O gabinete era escuro, iluminado por um ténue candeeiro de lâmpada incandescente e pelo brilho que emanava dos diversos ecrãs de computador dispostos em arco sobre a velha secretária.
Pelas paredes, espalhadas fotos de políticos, jogadores de futebol e participantes no Big Brother; capas de revistas e jornais e o número de uma conhecida marca de entrega de pizzas ao domicílio.
Antunes deambulava nervoso entre o caos daquela sala.
A porta abre-se com estrondo:
- Antunes!
A voz do Chefe ecoou com estrondo no obscuro gabinete.
- Tenho lá fora a equipa pronta a sair, a imprensa sensacionalista já foi avisada e esta operação ainda não tem nome!
Antunes sentiu vontade de se aninhar a um canto, em posição fetal e chorar durante horas.
Há vários anos que era ele o agente responsável por atribuir o nome às operações da Polícia Judiciária. Mas naquele dia, naquele dia em específico, não havia nada que lhe saltasse à cabeça.
Nos últimos tempos, as operações sucediam-se em catadupa e o seu cérebro ficava esgotado. Comia e dormia no gabinete, em busca do trocadilho perfeito.
Ainda para mais, estava em choque com o Chefe, desde que este lhe vetara a Operação Símio, na hora de deter um conhecido Macaco.
- Vamos, Antunes! Não temos a madrugada toda! Estamos perante o maior caso de evasão fiscal, em empresas de material de casa de banho, de sempre! Está a chover a cântaros, se não tivermos um bom nome para a operação, vai tudo por água abaixo!
O Chefe parecia que ia explodir a qualquer momento. A face enrubescida, o pescoço inundado em suor, a gravata desalinhada, os olhos raiados de sangue.
As palavras cuspidas em tom de fúria entraram como um tsunami nos neurónios de Antunes. “Casas de banho”, “chuva”, “água”… “chuva”… “chuva”…
- Chuva Dourada! Operação Chuva Dourada!
Sem um “obrigado”, o Chefe e os seus esbirros viraram costas.
A imprensa sensacionalista já tinha títulos para essa manhã.