Durante o período de Carnaval, pensei em escrever sobre aqueles que, sempre que há uma festa, saem da toca, de dedo em riste, censurando todos aqueles que ousam desfrutar de uns dias, umas horas, uns minutos de diversão.
Porque o Dia dos Namorados é só uma data comercial, porque o Halloween não é português, porque o Dia da Mulher é uma data de luta e não de celebração, porque o Natal é hipocrisia, porque a Páscoa não são coelhos, porque há crise, porque há pobres, porque há ricos, porque há guerra, porque, na cabeça dessa gente, não há motivos para rir, festejar, celebrar ou simplesmente apanhar uma bebedeira… só porque sim.
Para eles, tudo tem que ser pesado, macambúzio, sério… demasiado sério.
Os urubus, os sisudos, os “Grus Mal Dispostos” desta vida, estão sempre empenhados na sua evangélica missão de não querer ver ninguém aos saltos e aos pinotes, como Mário Sá Carneiro no seu poema “Fim”.
Mas, no passado fim de semana, num daqueles infindáveis “scrolls” nas redes sociais, deparei-me com um jogo de futebol na Turquia.
Na Turquia. A mesma Turquia afectada por um catastrófico terramoto. “Isto lá é altura para jogos de futebol”, diriam os arautos do pessimismo. Mas foi precisamente nesse jogo que milhares de peluches voaram das bancadas para o relvado, tendo como destinatárias as crianças que, de uma forma ou outra, foram vítimas do sismo. As que ficaram órfãs, as que ficaram mutiladas, as que ainda lutam pela vida nos hospitais.
Porque aquelas pessoas acreditam que é nos momentos mais negros que devemos acender as luzes da felicidade. Aquelas pessoas acreditam que a escuridão se combate com cor, que a tristeza se combate com sorrisos, que as realidades mais duras são vencidas com magia.
Um peluche, para aquelas crianças, não fará grande diferença, mas fará toda a diferença.
E nós? De que lado queremos ficar? Debaixo dos escombros a carpir mágoas, ou nas bancadas a espalhar peluches?