresa de automação. Somos 180 almas que também precisam ganhar a vida.
Costumo fazer as minhas compras numa superfície comercial de grandes dimensões, utilizando uma APP através da qual vou registando os artigos que retiro das prateleiras. Para além de poder ir vendo, em tempo real, o valor do “tombo”, posso ir guardando as compras nos sacos e, melhor de tudo, à saída pago numa maquineta, sem filas, sem ter que tirar tudo do carrinho, por no tapete, meter no carrinho de novo.
É o Céu para quem, como eu, não é propriamente fã de ir às compras e do contacto não desejado com estranhos, imbecis e estranhos imbecis.
Só que no outro dia, para um desenrasque, tive que ir a uma superfície comercial de menor dimensão, aquela com lasanhas muito boas, mas que só costuma ter uma caixa aberta. A fila ia longa, lenta e o sinal sonoro “informamos os nossos clientes que iremos abrir a caixa 2” estava a demorar.
Levava comigo meia dúzia de artigos, os quais, na minha vez, depositei no tapete transportador (a propósito, a empresa onde trabalho também os vende), aguardando a sua movimentação na direção da caixa.
Atrás de mim chega uma senhora, visivelmente ansiosa para, também ela, depositar as suas compras no tapete. Infelizmente, devia ser a primeira vez que a senhora ia a uma superfície comercial e desconhecia que o tapete se mexe “sozinho”. Vai daí, em vez de esperar que o deslizar do tapete libertasse espaço para os seus itens, agarra nas minhas compras e arrasta-as para a frente.
Assim. A frio. Sem um “desculpe”, “com licença”, “por favor”, “posso?”.
Repito: pegou nas minhas compras e arrastou.
Mais à frente, ainda estava eu a pagar, já estava ela atrás de mim, com o seu cartão erguido. Por momentos, pensei que fosse pagar a minha conta, já que tinha movimentado os meus pertences com tanto afinco.
Como um mal nunca vem só e a imbecilidade tem elevados níveis de concentração nas superfícies comerciais, nesse mesmo dia, horas depois, levo com mais uma lição de civismo invertido.
A minha família tem por hábito aproveitar a existência de uma cafetaria no interior da superfície comercial de grandes dimensões, onde habitualmente fazemos compras, para um pequeno lanche antes do acto mercantil propriamente dito.
Nessa tarde, eu e o pequeno dirigimo-nos a uma mesa com três cadeiras e a minha mulher foi fazer o pedido. Instalamo-nos, ocupamos duas das três cadeiras e, enquanto aguardávamos pelo nosso lanche, uma senhora, que podia ser a mesma da cena anterior, chega à nossa mesa e, numa expressão facial e tom de voz que podiam ser de um oficial das SS Nazis, proclama “Vou levar esta!”, agarrando-se à cadeira que estava disponível para a minha esposa.
Nem um “está ocupada?”, “posso?”, “dá-me licença?”.
Zero. Zero educação. Zero civismo. Máxima imbecilidade.
Quando tentei argumentar que a minha mulher já vinha ao fundo, com o tabuleiro na mão, simplesmente cuspiu: “aqui não há lugares marcados.”
E pronto, lanchei de pé, dando cada vez mais razão a alguém que diz: “o Mundo é um lugar cheio de imbecis, estrategicamente colocados para que eu me cruze com pelo menos um por dia”.