Ultraman, o segredo está no querer!

Autor: Filipa Vicente  /   Setembro 14, 2015  /   Publicado em noticias, Slider
Tags: ultraman

ultraman_massucaDesde 2012, quando falámos pela primeira vez do Ultraman, Portugal já conta com 3 representações nesta prova épica e 2015 viu nascer mais um Ultraman – José Massuça na Europa. No dia 7 de Setembro de 2015 tornou-se o cidadão português mais velho a terminar os 515Km do Ultraman de Gales.

Pai, marido, trabalhador a tempo inteiro e dividido entre Lisboa e Angola, o “atleta” (que humildemente não se considera como tal) não tem uma vida fácil nos treinos nem tão pouco um longo historial neste desporto.

Concluiu há 2 anos a sua primeira maratona e desde aí fez por três vezes a distância de Meio Iron (900m de natação, 90km de Bike e 21km de corrida), um Ironman e várias maratonas – Paris, Barcelona, Porto, Madrid e Sevilha. Em 2014 tinha planeado ter a sua primeira experiência ultra neste evento mas uma lesão e vários compromissos profissionais afastaram-no do objetivo. No dia 5 de Setembro de 2015 alinhou nos 10 atletas que este ano tiveram a coragem de enfrentar Gales, uma prova duríssima.

O evento

Uma vez mais, o UMUK foi tudo menos um evento de massas. Estavam inscritos 16 atletas e apareceram 10, dos quais apenas 8 terminaram.

E como seria de esperar, não fossem as bandeiras em Swallow Falls e pensaria que estava no sítio errado. Mas desengane-se se pensa que Betsw-y-Coed é o fim do mundo, este ano até a selecção nacional de montanha estagiou nesta pequena cidade do noroeste de Gales.

Tal como tínhamos descrito antes, este evento consiste num triatlo de ultra longa distância:  10km a nadar, 420km a pedalar e 84,3km a correr divididos em 3 dias. No primeiro dia, os atletas nadam os 10km e pedalam 145km, no segundo dia pedalam 275km e terminam com a dupla maratona.

O que torna Gales tão… duro?

A beleza da paisagem contrasta com a dureza desta prova. No primeiro dia, conte com as temperaturas baixas da água do Lago Bala (10-13ºC) e com um desnível positivo de quase 4000m na bicicleta. E se pensava que as subidas tinham terminado, no segundo dia conte com mais 3500m de desnível positivo para os 275km de bicicleta.

Como se isso não bastasse, a dupla maratona desenrola-se num percurso com 2500m de desnível com duas senhoras subidas.

E em 2015, Portugal outra vez!

Esta prova já contou com a participação de António Nascimento (2012), Miguel Carneiro (2014) e agora José Massuça (2015). Este ano a prova ficou marcada pela estreia de 10 atletas nesta distância, e o Massuça era um deles.

O primeiro dia é muito duro pela transição da água para a bicicleta, sobretudo porque depois de 10km na água gelada de Bala tem 145Km para pedalar com subidas que não têm fim. Algumas subidas avisavam logo no início que iam doer…

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O segundo dia é logisticamente mais fácil mas de fácil tem muito pouco, são 275km com subidas sem fim. No último terço da prova, o eterno speaker Steve King, aconselhou a comitiva portuguesa a dar tudo porque vinham aí subidas diabólicas de Bala (“não passámos já aqui?”) até Ruthin e de volta a Betsw-y-Coed. Citando o que conseguimos “ouvir” no meio da adrenalina: “Filipa, you know the course, don’t let him stop or he will not make it on time”. Com isto, a equipa de apoio teve de ser “pouco humana” e obrigar o atleta a ir ainda mais além…

E quando pensamos que as pernas já não dão nada, e que a dupla maratona é apenas para terminar (a organização sugeriu 11:48 de tempo final para os 84km), o atleta renasceu para o 3º dia… num passo certo e encaixado no seu ritmo partiu no grupo da frente e dividiu a liderança da primeira meia maratona (de 4) com quem acabou por ser o 2º classificado geral. Apenas ultrapassado pelo dois primeiros, fez a sua prova num ritmo certinho. Pouco depois da maratona resolveu partilhar a segunda metade com um atleta espanhol que ao ver-nos se animou.

Foi uma chegada ibérica. Nestes momentos o atleta tem de tomar uma decisão difícil. Pode sentir que vai mais depressa que o outro e “sair”, arriscando-se a quebrar mais à frente e ser ultrapassado sem dó nem piedade, e ficando a sentir-se muito pior. Mas pode também partilhar uma segunda metade, procurando com o companheiro dividir as dores… e dificilmente, por cortesia, um deles se iria “afastar”.

Foi por isso uma chegada a dois, com as duas bandeiras bem no alto. Massuça e Ignacio Vaquero, nada mais nada menos do que o 1º classificado na natação e 2º nos dois segmentos de bike, apenas ultrapassado pelo líder Enrique Galindo que acabou por vencer o UMUK2015.

O atleta e a equipa

José Massuça partilhou com a família – mulher, a filha Marta de 15 anos e o filho Diogo de 14 e a nutricionista Filipa Vicente, os 515km da prova. Pode pensar que é de uma tremenda loucura levar aqueles de que mais gostamos para nos ver sofrer… mas talvez tenha sido justamente esse apoio tão personalizado a fonte do querer e da motivação para dar tudo. Terminar era o objetivo mínimo mas fazê-lo com dignidade era uma obrigação.

E agora vamos descobrir onde está o limite, porque uma vez mais provámos que em Gales não está…

Os resultados

http://racingquestlimited.com/wp-content/uploads/2015/09/Results-2015.pdf

Sobre Filipa Vicente

Nutricionista (CP1369N) e Professora universitária (IUEM). Escreve para o Correr Por Prazer desde a sua criação em 2008. É essencialmente uma facilitadora de escolhas na busca da melhor versão de nós mesmos. Site oficial: https://nutrium.io/p/filipavicente/blog
Ultra Maratona Atlântica Melides Tróia

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