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Correr com (a) Diabetes

O dia 14 de Novembro é o dia mundial da Diabetes, uma das doenças crónicas não transmissíveis com maior prevalência e incidência. Embora seja chamada mais pelo primeiro nome, falamos especificamente da Diabetes Mellitus, uma condição metabólica que afeta os níveis de açúcar no sangue com que tem inúmeras consequências em todo o corpo humano quer a nível micro (visão, circulação periférica) quer a nível macro com o risco acrescido de doença cardiovascular inerente à doença.

O que é a Diabetes mellitus?

A diabetes mellitus é uma doença que se caracteriza por um nível de açúcar no sangue acima do valor recomendado que pode acontecer por falta de insulina, a hormona responsável pelo controlo desta variável, ou pela resistência à sua ação. Temos por isso indivíduos com diabetes insulino-dependentes (tipo I) ou insulino-resistentes (tipo II). A diabetes tipo I pode ter inúmeras causas que não são controladas mas a incidência da tipo II tem vindo a crescer sendo a obesidade, o sedentarismo e outros hábitos menos saudáveis fatores de risco relevantes. Neste artigo vamos referir-nos sobretudo à tipo I pelo risco que acarreta não ser apenas dependente dos hábitos do corredor.

Como afeta o corredor?

O seu corpo precisa de glucose para manter as funções dos órgãos vitais durante todo o dia, incluindo o exercício. Na ausência de insulina, ou na resistência à sua ação, vai ser mais difícil manter os níveis de glicemia controlados, motivo pelo qual pode arriscar uma hiperglicemia (níveis pós-refeição acima de 160mg/dl) que pode levar à morte por edema cerebral.
No entanto, se for insulino-dependente, tomar a sua refeição pré-treino e depois tomar a dose de insulina correspondente pode ter uma hipoglicemia intra-esforço (glicemia <50mg/dl), tão ou mais fatal do que a hiperglicemia.
Por isso o controlo de glicemia é ainda mais importante para o corredor diabético. É necessário começar o exercício com uma glicemia controlada e evitar doses elevadas de insulina perto do exercício. Além disso é muito importante ter à mão soluções rápidas para corrigir uma hipoglicemia (ex:. géis de glucose).

Atualmente este controlo tem vindo a ser facilitado pela utilização de aparelhos de monitorização contínua da glicemia (ex:. Libre) que até têm vindo a ser um recurso para não diabéticos.

E a alimentação do corredor com diabetes?

É ainda mais importante apostar em boas escolhas alimentares na refeição pós-treino e no timing das mesmas. É possível que não possa fazer a ingestão recomendada pelas “guidelines” de 3 a 4g de hidratos de carbono/kg de peso corporal e possa ser mais interessante fracionar a mesma dose em 2 refeições ou fazer uma carga de hidratos mais prolongada nos dias antes.

O mesmo acontece com o intra-esforço, para evitar a hiperglicemia pode não ser possível apostar nos 60-90g de hidratos de carbono/hora. Deve ser cuidadosamente monitorizada a glicemia intra-esforço para ser ajustada a dose.

Uma alimentação para um indivíduo diabético é essencialmente uma alimentação dita saudável, ou seja, baseada nos princípios de uma alimentação mediterrânica e com uma escolha assente em alimentos nutricionalmente densos. O que pode ser diferente?
• A importância de ter soluções rápidas para corrigir a hipoglicemia (incluindo açúcar)
• A forma como são fracionados os hidratos de carbono pré-esforço e até pode não ser possível usar os valores diários recomendados para endurance
• Antes do esforço é crucial ter uma glicemia adequada mas não excessivamente elevada e este controlo faz-se com um médico endocrinologista para que possa personalizar e encontrar o seu equilíbrio
• A necessidade de ajustar o intra-esforço, a monitorização contínua e a utilização da bomba de insulina tem vindo a apresentar bons resultados nos maratonistas e ultramaratonistas com diabetes tipo I

Certo é que o exercício tem inúmeros benefícios no controlo da glicemia pelo que em momento algum o deve abandonar. As células musculares são muito utilizadoras de glicose e por isso manter a massa muscular também vai contribuir para o bom controlo metabólico. Pode não conseguir manter as mesmas distâncias enquanto não está em equilíbrio mas procure não desistir e ser acompanhado por médico e nutricionista para ter um plano para si.

Bibliografia

Yurkewicz, M., Cordas, M., Jr, Zellers, A., & Sweger, M. (2016). Diabetes and Sports: Managing Your Athlete With Type 1 Diabetes. American journal of lifestyle medicine, 11(1), 58–63.

Riddell, M. C., Scott, S. N., Fournier, P. A., Colberg, S. R., Gallen, I. W., Moser, O., Stettler, C., Yardley, J. E., Zaharieva, D. P., Adolfsson, P., & Bracken, R. M. (2020). The competitive athlete with type 1 diabetes. Diabetologia, 63(8), 1475–1490.

Shugart, C., Jackson, J., & Fields, K. B. (2010). Diabetes in sports. Sports health, 2(1), 29–38.

Foto: Prorunners.pt

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Filipa Vicente
Filipa Vicente
Nutricionista (CP1369N) e Professora universitária (IUEM). Escreve para o Correr Por Prazer desde a sua criação em 2008. É essencialmente uma facilitadora de escolhas na busca da melhor versão de nós mesmos. Site oficial: https://nutrium.io/p/filipavicente/blog

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