...

Dinis Ribeiro e Claire Bannwarth fazem história ao vencer o Algarviana Ultra Trail

Mais de 300 km depois da partida, a 24 de novembro, do Cabo de São Vicente, em Sagres, já são conhecidos os vencedores do Algarviana Ultra Trail (ALUT), prova organizada pela ATR – Algarve Trail Running. Dinis Ribeiro, da Associação Desportiva Mont Blue Team, foi o grande vencedor, com a francesa Claire Bannwarth a ser a primeira mulher, no segundo lugar da classificação geral.

Começou tímida, mas sem esconder que era candidata à vitória do Algarviana Ultra Trail (ALUT). Claire Bannwarth, a francesa que há pouco tempo ganhou a PT281+ Ultramarathon e deixou a comunidade de trail running incrédula, quase que repetia o feito no Algarviana Ultra Trail, este fim-de-semana. Com um quarto lugar na geral e uma vitória na classificação feminina há 15 dias numa prova de 271 km nas ilhas Canárias, Claire Bannwarth foi ganhando posições no ALUT até meio do percurso, altura em que assumiu a dianteira, na sequência da desistência do experiente Armando Teixeira, da Salomon Suunto Caravela, que dominou desde o início e foi forçado a abandonar este desafio por lesão, aos 168 km de prova.

Nessa altura, o também candidato à vitória João Oliveira, vencedor das duas primeiras edições do ALUT, continuava a acusar o desgaste, que, antes do meio do percurso, o fez ser alcançado pela francesa e ainda pelo espanhol Victor Bernal e pelos portugueses Dinis Ribeiro e Frederico Matos, este último da equipa Runners do Demo. A segunda noite de prova trouxe a reviravolta na classificação, com Dinis Ribeiro, que havia desistido na sua estreia na edição passada, aos 230 km, a imprimir um ritmo alucinante à prova, que, após a quebra de Claire Bannwarth a pouco mais de 50 km do final, assumiu a liderança e não só venceu a edição de 2022 do Algarviana Ultra Trail, como fixou o recorde do percurso que liga o Cabo de São Vicente, em Sagres, a Alcoutim, pela Via Algarviana, em 45h31m20s.

O atleta de Chaves, que representa a Associação Desportiva Mont Blue Team, foi recebido em apoteose, com a tradicional vista para Sanlúcar do Guadiana, do outro lado do rio, numa emoção partilhada por atletas e organização. Dinis Ribeiro chegou ainda com força para brincar com as dificuldades e descrever este desafio que lhe acrescentou ao palmarés uma vitória na prova mais longa que já concluiu: “Trabalhoso foi treinar, porque durante o percurso a preocupação foi desfrutar e ir gerindo. É uma pena que nem todos consigam chegar ao fim, porque é sempre a melhorar. Este tipo de provas, tão longas, devem ser geridas de trás para a frente, porque arrancar rápido faz com que o ritmo seja superior ao que se deve e acabamos por pagar por isso. Fui gerindo e quando alcancei a Claire, ela não reagiu e tentei a minha sorte.”

Claire Bannwarth, que haveria de chegar pouco mais de duas horas depois, numa prestação que lhe valeu igualmente o recorde do percurso para o lado feminino, fixando-o em 47h35m13s, explicou que efetivamente passou por uma grande quebra, marcada por fortes dores nos joelhos, que não a deixaram manter o ritmo e subir novamente ao lugar mais alto do pódio. Completamente rendida ao nosso país, a francesa confessou que adorou o percurso, a vista, as paisagens, mas principalmente as pessoas, que lhe deram toda a assistência num desafio que fez sem equipa de apoio.

“Desta vez vim sozinha, porque a minha família nem sempre me consegue acompanhar, mas é algo que não me incomoda e eles compreendem, principalmente o meu marido que começou a correr já depois de estarmos juntos [risos]”, partilhou Claire Bannwarth, no final. Perante a curiosidade de quem não está habituado a ver o setor feminino e masculino numa luta de igual para igual, a francesa de 33 anos explicou que pratica atletismo desde os oito anos, vive em frança, mas trabalha na Suíça, numa seguradora, sendo que, por vezes, vai a correr para o trabalho; e treina também bastante na Alemanha, pois vive perto da fronteira com os dois países. Sobre a preparação para estes desafios, Claire Bannwarth garantiu que o segredo é “essencialmente correr”. “Adoro correr, estou a correr a toda a hora e é essencialmente isso que faço”, concluiu.

