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Aceita este corredor(a) por esposo(a)?

Todos nós sabemos o quanto a família sofre pelo facto de sermos corredores. Começando pelo tempo em que estamos ausentes até às nossas queixas e repetidas conversas sobre o assunto, tudo será penoso para o cônjuge não corredor. Já se ele também correr, a coisa muda de figura e pode tornar-se um factor de maior união entre o casal. O nosso leitor Joaquim Leal enviou-nos um artigo soberbo, publicado na revista Runners World há 8 anos atrás, com o qual todos nos identificaremos e nos divertiremos. Convido-vos à sua leitura e a comentários pessoais sobre o assunto.

Se planeia “juntar os trapinhos” com um/a corredora, aqui vão alguns conselhos conjugais cuja utilidade prática decerto lhe interessará.

1. A corrida diária é parte do  estilo de vida: Encare esta circunstância como os donos de cães; a falta de um passeio diário pode ter consequências desagradáveis;

2. Embora ele possa sair de casa embirrento e irritável, irá regressar alegre e  entusiasmado: é o milagre da corrida. Por vezes, poderá vir a considerar a hipótese de lhe sugerir ir treinar várias vezes num só dia. Ele verá essa indirecta no sentido literal e irá tentar explicar-lhe o plano de treinos actual.

3.   Os corredores são seres com hábitos estranhos. Irá ver  amontoarem-se em sua casa T-shirts  e sapatos de corrida usados em números astronómicos. Não tente porém deitá-los fora ou doá-los sem consultar o cônjuge. Existem histórias e até alguns mistérios evocados por cada um desses artigos.

4. Quanto mais ele corre, mais se queixará de lesões musculares, de articulações etc. Não interprete essas queixas como uma diminuição do interesse na corrida. Para ele o sofrimento é só uma fase antes de entrar num pico de forma.

5. Se vai participar num encontro de corredores leve um bom livro consigo.

6. Espero sinceramente que goste de comer massas.

7. Pensava que a entrega dos Oscares demorava muito e nem tudo no espectáculo era interessante? Bom, agora que assistiu a uma entrega de prémios de corrida já sabe relativizar a sua opinião.

8. Embora a comunicação franca e aberta seja essencial numa relação, as  sugestões técnicas relacionadas com a corrida vindas de um cônjuge não corredor têm uma forte probabilidade de serem mal recebidas ou, na melhor das hipóteses, ele lançar-lhe-á um olhar silencioso bastante desconfortável para si.

9. O seu mais que tudo irá trazer para casa um considerável número de medalhas, placas e trofeus de corrida que, invariavelmente, irão ser colocados num local bem visível da vossa habitação. Sugestão: Feche os olhos e pense, durante 10 segundos, como seria se ele se dedicasse à caça grossa.

10. Embora a corrida diminua as dimensões da cintura e construa músculo, faz inchar bastante o Ego. De tempos a tempos lembre-lhe gentilmente que correr é um hobbie não uma vocação missionária.

11. Ver um jogo de bridge, bilhar  ou um torneio de golf é, habitualmente, mais emocionante do que observar uma corrida de  longo curso. Essencialmente passará a manhã a olhar para pessoas que não conhece depois de só ter conseguido estacionar o carro a 3 quilómetros da meta. Ainda há a possibilidade de ver e  gritar em apoio do seu cônjuge e ele não a ouvir.

12. A corrida é para sempre, não há meta final para uma vida de corredor. O equipamento sujo e suado no cesto, os ténis no armário ou debaixo da cama, as queixas de dores nas pernas,  vão estar sempre  na sua companhia.

13. É quase inevitável que venha a ser pressionada para que venha a participar em actividades de corrida. Se ceder, espere a duplicação do volume de roupa suja, uma pilha mais de sapatos de corrida lá em casa e a tomada de consciência de músculos que desconhecia existirem no seu próprio corpo. Porém, esta será a melhor maneira de descobrir porque é que a pessoa que ama gosta tanto de correr.

Texto de David Foley (Runners World, 1992, 27,7, 136) traduzido e adaptado.

