Após testar as minhas nuvens no asfalto, e com elas ter concluído a Maratona de Sevilha, era chegada a altura de passar ao todo-o-terreno. Encostei, então, as Cloudsurfer e calcei as Cloudrunner ao longo de cerca de 130 km divididos por 8 treinos.
Devo, em abono da verdade, esclarecer que apesar de ter procurado testá-las nos mais variados pisos offroad, alguns dos quais bem irregulares, nunca treinei em trail propriamente dito. Uma coisa é andar em terrenos acidentados, onde uma entorse sempre espreita, outra bem diferente é trepar e descer penedos molhados e cobertos de musgo, onde uma fractura pode acontecer a qualquer momento.
Para além da tracção, um outro aspecto que me preocupava era o facto de eu fazer entorses com alguma facilidade, em especial no pé direito – com um historial de roturas totais de ligamentos, fracturas de perónios e quejandos – motivo pelo qual nos últimos anos uso calçado para pronadores.
Assim, quando à partida me apresentei, com sapatilhas de pisada neutra e com as palmilhas de origem, para correr os Trilhos do Paleozóico – uma maratona de Trail de 43km – a minha ansiedade não se centrava como habitualmente na incerteza da chuva, das amplitudes térmicas, do desnível a vencer ou da qualidade dos abastecimentos, mas antes no modo como as minhas imaculadas cloudrunner se iriam portar.
Sobre as ON-RUNNING em geral já vos falei num artigo anterior – a propósito das cloudsurfer – sendo que o princípio de concepção é geral para todos os modelos: uma sola formada por pequenas “nuvens” de borracha distribuídas ao longo da sola, cada uma das quais concebida por forma a colapsar sob pressão, de modo a proporcionar um impacto perfeitamente suave, bloqueando no instante seguinte, providenciando ao corredor uma base sólida para um arranque pleno de tracção, garantindo um mais eficiente uso da energia de impulsão. Tudo isso havia eu já testado e confirmado.
Cerca de 2km após a partida já estas eram postas à prova ao vencer uma húmida laje xistenta nua como um joelho e logo em seguida deslizando ao longo do plano de clivagem de uma outra recoberta de lama argilosa. A confiança estava ganha.
Mais um par de quilómetros vencidos e somos despejados ao longo de uma centena de metros numa estrada descendente de paralelepípedos graníticos. Abordei-a com cautelas pois tinha a sola coberta de lama. Após as primeiras passadas senti-me plenamente seguro ao aperceber-me da tracção.
De regresso aos trilhos, deparamo-nos com um pouco caudaloso ribeiro, que os atletas decidem saltar e contornar, mas no qual eu opto por mergulhar os pés e verificar uma vez mais a tracção. A partir desse momento ganhei total confiança e concentrei-me nos habituais aspectos da corrida, esquecendo-me do que trazia calçado.
Não demorou muito para que acontecesse algo que nunca me tinha acontecido numa prova de trail e que se iria repetir mais duas vezes: uma queda!
Todavia, e para ser honesto, não posso atribuir essa responsabilidade ao calçado, uma vez que as três quedas tiveram denominador comum: aconteceram em troços que para uma prova de trail podem ser considerados rápidos, em que eu seguia em torno dos 5min/km, e o motivo foi sempre o mesmo: prendi a ponta da sapatilha esquerda numa raiz ou pedra e tropecei caindo de frente.
Estou, pois, plenamente certo de que teria caído com outro qualquer modelo que habitualmente uso, na medida que a causa principal – senão única – terá sido o excesso de confiança e velocidade fora do normal para provas de trail. Ganhei aliás, nesta prova e com as cloudrunner, um à vontade assinalável na abordagem das descidas íngremes e pedregosas, sem um único vislumbre de entorse.
De realçar que das inúmeras vezes que mergulhei as sapatilhas em água, se deu uma secagem relativamente rápida. Por curiosidade assinalo que num dos abastecimentos que estava instalado num tanque de lavagem de roupa, me mergulhei até à cintura e fiz crioterapia nos 2 ou 3 minutos em que abasteci. Mesmo ao arrancar com os pés ensopados não senti qualquer desconforto.
Na manhã seguinte fiz um curto treino de 50 minutos e pude verificar qua apenas os quadríceps não estavam perfeitamente funcionais.
Em resumo: recomendo, em termos de conforto/amortecimento, tracção e estabilidade.
Excelente prova fizeste no Paleozóico. Não sei se foi das sapatilhas, se das pernas, mas que foi excelente foi. Pelo teu relato serão seguramente uma opção a ter em conta na próxima aquisição.
Quanto às quedas, parece-me mais importante fazeres uma coisa que os craques do trail se fartam de me dizer quando treino com eles: “Levanta as pernas”! 🙂
Aquele abraço!
Go on! 🙂
Mais um bom artigo do Meixedo, desta vez, em "defesa da honra das suas cloudrunners", que deve ser o modelo ideal cá para o rapaz. É que com a cabeça nas nuvens tenho-me sentido inúmeras vezes. Se puder lá pôr os pés também…fico "suspenso". Agora a sério, tenho que arranjar uns ténis desses. Oh Meixedo, dás um excelente vendedor.
obrigado, caro amigo, de qualquer das formas o escrito é o sentido 🙂
Caro amigo Rui,
Vamos ver se desta vez cumpro o que já tinha acordado contigo acerca das cloudsurfer: um test drive; pois calçamos o mesmo número. Hoje mesmo tas empresto, se quiseres. (já estão lavadas 🙂 )
Aquele abraço.
Caro Fernando,
Tenho o mau hábito de defender “quem” me trata bem 🙂
Um abração.
Obrigado João, ainda não tinha encontrado um teste bom na internet sobre o comportamentos dos Cloudrunners em Trail. Comprei os Cloudrunners devido ao outro teste e agora vou comprar estes devido a este.
Só agora vi o comentário, Nuno.
Já se passou algum tempo, espero que esteja satisfeito com a opção.
Até breve,
Meixedo