A reviravolta na prova não haveria de ficar completa sem João Oliveira, da Chaves Run Team, usar toda a sua experiência para começar a ganhar terreno e chegar à última base de vida, em Furnazinhas, a 20 km do final, à frente de Frederico Matos, posição que manteve até ao final, terminado na segunda posição da classificação masculina, terceiro da geral, em 49h58m25s. O atleta da equipa Runners do Demo fechou o top 3 masculino, com o tempo de 50h57m51s.

Seria preciso esperar quase mais 16 horas para fechar o top 3 feminino, que, além de Claire Bannwarth, incluiu ainda Maria Ribeiro, da Sharish Gin/GD Piranhas do Alqueva, com o tempo de 61h24m57s; e Cármen Ferreira, da Run 4 Fun, que concluiu este desafio em 65h36m10s.

Antes disso, ficou fechada a classificação coletiva, com a equipa Trail Portimão a ser a grande vencedora, somando 38h26m49s; seguida pela Serro Team, que terminou em 38h46m37s; e a BeApT, na terceira posição, com o tempo de 40h02m37s.

De sublinhar ainda a participação do atleta cabo-verdiano Orlando Tavares, que alcançou a 14.ª posição da geral masculina, terminando este desafio em 62h52m14s, numa experiência que definiu como transformadora: “Não sou o mesmo a voltar a Cabo-Verde.” Foi a primeira vez que fez uma distância destas e elegeu “o cansaço” como o que mais lhe custou. “A organização nas bases de vida bem me dizia para eu descansar um pouco, mas eu ignorei e segui. Aos 301 km o motor desligou [risos] e comecei a ter alucinações. Quando voltei a mim estava com a equipa médica e eu queria desistir, mas só faltavam 4 km e, depois de falar com um grande amigo meu em Cabo-Verde, o Eliseu Fortes, renasci e terminei a prova”, contou.

Partiram de Sagres 72 atletas, dos cerca de 100 inscritos, tendo chegado a Alcoutim, dentro do tempo regulamentar de 72 horas, 33 atletas, entre os quais 6 mulheres, um recorde do número de mulheres a terminarem o ALUT; e dois totalistas, Filipe Conceição e José Gonçalves.

“Estes números revelam que são cada vez mais os atletas, nacionais e internacionais, a incluir o Algarviana Ultra Trail no seu calendário, elegendo, muitas vezes, a prova para se estrearem numa distância tão desafiante. São também cada vez mais os acompanhantes, equipas de apoio e curiosos a juntarem-se ao evento, cumprindo-se o propósito de o ALUT ser o cartão de visita para o interior do Algarve. Ano após ano o envolvimento das autarquias, juntas de freguesia, comunidades locais e patrocinadores é maior, contribuindo para a afirmação do evento no panorama do turismo desportivo e de natureza”, analisou Bruno Rodrigues, em nome da ATR, entidade organizadora do evento.

Da parte da autarquia de Alcoutim, Rosa Palma, vereadora do Desporto, confirma o sucesso do evento e a sua importância para o concelho e para a região. “Esta zona do interior do Algarve tem excelentes condições para a prática desportiva e para o desporto de natureza e um evento como este é uma ótima oportunidade de mostrarmos o que temos de melhor, não só a nível desportivo, mas também a nossa gastronomia e património. Nas últimas edições, com a chegada aqui a Alcoutim, o envolvimento é muito maior”, sublinha. Da mesma opinião é Patrícia Teixeira, que recebeu os atletas em nome da Junta de Freguesia de Alcoutim e Pereiro, acrescentado que a comunidade local valoriza bastante o evento, pela vida que dá a esta vila raiana, impulsionando a economia local. “Não há nada melhor do que dar a conhecer a freguesia e a região pela via de uma atividade, que ainda por cima é saudável”, rematou.

Os resultados completos podem ser consultados em www.alut.pt.

Artigos Relacionados

Vitor Dias
Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 67 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt

NÓS NAS REDES SOCIAIS

114,768FãsCurtir
7,752SeguidoresSeguir
1,473SeguidoresSeguir

ARTIGOS MAIS RECENTES