Dia 29.Abr.2023
Hoje foi a última passagem no deserto. A etapa solidária foi incrível e um belo passeio tranquilo de 9 quilómetros também a promover a entreajuda, a partilha, a generosidade e o saber estar no desporto.
Todos aqueles que por aqui passaram confirmaram que precisamos todos uns dos outros. Todos pedimos comida, todos precisamos de cuidados médicos, todos agradecemos quando nos oferecem água, todos temos de dar algo para merecer a dádiva dos outros.
Durante estes dias a partilha foi tremenda e esta é a visão de Patrick Bauer o organizador. No mundo atual com tantas comodidades desvalorizamos a simples dádiva dos outros e habituamo-nos a passar ao lado do sofrimento dos outros.
Aqui na MDS APRENDEMOS TUDO ISSO.
Ajudar e receber ajuda é algo precioso que nos pode ajudar a sobreviver.
Dia 28.Abr.2023
Hoje a etapa foi super exigente. A etapa longa de 90km deixou muitos estragos e fragilidade. As temperaturas altas provocaram uma grande perda de sais e durante o dia de descanso dormi demasiado e alimentei-me mal.
O cansaço e a desidratação provocam muito sono. Durante a noite as temperaturas também estão acima dos 38 – 40°c e desidratamos sempre. Optei por ingerir maior parte das calorias nos 90km e durante a última maratona não ingeri nada a não ser água e pastilhas de sal.
A Maior parte dos atletas apresentou graves problemas de estômago e nestas condições e temperaturas é impossível fazer uma boa gestão da alimentação. Mas foi a última etapa e damos tudo o que temos no corpo e superamos todos os limites da capacidade mental para gerir a força até à meta.
Todos os que atingiram a desejada meta revelam fragilidades e fraqueza mas a alegria de terminar talvez ajude. Até amanhã de manhã não há muita comida por isso optamos por ficar na tenda até anoitecer e o corpo desligar para que a fome não chegue.
Depois de amanhecer vamos ainda fazer 9km da etapa solidária e não competitiva. Depois dessa etapa e de uma longa viagem de autocarro vamos chegar a Ourzazate…. Onde nos espera uma água fresca, uma cola saída do gelo…ansiosa…
Ao mesmo tempo feliz e realizada
Obrigada por tudo …
Dia 26.Abr.2023
A etapa de 90 km foi o verdadeiro inferno na terra. Iniciamos às 8am. Durante a manhã percorremos o lago seco do desierto de Merzouga. Os 7kg que transportamos às costas transformam as costas em água pura.
Para nos mantermos em movimento é fundamental ingerir comprimidos de sal a cada 30mins.
Debaixo de 52° foi impossível manter o corpo hidratado. No pico de calor ao meio do dia passávamos as gigantes dunas de merzouga. É tão difícil superá-las. A água aquece nos flasks e tudo se torna um inferno. A desidratação, as dores no trapézio costas que provocam alucinantes dores de cabeca, a falta de força pela impossibilidade de manter o sal no corpo… e quando achamos que podemos controlar tudo, surge mais uma dificuldade, uma bolha… os abastecimentos surgem quase como uma miragem e aí só podemos recolher 2l de água. Estes dois litros seguem para os flasks e para a cabeça e para o corpo.
Durante a etapa de 90 tentava manter a água dentro da boca 1 a 1min 30 para ter a sensação que bebia muita agua… quando baixou a noite entramos novamente num terreno corrível e fácil. As forças parece que regressam ao anoitecer mas já existe muito dano, dano muscular, falta de reservas, sono cansaço… uma verdadeira superação. Caminhei os últimos 4 kms com alucinantes dores de costas e numa “marcha”acelerada ia tentando imaginar o acampamento ao longe… como é difícil vê-lo.
No fim de contas cruzei o pórtico, arrastei-me para a minha tenda com as garrafas de água da organização deitei-me na haima e adormeci até amanhecer. Amanheci com a cara e a boca cheia de areia com uma sede descomunal. Esta foi etapa mortal que levou a vencedora a perder a sua posição e ser assistida por médicos a meio do deserto (Ragna Debats) perde nesta etapa o seu primeiro lugar e desistem da prova 345 pessoas.
Dia 25.Abr.2023
A etapa de hoje foi de 34 km sob 45°c. Ontem durante a noite tivemos tempestades de areia que ameaçaram levantar toda a tenda e o descanso foi pouco. Hoje a etapa foi de grande sofrimento para todos. Temos durante o dia 6l de água que é pouquíssimo.
Nos abastecimentos ao receber a água deixava-a na boca e fechava dois segundos os olhos a saborea-la.
Estou a escrever isto a a pensar como sabe bem a água fresca…
Dois portugueses desistiram ontem de noite e continuam a a desistir atletas todos os dias. Cada dia há mais 20 a 30 desistentes. As condições são duríssimas entre temperatura, bolhas nos pés pela temperatura diurna e noturna, desidratações graves.
Estive a gerir muito bem cada uma das etapas para amanhã fazer a maior de todas 90kms sem erros nem vacilações. Já digo ao corpo para não ouvir as informações do cérebro relacionadas com dor. Obrigo-me a ignorar sempre que o cérebro me informa que alguma parte do corpo está a sofrer… assim vai ser amanhã: 90km de luta a ignorar sensações de desconforto, dor, sede e fome….
Dia 24.Abr.2023
A primeira etapa foi muito exigente. 38km com 40° sempre entre plano, pedras e dunas. Um choque para todos pois o peso da mochila deixa em choque qualquer pessoa que deseja acelerar. No final tivemos de gerir bem a comida com primeiro dia pois as calorias são controladas pela organização todos os dias.
O segunda dia de 31 km foi de montanha e já consegui aceitar melhor a dor da mochila nos ombros. A experiência já me diz que o primeiro dia da prova de etapas é sempre de choque e nas seguintes o corpo já aceita melhor o esforço. Sinto me felizarda por não ter problemas de pés quando já desistiram por esse problema mais de 40pessoas
Hoje almocei amêndoas e espero ansiosamente pelo jantar (comida desidratada com sabor a massa). Tivemos ontem também duas tempesatdes de areia muito fortes muito dramáticas que demoraram mais de 20 mins. Só abrandou o vento às 20h quando já era suposto estarmos a dormir todos e nem tínhamos acendido as fogueiras para jantar
Fotos e videos do dia 21.Abr.2023
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