Este ano, este ano… Está a ser um ano duro, difícil… Morreu tanta gente famosa, tanta gente boa, tanta gente jovem com um futuro brilhante pela frente…
Tenho uma novidade: foi este ano, como no ano passado, e no anterior, e no anterior ao anterior…
Todos os anos são sempre o pior ano das nossas vidas.
Este ano houve o COVID, mas os lamentos são (quase) os mesmos de 2019, 2018, 2017 e por aí fora, até às brumas da memória, no tempo em que o Tempo não era contado.
É certinho. Sempre que morre alguém famoso, ou próximo de nós, lá vem o “este ano está mesmo a ser difícil”, ou a já tradicional “que este ano acabe depressa”… e outros queixumes, mais ou menos fatalistas.
Acontece desde sempre, seja qual fora a pandemia, catástrofe natural, ou tragédia em curso.
Lembram-se do que disseram quando morreu o Angélico, ou o Bowie, ou o Prince? “Que ano maldito…”
E nos incêndios de Pedrógão? “O ano ainda não chegou a meio e já é um ano muito triste…”
Perante a dor, o sofrimento, acontecimentos extraordinariamente negativos, o povo olha para o calendário e, por um motivo que não consigo compreender, acredita que, ao passarmos de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro a magia acontece e, no ano seguinte, não morre ninguém, não há furacões e tornados, acidentes nas estradas, ou outras calamidades.
A 31 de Dezembro, os famosos bebem um espumante mágico que os torna eternos, as doenças são erradicadas de todo o planeta ao saltarmos de uma cadeira e acaba a fome em África, graças a doze passas que se multiplicam milagrosamente.
Às Doze Badaladas, levamos com aquele raio dos MIB e esquecemos a saudade dos que partiram, mesmo que o funeral tenha sido no dia anterior.
Tenho outra novidade: daqui a um ano, aconteça o que acontecer ao longo de 2021, este texto continuará actual. Porque o Tempo é uma variável contínua e não pára. Um ano, pode ser contado de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro, ou de 23 de Abril a 22 de Abril.
Para vos estragar a festa da Passagem de Ano, informo desde já que, em 2021 vai continuar a morrer gente boa, gente muito próxima de nós, gente famosa. Vai haver gente a partir cedo de mais e acidentes estúpidos nas estradas. A Natureza vai continuar a pregar-nos partidas.
O COVID poderá ser controlado, poderemos recuperar um bocadinho da nossa liberdade, mas continuará a haver cancro, SIDA, grandessíssimas hepatites e, com um bocadinho de sorte, teremos doenças novas.
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