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O Dress Code do Confinamento

Paulo Jorge DiasPor esta altura, já todos sabemos que a pandemia é uma guerra. Certo. Que uma guerra não se ganha sem um exército. Muito bem. E um exército precisa de quê? Armas, sim, é verdade. Mas além de armas precisa do quê? De u.. u…

– União!

Não.

– Unidade?

Não!!! Uniformes! Precisa de uniformes. Era assim tão difícil de lá chegar. Fogo! Cambada de… Adiante!

Quando se fala em uniformes, pensamos logo em farpelas vistosas, como as da Grand Armée (a francesada que nos quis invadir a mando do Napoleão, com aquelas calças de uma brancura neoblanc que se enchiam de lama mal passavam a fronteira) ou os farrapos espalhafatosos da Alemanha nazi (digam lá que aquelas gabardines em cabedal, da Gestapo, ainda hoje não metem medo ao susto?).

Claro que o fardamento militar de nada nos serve nesta guerra. Tirando aquele senhor que manda nas vacinas e que insiste em aparecer às conferências de imprensa como se estivesse prestes a dar a vida a troco de meio metro quadrado em Olivença, toda a gente na frente de combate enfrenta o vírus de bata de médico (ou enfermeiro) e fato anticontaminação que, se virem bem, também serve para ir sulfatar as vides.

Mas deixemos de lado as altas patentes e foquemo-nos em quem realmente ganha as guerras: a infantaria. A boa e velha carne para canhão, o soldado desconhecido, enfim, os zés que engrossam as fileiras e enfrentam a morte com um sorriso nos lábios e um pijama no corpo.

Isso, estão a ver como chegam lá? Os pijamas, essa autêntica pandemia que se entranhou na pele de milhares de portugueses – e de lá tão cedo não sai – e que ditou irremediavelmente as tendências para o dress code do confinamento.

Dirão que é normal, que a pessoa em casa tem mais é de estar à vontade, mas era preciso que ficassem por casa, coisa que não acontece. Os Pijameiros – assim os batizei -, era suposto serem uma unidade destinada a garantir a segurança doméstica. Mas, já se sabe, militares altamente treinados não foram feitos para ficar entre quatro paredes, por isso, não é raro ver operacionais desta força em missões de curto raio de alcance (a ir ao lixo, à padaria, ao quiosque, ao multibanco).

E depois há os outros, os Rambos do poliéster, que ousam embrenhar-se em território inimigo, envergando pouco mais do que o uniforme fofinho da Primark, umas sapatilhas e talvez um casaco de capucho ou um polarzinho. São, por natureza, furtivos, mas há relatos de avistamentos bem próximos da frente de batalha: supermercados, bancos, oficinas de mecânicos.

São uma espécie de Team Six, dos Navy Seals, em versão caseira, mas não estão sozinhos. Há também os Fatodetreinistas, que fazendo jus ao nome patrulham os corredores de casa e, por vezes, as ruas em volta do quartel cobertos apenas pelos seus discretos Nike ou Adidas, essa versão pandémica do camuflado da tropa.

E os temíveis Pantufeiros, Rangers do chão sagrado, capazes de esganar com uma meia-pantufa todo aquele que invadir o perímetro doméstico usando o calçado da andar na rua, essa autêntica arma biológica portadora de todos os vírus do mundo. A pantufa é a sua bota da tropa e vão nelas para todo o lado, incluindo, – ups! – para a rua, onde se fazem adivinhar pelo sinistro som de “sap, sap”, que é o equivalente ao barulho que os tropas fazem a marchar.

São estes os heróis da retaguarda e é deles que depende a vitória. Se os virem cá fora não se aproximem. Mesmo que eles não sejam treinados para vos matar com as próprias mãos, é gente que anda na rua em pijama. E, caramba, algum de vocês já viu uma pessoa em pijama e com roupa interior por baixo? Não, pois não? Portanto, distância. Distância.

Paulo Jorge Dias

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Paulo Jorge Dias
Paulo Jorge Dias
Escritor e jornalista, foi autor da Trombeta de Casal da Burra, um dos primeiros sites de humor em Portugal (2000). Trabalhou no Público, JN e SOL. Site oficial: Site Oficial:

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