Algarviana Ultra Trail (ALUT) decorreu este fim de semana pelo interior algarvio. João Oliveira, ultramaratonistas de Chaves, percorreu os 300km da prova em 43 horas. Os 60 atletas de 6 nacionalidades tinham que percorrer num máximo de 72 horas os pontos mais altos do Algarve. Dos 60 atletas que participaram, 17 atletas a solo e cinco equipas por estafeta terminaram a prova.
A Algarviana Ultra Trail, a “prova que vai pôr o Algarve à prova”, teve início a 30 de novembro, em Alcoutim junto ao Rio Guadiana, e terminou hoje, 3 de dezembro, junto ao Cabo de São Vicente, em Vila do Bispo. João Oliveira, do Chaves Run Team – Associação Desportiva Dragões de Chaves, ultrapassou largamente os restantes atletas, chegando à meta em 43 horas, e tornando-se o vencedor da primeira edição da prova de ultra trail de maior distância em Portugal.
Paul Giblin, atleta escocês da Compressport International, chegou à meta 3 horas e 9 minutos depois do primeiro classificado e em terceiro lugar ex aequo com 52 horas e 50 minutos classificaram-se Rui Luz, da AMCF – Arrábida Trail Team, e José Faria, da Salming Running Portugal.
Para além da participação a solo, os atletas podiam participar em equipa, realizando os 300km da prova por estafeta. Na equipas por estafeta o primeiro lugar coube à Helpo@Alut, equipa com participação solidária, em segundo lugar a equipa da RUNning, e em terceiro os Papa Léguas.
Estiveram em prova apenas três mulheres: Patrícia Carvalho, que participou a solo no ALUT, Vanessa Pais, da segunda equipa classificada por estafetas, e Fernanda Alves da equipa Tartarugas do Asfalto. Patrícia Carvalho completou 220km de prova, tendo terminado a sua participação no posto de abastecimento de Marmelete, em Monchique.
Pelo caminho destes atletas estiveram as serras do Caldeirão, Espinhaço de Cão e Monchique, com cerca de 13 000 metros de desnível acumulado. A participação conta 6 pontos para a qualificação do Ultra Trail do Mont Blanc. As noites atingiram temperaturas negativas, mas o céu limpo e a lua cheia guiaram os atletas pelas serras algarvias.
O ALUT terminou assim a sua primeira edição com enorme sucesso, atravessando 9 concelhos do Algarve (Alcoutim, Castro Marim, Tavira, São Bras de Alportel, Loulé, Silves, Monchique, Lagos e Vila do Bispo) e por um percurso quase exclusivamente na Via Algarviana, um percurso pedestre de longa distância classificado como Grande Rota (GR13). A prova decorreu sobretudo em zonas florestais, com o principal objetivo de promover o interior algarvio como produto turístico alternativo à habitual escolha do destino para praia.
“Estamos muito satisfeitos com o sucesso desta primeira edição, que nos coloca como uma referência no calendário mundial. Queremos posicionar o ALUT na linha das provas de igual distância, dificuldade e qualidade que se realizam em todo o mundo, com particular destaque nos Estados Unidos. O sucesso desta edição vai ditar a aposta na promoção a nível internacional, captando o interesse dos atletas de renome mundial. A prova percorre a região de um extremo ao outro dando a conhecer a beleza do seu interior e decorre na sua quase totalidade na Via Algarviana.”, explica Germano Magalhães, presidente assembleia geral da associação desportiva Algarve Trail Running (ATR), principal organizadora do evento.
A Via Algarviana está inserida maioritariamente no interior algarvio, tem história, natureza e um percurso de excelência para a prática de várias atividades desportivas. Uma combinação de fatores que atraíram inscritos de países como – Portugal, Espanha, Brasil, Equador, Uruguai, Escocia. Os portugueses representam o grosso dos inscritos, com atletas de norte a sul do país e ilhas.
O ALUT é organizado pela ATR – Algarve Trail Running e pela RTA – Região de Turismo do Algarve, em parceria com a ANA – Aeroportos de Portugal e Ada – Águas do Algarve, com o apoio da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e o IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude.
A equipa da ATR – Algarve Trail Running responsável pela organização e direção do ALUT é reconhecida pelo organização de outros eventos de trail running, entre outros, o UTRP – Ultra Trilhos Rocha da Pena e o Trail Ossonoba.
Sobre a Via Algarviana
Inicia-se em Alcoutim, junto ao Rio Guadiana, e estende-se até ao Cabo de São Vicente, em Vila do Bispo, passando pelas Serras do Caldeirão, Espinhaço de Cão e Monchique. Atravessa, por isso, quase todos os Concelhos do Algarve, desenvolvendo-se sobretudo em zonas florestais passando por aldeias e montes ricos na cultura e tradições de toda a região algarvia.
A ideia original do seu traçado teve como base os caminhos de peregrinação de São Vicente, um mártir do início do século IV que sofreu o martírio em Valência, após ter recusado oferecer sacrifícios aos deuses durante a perseguição aos cristãos na Ibéria por parte do imperador romano Diocleciano. A sua morte terá ocorrido no ano 304. Após a conquista árabe o corpo de São Vicente foi trasladado para o Promontorium Sacrum (Cabo Sagrado como era chamado pelos romanos) e o cabo ficou a chamar-se Cabo de São Vicente. Desde então, tornou-se num local de peregrinação durante séculos. Em 1173 D. Afonso Henriques ordenou que essas relíquias fossem transferidas para Lisboa. A nau que transportou para Lisboa é hoje representada na sua bandeira com os corvos que a acompanharam na viagem, sendo São Vicente o padroeiro de Lisboa. (o texto não está bom, mas acho que podiamos referir este facto, que São Vicente é o padroeiro de Lisboa representado na sua bandeira pela nau e os corvos) No entanto, o carácter místico que o Cabo de São Vicente detém deste o período Neolítico mantêm-se até hoje.
Foi também no Cabo de São Vicente que D. Henrique, “o Navegador”, acolhia estudiosos da Europa e do Mundo: cristãos, muçulmanos e judeus que se interessavam por navegação, mapas e construção de embarcações. Esse grupo ficou conhecido como Escola de Sagres e foi muito importante no aperfeiçoamento de instrumentos como o astrolábio e a balestilha e na construção das caravelas.
Seguindo a história, a natureza e a geomorfologia do Algarve, a Via Algarviana é muito mais do que uma rota pedestre. É um encontro com as nossas raízes mais profundas na necessidade de superação de obstáculos frente a um rumo desconhecido.
Poderá saber mais sobre a Via Algarviana em: www.viaalgarviana.org. Poderá também contribuir para a manutenção desta via, através de donativo à sua entidade gestora. Para tal, siga as instruções em: www.viaalgarviana.org.