Há uma linha que separa a poupança da preguiça. E é com a necessidade da poupança que justificamos a nossa preguiça em escrever.
Longe dos tempos em que tínhamos que contar caracteres para não correr o risco de enviar mais que uma SMS de cada vez (uma real necessidade de compactação dactilográfica), ironicamente, agora que não há limites, parece que a Humanidade tende a abreviar cada vez mais a escrita e a oralidade.
Ironicamente, os mais preguiçosos a escrever parecem os frequentadores de ginásio, ou melhor, do “gym”. E o ginásio, perdão, o “gym” passou a ser o local onde vamos para ficar “fit”, porque ficar em forma, ou magro, ou elegante, ou tonificado… é uma canseira.
E claro, assim que os ginásios passaram a ser “gyms”, os treinadores passaram a ser PT e a PT passou a ser Altice.
Também os amantes do ciclismo deixaram de andar de bicicleta, para pedalarem na sua “bike”. Uma poupança de 50% em caracteres e sílabas, que pode ser convertida em watts no Strava.
E por falar em redes sociais, é bem mais prático fazer um “post” do que uma publicação. Evita-se a incómoda cedilha e o ondulante til. Do mesmo modo, recorremos mais ao “share” do que à partilha.
No domínio das relações humanas, as pessoas já não têm encontros, têm “dates”. As raparigas deixaram de ter namorado para terem “Boy”, nalguns casos é também “boi”, dependendo da ornamentação craniana. Ter uma “Dama” deixou de ser exclusivo dos rappers e da realeza. E, enquanto fazia a pesquisa para esta crónica, descobri que há raparigas que se referem ao seu “mais que tudo” como “damo” (a palavra existe???).
Subindo no nível de intimidade, naquele momento apoteótico, creio que o tradicional “oh meu Deus!” esteja a dar lugar a um mais prático “OMG”.
Na cultura, os concertos transformaram-se em “gigs”. E, já há muito, que os auscultadores são “fones”.
Na informática, ou melhor, nas TI, os computadores, perdão, os PCs estão cada vez mais dominados pela Inteligência Artificial, desculpem, a IA, já que a inteligência natural parece estar cada vez mais abreviada.