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O Pascácio que não gosta de praia

O Pascácio que não gosta de praiaÉ frequente as pessoas ficarem chocadas com o que digo. Confesso que, às vezes, faço de propósito. Fosse eu um intelectual de esquerda, óculos de massa, cachimbo na mão, olhar no infinito e seria um agente provocador, um agitador de massas, uma mente inconformada. Mas, como sou o António Carlos, ligeiramente descaído para a direita, óculos de sol, telemóvel na mão, olhar de pascácio, sou apenas um “mete nojo”.

Por incrível que pareça, não são as minhas provocações premeditadas que chocam as mentes mais conservadoras. É uma frase. Uma simples e, a meu ver, inofensiva frase que provoca esgares de nojo, caras de espanto, rostos ruborizados, gritinhos de pavor:

Preparados? Agarrem-se bem:

“Eu não gosto de praia.”

Recompostos?

Por ter dito que não gosto de praia, já ouvi de tudo, incluindo chamarem-me de homossexual em vernáculo acintoso. 

Na verdade, a frase está incompleta. O que eu quero mesmo dizer é “eu não gosto de passar as férias de Verão na praia, com aquilo cheio de gente, ficar lá a torrar, de papo para o ar e a morrer de tédio,”

E a resposta que mais ouço é uma pergunta “então, o que fazes nas férias?

E a resposta está na pergunta. Faço coisas. Cenas. Encho os meus dias, aproveito para fazer aquilo que quero fazer o resto do ano e não posso. Gosto de sair a meio da manhã, pegar no carro sem destino, conhecer, aprender. Descobrir um novo restaurante, provar a gastronomia dos sítios por onde passo. Fazer uma boa sesta a seguir ao almoço, ler mais um livro, ver mais um filme. 

“Ah… mas férias são para descansar!”

Fazer praia cansa-me.

Talvez ao fim do dia, quando todos vão embora, ir relaxar até à praia, saiba bem. Aqui há anos, fiz umas férias com a Teresa em Sesimbra, nas quais íamos à praia depois das seis da tarde. Ela, que gosta tanto de praia como eu, adorava aquele momento até ao pôr-do-sol.

“Foste apanhado! Afinal gostas de praia!”

Gosto. Gosto mesmo entre o Outono e o Inverno. Sentir o mar revolto em tons cinzentos. Correr pela costa em dias frios. Gosto de levar os meus filhos até lá e soltá-los, deixá-los mandar pedras ao rio, correr e brincar sem a preocupação de estarem a incomodar alguém, sem ter que fazer uma gincana entre toalhas e guarda-sóis.

No fundo, gosto da praia quando ela é praia.

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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