Imagine o caro leitor que, após muitos anos de treino, esforço, dedicação, tem a oportunidade de representar Portugal numa qualquer modalidade desportiva. Para ajudar no raciocínio, imagine um desporto colectivo, sem ser o futebol.
Andebol?
Pode ser.
Neste momento, integra a Seleção. Treinos intensos, fora do país, longe de casa, longe da família.
A pressão é muita, o objetivo é atingível, mas o nível dos adversários elevado. Pior: um dos adversários, aquele que irá enfrentar no último jogo, joga em casa!
Estamos precisamente nesse jogo.
Um pavilhão inteiro grita, canta, torce pelo adversário. Meia-dúzia de portugueses, a um canto, fazem o que podem.
Rapidamente o cheiro a suor e anti-inflamatório invade a quadra. Correrias de um lado ao outro, agarrões, encontrões, nódoas negras.
Os números dançam no marcador.
Uma bola que não entra… e mais outra.
Perdemos. Adeus.
Em lágrimas, é reconfortado pela família ao telefone. Para eles, será sempre um herói.
Uma vista de olhos pelas redes sociais. Na publicação de agradecimento da sua Federação, sucedem-se os comentários. Por cada comentário de reconhecimento pelo esforço, há cem de crítica, escárnio e até insulto.
Gente, na sua maioria, cujo único desporto que pratica é mexer nos botões do comando no sofá.
Foi assim, no passado Domingo, no Andebol. É sempre assim quando Portugal participa em competições internacionais de Desporto, excepto no futebol.
Será assim nos próximos Jogos Olímpicos, nos quais qualquer atleta luso que não traga uma medalha será achincalhado pela turba facebookiana.
Somos um país futeboleiro, onde impera a lógica simplista do resultado. Apenas e só.
Conceitos de competição, evolução, aprendizagem e crescimento passam ao lado.
Não ganhaste? Não vales nada. Rua!
Este país não é para Desportistas.