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Vitor Dias
Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 67 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt

13 COMENTÁRIOS

  1. Genial!!!
    “Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, todos os quilómetros da vossa vida até que a meta os separe”

  2. Gostei imenso da “ideia”, até porque tento diáriamente “levar ao altar” dos Treinos e/ou Corridas, a minha Esposa.
    Mas … como diria alguém, “A Luta Continua ..” :-))
    Parabéns pelo Post

  3. Fantástico! De facto há quem diga que o amor e o ódio estão muito próximos. A minha mulher que odiava correr passou a gostar, a partir do momento em que me acompanhou, estava ainda no rescaldo de uma fascite plantar. “No Pain, No Gain”. Agora para dar continuidade, uma melhoria do tempo, até vinha a calhar.
    Parabéns e continuação do vosso bom trabalho.

  4. Viva amigo Vitor.Infelizmente tenho que correr só,a minha esposa não gosta das corridas,felizmente apoia-me e colabora em tudo.Ela diz-me correr só em frente da polícia.Bom fim de semana

  5. A minha mulher protesta com esta minha vinda de correr irrecuperável mas depois adora dizer que o marido já correu a maratona!
    Mas gosto de dizer que ela é a minha meta e parafraseando um anúncio muito em voga: se eu podia correr sem o apoio, o carinho e a paciência da minha mulher? Podia mas não era a mesma coisa!
    Eu corro para ti Augusta, um beijinho com um tamanho e o sabor da maratona.

  6. Foi graças ao meu marido que me iniciei nestas lides de corrida, e a minha vida mudou! Agora não posso passar sem isso (tal como o cachorro precisa de ir passear!…) Passei a treinar pelo menos 5 dias por semana, fora as corridas ao fim de semana. Ele sorri quando me vê entusiasmada com os treinos, e sou eu quem faz as inscrições dos dois nas provas. Sem dúvida que este “bom vicio” a dois é muito divertido, e mais um ponto em comum na nossa vida familiar!

  7. Soberbo o artigo!

    Até há uns anos não me imaginava sequer com alguém que não fizesse parte do universo da corrida, até porque grande parte dos meus amigos e conhecidos são desse universo.

    Até que o amor bateu à porta, corridas à parte. Um perfeito sedentário desde que nasceu… E agora?

    E agora, há que equilibrar as coisas… E não é que ele está a começar a correr? Não sei se será pelas razões certas, pois por vezes faz-me sentir culpada por querer correr “ao meu ritmo”, e não ver a corrida como ele…

    A corrida, entre parceiros (casal) onde um ama a corrida e ao outro esta nada diz, pode ser de facto um factor de discórdia e motivo de muitas arrelias.

    No entanto, como em tudo na vida, é preciso é saber equilibrar as coisas, e nenhum dos dois se privar do que gosta, nem o outro ser “obrigado” a fazer o que não gosta…

    Tolerância é precisa, como em tudo, e na actividade da Corrida também, não descurando outras áreas da vida, tão e MAIS importantes que a Corrida.

    Ana Pereira

  8. Caros companheiros/as.É de todo aconselhável ter ao nosso lado alguém que se identifique com a nossa paixão pela corrida, senão mesmo muito compreensiva que seja o nosso/a “compere”, é difícil de encaixar as longas ausências com os treinos, provas etc, e isso por vezes é difícil de gerir entre o casal.Por isso é de todo aconselhável ligarem-se a alguém que também gosto nos nossos ideais da corrida.

  9. Estou como alguns companheiros já atrás disseram.
    A minha cara metade, e não só, porque a minha filha tambem está no mesmo barco, porque podem protestar, mas depois apoiam tanto, que ás vezes até são elas a perguntar onde a próxima prova e se já está feita a inscrição.
    È que para alêm de tudo, isto de ir a provas é sempre uma forma de elas passearem e de conviver. Até porque no meu caso, onde prioritáriamente faço provas de montanha e ultras, onde ainda não somos muitos como na estrada, e porque a duração das mesmas é mais prolongada, elas tem sempre a oportunidade de fazer mais amizades e desfrutar da natureza.
    E depois, ter um marido que faça provas longas de grande desgaste, pode ser maluquice, mas que impressiona, isso impressiona aos outros, e faz ter orgulho.
    Mais uma coisinha, quando por alguma razão, geralmente por lesão, não se treina, a minha mulher é a primeira a incentivar a o fazer, porque sente logo que o humor não é o mesmo.

    Abraços e apesar de tudo vou continuar casado com a minha mulher e com as “sapatilhas”.

  10. Gostei muito! Na verdade muitos de nós nos revemos nas coisas que aqui foram ditas.. Sejamos solteiros ou casados.. A verdade é que o atletismo nos irá acompanhar para o resto da vida!

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