O trail, principalmente nas suas formas mais longas, é um desporto aparatoso: as mochilas, as meias de compressão, os equipamentos garridos, chapéus com protecção de pescoço, lenços, manguitos, luvas… e bastões.
Por isso, o Jorge Dias, amigo, companheiro corredor, colega de escrita, estava, justificadamente, preocupado com o material necessário para o seu primeiro trail. Eu compreendo: olhando para as fotografias de grande parte dos atletas de pelotão (eu incluído), um leigo na matéria poderá achar que fazer uma destas provas requer um extenso rol de objectos, uns mais úteis que outros.
“Eu sei que aquilo não é um restaurante chinês, mas preciso de pauzinhos?”
Acalmei o Jorge. Íamos fazer apenas 11km, a distância mais curta do Trail das Nozes 2022, prova (como sempre) superiormente organizada pelo Luís Pereira. Bastava que levasse o material obrigatório e as sapatilhas de trail.
“Não tenho sapatilhas de trail.”
O Jorge é (era) um purista do alcatrão, que desconfiava do Trail. O medo do desnível, da irregularidade dos percursos, da dureza e de ter que gastar uma pequena fortuna em equipamento.
Demorei bastante a convencê-lo que tudo isso são mitos, mormente espalhados por quem nunca pôs os pés no monte.
Mas, após a nossa primeira prova de estrada em conjunto, desafiei-o a experimentar “o monte”. Escolhi para ele uma prova acessível, sem muita dureza, mas que lhe deixasse boa impressão.
Arrancamos juntos mas, rapidamente, foi à vida dele. Fiquei feliz. O Jorge estava a correr e isso era o mais importante. É claro que tinha o receio de o encontrar encostado a alguma árvore a maldizer a vida dele. Quem nunca?
Mas, ia já eu no último kilómetro quando me aparece à frente, já de medalha ao peito, palrador como sempre.
“Não vi nozes nenhumas!”, disse-me ele. Mas, não tenho dúvidas, que viu uma nova forma de fazer algo que tanto gosta: correr!
E um dia ainda o ponho a correr com pauzinhos.