A propósito do Dia Internacional da Mulher, aqui fica um testemunho de uma grande mulher que teve o azar de estar no lugar errado à hora errada.
Sobrevivente da maratona de Boston deixa mensagem a um dos terroristas. “Salvaste-me a vida”. A vida de Rebeca quase que acabava a 15 de abril de 2013, quando um monte de explosivos e pregos metidos em duas panelas de pressão mataram três pessoas na maratona de Boston. Cerca de 700 dias depois, acaba de escrever uma mensagem no Facebook que é uma lição de vida.
Aos 27 anos, Rebeca Gregory DiMartin voltou a andar pelos seus próprios passos no primeiro dia deste ano, depois de lhe terem amputado uma perna, por cima do joelho, no final de 2014. Esta quarta-feira, 4 de março, no mesmo dia em começou o julgamento do suspeito do ataque, Dzhokhar Tsarnaev, Rebeca deixou-lhe uma longa mensagem na sua página do Facebook. Uma lição de vida.
“Chamo-me Rebeca Gregory. Não nos conhecemos um ao outro e isso nunca irá acontecer. Mas ao longo dos últimos dois anos tenho visto o teu rosto, não só em fotos, mas em quase todos os meus pesadelos. Momentos antes da primeira explosão, a tua estúpida mochila roçou no meu braço. Mas eu duvido que te lembres, porque eu não sou ninguém para ti…uma completa estranha. E, embora eu fosse um mero pontinho no teu radar, tu tens sido muito mais do que isso para mim. Tens sido a minha fonte de medo desde 15 de abril de 2013. Afinal, tu é um dos homens responsáveis por quase me terem levado o meu filho. E pela imagem que está sempre no meu cérebro de ver alguém morrer…. Até agora , eu tenho tido sempre medo de ti e de todas as coisas que as pessoas como tu são capazes de fazer. Hoje isso mudou! Esta tarde, quando entrei na sala de audiências e fui para o meu lugar no banco das testemunhas, a poucos metros de distância do sítio onde estavas sentado… eu estava a andar. Viste isso?”
17 operações e uma amputação em 690 dias
Rebeca, usou o Facebook como uma fonte de motivação para vencer o terror de ter sido vítima de um atentado. Tem 25 mil seguidores. Com eles partilha posts e fotos da difícil e inesperada volta que atropelou a sua vida a 15 de abril de 2013, quando um duplo atentado na maratona de Boston matou três pessoas e provocou 264 feridos, alguns deles em estado muito grave. Rebeca, originária do estado do Texas, estava a assistir à maratona com o filho Noah e o namorado Pete, porque a mãe dela entrava na prova que acabou de forma trágica.
Na véspera do último ano novo, Rebeca fez um balanço na sua página do Facebook: “2014 foi um extremamente difícil; as cirurgias frequentes, a amputação, morte, a pior de todas as traições e MUITAS lágrimas. Mas apesar de o diabo estar a trabalhar tanto contra mim…. consegui terminar o ano com uma sensação de VITÓRIA!”.
“Não posso – não faz parte do meu vocabulário”
Ao longo destes meses, Rebeca disse: “‘Não posso’ já não faz parte do meu vocabulário”. A sua página do Facebook mostra como Rebeca, uma típica e bonita jovem americana de classe média que poderia ter sido uma líder de claques de futebol americano no seu tempo de liceu, usou a rede social para divulgar a sua luta pela vida e a causa dos restantes sobreviventes do duplo atentado de Boston.
A mensagem que escreveu a Dzhokhar Tsarnaev é, talvez, a última barreira que precisava de transpor para vencer os seus fantasmas noturnos: “De alguma maneira, salvaste a minha vida. Agora sou muito mais capaz de apreciar cada novo dia que me é dado. Agora, cada abraço que dou ao meu filho ainda é mais apertado do que era antes e ele está a crescer apesar de tudo o que aconteceu. Agora, tu estás sozinho e isolado à espera de saber qual o veredito sobre a tua vida e eu estou a desfrutar o que este mundo maravilhoso tem para me dar. E adivinha o que mais? Vou fazê-lo sem medo …. de ti. Porque agora, para mim, tu não és ninguém. Perdeste!”.
Dzhokhar Tsarnaev, 21 anos, muçulmano de origem chechena, enfrenta 30 acusações federais pela organização e execução do atentado na maratona de Boston, o mais grave nos Estados Unidos desde os ataques do 11 de Setembro de 2001.Os irmãos Tsarnaev são suspeitos de terem planeado e executado o duplo atentado. Dzhokhar é o único sobrevivente dos dois; a sua defesa procura evitar que seja condenado à morte.
Fonte: Jornal Expresso