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Dário Moitoso: do coração dos Açores ao mundo do trail running

Dário Moitoso, atleta açoriano natural da Horta, é hoje um dos nomes mais marcantes do trail nacional, mas o seu percurso começou quase por acaso. Do abandono do futebol às primeiras provas nos trilhos, Dário transformou a curiosidade inicial numa carreira feita de evolução, desafios épicos e experiências únicas por todo o mundo. Nesta entrevista, partilha a sua história, os momentos que mais o marcaram e o que o continua a mover no desporto que abraçou há uma década.

Quem és tu e qual a tua ligação à corrida?

Dário Moitoso, 32 anos, Horta, empresário Agrícola. A corrida ou mais propriamente o trail surgiu há 10 anos na minha vida, através das provas organizadas pelo Azores Trail Run. Já tinha feito alguns corta-matos e provas no contexto escolar, mas foi o boom do trail que me fez despertar o interesse.

Como começaste a correr? Houve algum momento que te marcou?

Por iniciativa de amigos, pela novidade “das provas de trail” e também por ter abandonado o futebol devido a lesões e querer manter a atividade física.

Há vários momentos que me marcaram, desde ser “chamado” a representar Portugal num mundial, correr em Chamonix, e se calhar a que me marcou mais até hoje foi fazer a Half-Marathon Des Sables no deserto Ica do Peru.

Qual foi a tua primeira corrida ou prova e como te sentiste?

Foi em 2015 o Trilho dos Vulcões de 20 km integrante do Azores Trail Run, fiz logo 2° lugar e senti logo que conseguia chegar mais longe (não tão longe quanto consegui atualmente) mas senti que podia ser mais rápido e mais competitivo.

Foto: Matias Novo

O que te motiva a continuar a correr?

Gosto de treinar, da rotina e do processo de aprendizagem e adaptação/evolução física. Um dos períodos que mais gostei nestes últimos 10 anos foi durante a pandemia de Covid-19 onde deixou de haver pressão competitiva e pude focar-me só em treinar, senti que já estava a saturar de tanta competição e foi um período que deu o clique: gosto mesmo de treinar corrida!

Como é a tua rotina de treinos ou corridas?

Treino 5/6 vezes por semana corrida, há alguns dias que meto trabalho complementar de reforço muscular, alongamentos etc.. faço também algumas sessões de bicicleta. Tudo planeado pelo Rui Rebelo em função dos desafios a que me proponho.

Tens alguma corrida ou momento inesquecível que queiras partilhar?

Tenho sido um sortudo, tenho tido oportunidades incríveis em lugares incríveis. Vou destacar os Alpes em primeiro lugar, é provavelmente o local mais incrível para competir, treinar ou simplesmente caminhar pela montanha! Vou também destacar a Eurafrica pois é simplesmente incrível, as pessoas, as paisagens, a diferença cultural. É uma prova em 3 países e em 2 continentes!

E esta é talvez a aventura que mais me marcou, a Maratona des Sables no peru, se calhar por ter sido a primeira viagem de 12h de avião, ou a viagem de 12h de autocarro desde Lima até ao deserto, ou talvez por ter estado 5 dias numa praia paradisíaca no oceano pacifico completamente isolado do mundo e a várias horas de carro de  qualquer civilização, ou então foi mesmo o correr no deserto durante 5 dias em autonomia total!

Qual foi o maior desafio que já enfrentaste a correr?

De distância non-stop foi o CCC (UTMB) 100 km pelos Alpes italianos, suíços e franceses.

E uma situação mais complicada de gerir foi durante a Eurafrica numa das etapas marroquinas, onde senti medo e temi pela vida, onde eu e outro atleta fomos atacados por emigrantes ilegais que tentavam entrar na Europa através de Ceuta. Felizmente não passou de um susto.

O facto de viveres numa ilha condiciona-te em termos de por exemplo a deslocação para provas? E em treinos, tens o terrenos ideais para a prática de trail running?

De modo algum sinto-me condicionado, é preciso um pouco mais de gestão. Também acho que tenho caminhos excelentes para a prática e para treinar (quer seja em trilhos muito exigentes, quer seja em caminhos de terra batida para treinos mais rápidos)

Quando começaste a correr pensaste chegar ao nível que atingiste, como por exemplo o acesso à seleção nacional de trail?

Sinceramente não de todo. Mas com evoluir das provas, comecei a pensar “se calhar consigo ganhar um campeonato nacional” “se calhar até consigo ganhar uma prova internacional” e passou do se calhar para o acreditar, e depois de acreditar que poderia ser possível, as coisas começaram a acontecer! E acho que tenho vindo a escrever uma história bonita.

Qual o teu próximo objetivo?

Ainda não estou a planear a próxima época, mas ingressei numa nova equipa o OCS – Arrábida Trail Team, e passará por tentar ajudá-los nos objetivos coletivos e depois tentarem arranjar um objetivo mais pessoal de uma competição ou desafio que ainda não tenha conseguido concretizar.

Foto: Matias Novo

O que mais gostas na corrida?

É um conjunto grande de coisas, gosto de preparar-me para prova X, de estudar variáveis, percurso, estratégia alimentar. Gosto de viajar, de conhecer lugares novos a correr, outras culturas, novas pessoas também. Não é só a corrida, é tudo o que envolve a logística de uma competição.

O que mais detestas na corrida?

Nada.

Que conselho darias a quem está a começar a correr?

Desfrutar! Desfrutar do treino, das competições, das pessoas que se conhece, dos locais que se conhece. Não saltar etapas: começar de forma progressiva. Aceitar que nem sempre as coisas correm bem, e aproveitar cada momento!

Se tivesses de escolher uma frase ou lema que te acompanha na corrida, qual seria?

Desfrutar de cada momento!

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Vitor Dias
Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 74 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt

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