A introdução da palavra e do conceito de resiliência no nosso léxico, criou uma espécie de aversão à desistência e de ostracização dos desistentes.
Não é só no Desporto.
É muito além do Desporto.
O apelo constante, contínuo e crescente à resiliência conduz-nos, muitas vezes, a situações humilhantes e ridículas.
“É preciso ser resiliente!”
“O tanas!”
Se eu quero desistir, se eu acho que o melhor é desistir, porquê sujeitar-me a lutar contra moinhos de vento, a entrar em guerras perdidas, em destruir a minha sanidade mental em prol da resiliência.
Em teoria, a resiliência é uma boa qualidade para um ser humano, mas valerá a pena ser resiliente em qualquer situação e a qualquer preço? Quanto vale uma “vitória de Pirro”?
Não desistir e insistir numa corrida, pode levar-nos ao hospital, ou a um sítio bem pior. Pode criar, agravar lesões, ou torná-las irreversíveis. Pode fazer com que nunca mais possamos correr.
É bonito, após uma prova, ter uma história de superação para contar. Aliás, a corrida é isso mesmo. Mas a que preço? Até que ponto? Qual o limite?
A minha resiliência já foi louvada muitas vezes. Agradeço, mas não quero.
Quero poder desistir, em Paz.
Quero poder dizer, não dá, não vale a pena!
Quero parar quando dói, deixar fugir aquele negócio que só me consome, abdicar daquele projecto que só desgasta, deixar de insistir onde não há resultados, deixar de ser uma varejeira a atirar-me contra uma janela de vidro.
Quero que os coaches de vão de escada enfiem a resiliência no orifício mais resiliente que encontrarem.
Este site utiliza cookies para permitir uma melhor experiência por parte do utilizador. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Concorda?SIMNÃOPolítica de Cookies