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24 horas passam a correr

O tempo passa a correr, dizemos com frequência. Os anos, os meses, as semanas… e os dias. Um dia passa a correr e, nos últimos cinco anos, um grupo de loucos pela corrida passa um dia literalmente a correr, ali em Vale de Cambra.

Estive presente em todas as edições. Na primeira, corri a versão de três horas, no turno das dez da noite, sozinho. Sozinho? Não. Uma das muitas coisas boas que a prova “24H Portugal” nos dá é o facto de nunca estarmos sozinhos, seja pela partilha da pista com os companheiros de outras provas, seja pelas animadas passagens na zona do padock, onde há sempre alguém a incentivar-nos.

Estava eu a dizer… Na primeira edição corri três horas; no ano seguinte, em equipa com os meus amigos Paula Lage, António Morais e José Ferreira, até fomos ao lugar mais alto do pódio; e, desde a terceira edição, corro sozinho… sozinho, não!

Sempre que comento com alguém, “vou correr numa prova de 24 horas”, as pessoas menos familiarizadas com a corrida perguntam “Mas vais correr um dia inteiro? Sem parar? Como consegues?”. Depois lá tenho que explicar que, mais que correr, a malta vai pelo convívio. Lembro-me de uma vez em que apanhei o Paulo Gomes a passo e, ficamos tão entretidos na conversa, que nos esquecemos de correr. Três voltinhas inteiras que demos a passo. O convívio, os momentos de descanso, as deliciosas iguarias da Retorta (que saudades da Sopa de Pedra) e o facto de, durante aquele fim de semana, nos sentirmos parte de uma tribo, não só os que calçam as sapatilhas e correm, ou caminham (caminha-se muito nas 24 horas…), mas as famílias, os apoiantes, o staff.

E, por falar em staff e não desfazendo todos os staffs de todas as provas, as 24 horas têm um staff muito especial. Estão ali sempre com um sorriso, com um “estás bem?”, “como está a correr?”, “precisas de alguma coisa?”. E têm um speaker incansável que até fica sem voz.

E há a competição, pois claro. Este ano fui picado pelo Rui Pinho… e ganhei-lhe!

Há o sorriso solidário do Ricardo Bastos e o ar compenetrado do Rui Tinoco; há um imparável Carlos Rocha, que parece caminhar para dar a volta ao Mundo; há a alegria da Alice Lopes e o humor do Morais; há sempre, sempre alguém que te diz “força!”, “vamos lá!”; há amigos que vão e vêm ao longo do dia e, este ano, até houve uma equipa de Merinos que deu muita luta à Retorta.

Já pertinho do meio-dia, houve a Teresa e o Eduardo e houve lágrimas de emoção no meu rosto. Desapareceram as bolhas e as assaduras, toda e qualquer dor mitigada num instante, num olhar, num sorriso.

Encontramos o Ricardo Bastos numa sombra, à espera das suas equipas e do meio-dia. O Eduardo ia aplaudindo alegremente todos os que iam passado em direcção ao fim ou a uma derradeira volta.

As 24 horas têm muita coisa boa que nos faz sentir saudades, mal cruzamos a meta. Oh… e que meta tão especial tive este ano… Até para o ano!

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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